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Pedro Maciel

Advogado, sócio da Maciel Neto Advocacia, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007

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Coisas simples, ou simplesmente maravilhosas?

O cotidiano, quando vivido com alma grande, revela encontros, gerações e relações que transformam uma tarde comum em algo simplesmente maravilhoso

No último sábado Celinha e eu fomos assistir ao show de natal oferecido às famílias da Hípica, parabéns ao presidente do clube, o engenheiro Eduardo Coelho, cujo nome está, de forma indelével, no meu diploma de graduação, pois, ele era o reitor da PUCC quando me graduei em ciências jurídicas e sociais em 1986.

O dia estava azul e quente, mas sempre vale a pena encontrar meus filhos, suas esposas e minhas netas, cada vez mais cheias de surpresas; depois de participarem de uma oficina de artes, passamos todos ao auditório do salão, muito bem decorado, para esperar o show.

É muito bom ser avô, especialmente porque me disponho a observar Isabela e Clarice, elas aprendem novas palavras, frases e movimentos impressionantes (são saltos, passos de balé, corridas vitoriosas), sempre nos presenteiam com sorrisos desconcertantes.

E, tão emocionante quanto observar, discreto, as minhas netas no início dos voos que elas próprias escolherão, é receber o carinho dos amigos dos meus filhos, hoje casados e muitos deles já pais.

Foi muito bom, por exemplo, receber o abraço do Renê, irmão do Raul, filhos do meu amigo Ruyzinho e neto do grande Ruy de Almeida Barbosa, deputado estadual e amigo do nosso inesquecível prefeito Chico Amaral, a quem devo tanto.  

O Renê aproximou-se com seu filhinho no colo, me chamou de “tio”, o que movimentou o meu coração, me deu um beijo cheio de afeto genuíno; trocamos algumas breves impressões sobre histórias que eu testemunhei e ele seguiu.

Mal sentei e a Maristela - casada com o meu amigo Beto Nobrega - filha da Dona Leda e do Professor Kachan (minha colega de turma e ele nosso professor) -, se aproximou com sua filha, e mãe do Gonçalo, o melhor amigo da minha neta Isabela; vejam que deliciosa coincidência: minha netinha e o netinho do Beto e da Maristela e bisneto da Dona Leda, se encontram no NOTRE DAME; esses encontros afetivos seguem unindo as nossas famílias, nas ultimas quase cinco décadas.

Boas as coincidências.

De onde eu estava sentado pude observar os netinhos dos meus primos Paula Siqueira e Tio Porto, sendo cuidados pela mãe Andrea, pelo pai Caio Pupo Nogueira; outra coincidência boa, pois, tenho todos da família Pupo Nogueira como extensão da minha própria família e muitos dos filhos do Beto, do Pedro, do Mauricio e do Marcelo me chamam de “tio”.

Há ainda o Braga, sempre educado e cordial, casado com a Isabela, irmã da Vivi, coleguinha do Caio no NOTRE DAME e cunhado do Caio Corchetti; o Caio é filho da Adriana e do Roberto; a Adriana, que, além de minha colega de turma, é filha do Chico Amaral e da Dona Marilia, que foi aluna do meu avô Hildebrando em Amparo; e o Roberto Corchetti foi meu colega no secretariado do Chico.

Eu poderia citar, pelo menos, uma dúzia de exemplos, mas esses bastam para dizer que a vida é uma aventura breve, por isso a caminhada exige que busquemos, fundamentalmente, relações desinteressadas e afetivas; o que vivi ontem na Hípica, ao reencontrar tantos amigos e amigas, representa que é possível que eu tenha acertado um pouco.

Depois do show, que contou com dançarinos e dançarinas, muita cor e bolinhas de sabão que fizeram a felicidade das crianças de todas as idades, fomos almoçar no Catetinho, o mais tradicional restaurante do clube.

Frequento a HIPICA praticamente a minha vida toda, incialmente como convidado do meu tio Pedro Tedeschi, o “maior artilheiro da Hípica de todos os tempos”, e, nas últimas três décadas e meia, como sócio, talvez por isso eu ame tanto o clube e todas as pessoas com quem convivi e convivo, independentemente do que pensamos sobre qualquer assunto.

Já no Catetinho encontramos o Flavinho Biglia - um dos mais competentes advogados da minha geração, especialista em Direito Econômico pela Unicamp, mas, de fato, o que o qualifica é ter sido meu calouro na PUCC.

O Flavinho, todo orgulhoso e sorridente, me apresentou sua filha, que estudou e viveu em Praga; falamos rapidamente do Franz Kafka, escritor e boêmio, como deve ser bom ser boêmio... Ela mostrou-se animada com a referência ao Kafka, então confidenciei a ela que quando estive em Praga procurei visitar os diversos bares que o autor de “Metamorfose” e de “o Processo” frequentara, experimentei até absinto, ela riu. Mesmo que não nos frequentemos, fica evidente, todas as vezes que nos encontramos, que há afeto desinteressado na nossa relação.

Fato é que a vida é uma aventura maravilhosa, mas muito rápida, razão pela qual precisamos semear e cultivar boas relações, não todas as relações, nem qualquer relação, mas as boas relações.

Mas o que são “boas relações”?

Bem, elas não devem estar fundadas no interesse, mas na convivência afetiva e desinteressada.

Talvez a frase “Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena” nos dê uma boa pista do bom caminho.

A frase, uma das mais famosas atribuídas a Fernando Pessoa, pode significar a certeza de que todos são merecedores de esforço e sacrifício, desde que a própria alma enraíze e se nutra da nobreza, que é própria das almas grandes. Almas que pautam para encontrar e desenvolver em si (e através de si) o melhor da humanidade e da vida, ambicionando grandes horizontes, não só fora de si, mas também – e sobretudo – dentro. 

Vejam só, quanto uma festa simples, ou simplesmente maravilhosa, despertou em mim e deve ter despertado em tantos que lá estavam.

Essas são as reflexões da semana.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.