Coletiva da Lava Jato foi espetáculo deprimente

Em novo artigo, Paulo Moreira Leite, diretor do 247 em Brasília, critica o discurso do procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato, de que o Ministério Público Federal tem o "sonho" e o "compromisso" de que todos sejam tratados de forma igual perante à lei e acredita que a investigação é um "soluço de esperança"; "O combate permanente à corrupção é uma necessidade no mundo inteiro. Mas não pode ser mais importante do que a defesa das garantias e direitos fundamentais que separam os homens dos animais", rebate PML; citando diversas "questões incômodas" da operação, como "escutas ilegais" e "alvos selecionados politicamente", o jornalista questiona: "Para onde vamos? Isso é sonho? Qual compromisso?"

Em novo artigo, Paulo Moreira Leite, diretor do 247 em Brasília, critica o discurso do procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato, de que o Ministério Público Federal tem o "sonho" e o "compromisso" de que todos sejam tratados de forma igual perante à lei e acredita que a investigação é um "soluço de esperança"; "O combate permanente à corrupção é uma necessidade no mundo inteiro. Mas não pode ser mais importante do que a defesa das garantias e direitos fundamentais que separam os homens dos animais", rebate PML; citando diversas "questões incômodas" da operação, como "escutas ilegais" e "alvos selecionados politicamente", o jornalista questiona: "Para onde vamos? Isso é sonho? Qual compromisso?"
Em novo artigo, Paulo Moreira Leite, diretor do 247 em Brasília, critica o discurso do procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato, de que o Ministério Público Federal tem o "sonho" e o "compromisso" de que todos sejam tratados de forma igual perante à lei e acredita que a investigação é um "soluço de esperança"; "O combate permanente à corrupção é uma necessidade no mundo inteiro. Mas não pode ser mais importante do que a defesa das garantias e direitos fundamentais que separam os homens dos animais", rebate PML; citando diversas "questões incômodas" da operação, como "escutas ilegais" e "alvos selecionados politicamente", o jornalista questiona: "Para onde vamos? Isso é sonho? Qual compromisso?" (Foto: Paulo Moreira Leite)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 na comunidade 247 no WhatsApp e siga o canal do Brasil 247 no WhatsApp.

Confesso que achei a entrevista coletiva do Ministério Público sobre a Lava Jato, em Curitiba, um espetáculo deprimente.

Esqueça os números, os milhões e os bilhões que, divulgados em cima da hora, ninguém é capaz de digerir, questionar e compreender em poucos minutos.

Esqueça os roteiros exibidos através de gráficos coloridos, como se fossem descobertas de caráter científico.

Ao contrário do que parece, o que importa são as palavras. Num ambiente à meia-luz, powerpoint, o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa encarregada das investigações, nos informou que os procuradores acreditam que seu trabalho representa um "soluço de esperança." 

continua após o anúncio

Disse também que a força-tarefa está comprometida com "um compromisso, um sonho." Uma comentarista da Globonews chegou a elogiar o que ouviu.

"Soluço"? "Sonho?"

continua após o anúncio

Compromisso com o quê?

O advogado Tecio Lins e Silva, um dos grandes juristas do país, comparou o evento de ontem a uma entrevista de 1981, quando um coronel do Exército tentou convencer os brasileiros que o atentado a bomba do Rio Centro fora obra de um grupo de esquerda -- quando já era evidente que seus autores eram um capitão do Exército e um sargento, personagens do aparato repressivo empenhado em impedir a democratização do país. Tecio Lins e Silva foi contratado por um dos empreiteiros da Lava Jato. Estaria cometendo pura retórica de advogado?

continua após o anúncio

Não creio. Em entrevista ao Espaço Público, que será reprisada amanhã a partir das 23 horas na TV Brasil, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), liderança do Congresso reconhecida por todos os governos de Fernando Henrique Cardoso para cá, define a Lava Jato como "uma bomba do Rio Centro no colo do governo. A diferença é que a bomba do Rio Centro explodiu só uma vez. Agora, é toda semana."

Pelo orçamento de 2016, o Ministério Público terá direito a consumir R$ 4,9 bilhões por ano -- um trimestre de lucro da Petrobras dos bons tempos -- para garantir defesa "da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis", conforme diz a Constituição. Essa é sua tarefa: defender a ordem jurídica e o regime democrático.

continua após o anúncio

Fora das noites de sono, do divã da psicanálise e dos programas de auditório, os sonhos e as esperanças pertencem ao universo da política.

É ali, através do debate, do confronto de ideias e projetos, que um povo define seu destino -- em escolhas democráticas, em urnas. Essa é a grande conquista da história do Brasil e dos brasileiros, a vitória pétrea, que não pode ser colocada em risco sob nenhum argumento. 

continua após o anúncio

O combate permanente à corrupção é uma necessidade no mundo inteiro. Faz parte da luta cotidiana de governos, que ganham e perdem nesse esforço. Reforça a lealdade entre os cidadãos e impede desvios e abusos que prejudicam a maioria da população e subordinam a democracia.

Mas não pode ser mais importante do que a defesa das garantias e direitos fundamentais que separam os homens dos animais, como, há exatamente 80 anos, ensinava mestre Sobral Pinto.

continua após o anúncio

Quando une os jornais, Ministério Público, polícia e Justiça, a luta contra a corrupção torna-se um movimento autoritário e, até certo ponto, irresistível.

Isso porque se articula, numa mesma direção, a autoridade que pede a prisão, aquela que autoriza e aquela que executa. Sem falar nos jornais e revistas que evitarão questões incômodas, que, no Brasil de 2015, já alcançam um número considerável: escutas ilegais; alvos selecionados politicamente, prisões preventivas sem respeito pelo direito a presunção da inocência; e, agora, a comprovação de que delações premiadas podem ser refeitas sem perder a validade. É o "submundo da Lava Jato, que os grandes jornais, de modo geral, não querem trabalhar", afirma Paulo Vannuchi, que foi Secretário de Direitos Humanos no governo Lula.

continua após o anúncio

Deltan Dallagnol já sugeriu que, no combate à corrupção, o Brasil adotasse o modelo de Hong Kong -- ilha que é uma colônia do Partido Comunista Chinês, próspera e autoritária, onde a população sequer tem direito a escolher seus governantes. Para Carlos Fernando de Santos Lima, procurador que um repórter da Folha descreveu como "ideólogo" da Lava Jato, a operação deve se prosseguir por muito tempo ainda, até que seja possível "refundar nossa República."

Para onde vamos? Isso é sonho? Qual compromisso?

Há menos de dez anos, a prisão de um empresário acusado de corrupção levou autoridades da época a gabar-se que a "justiça valia para todos e que banqueiros também são presos no Brasil". O discurso fez eco na cerimônia à meia-luz de Curitiba, onde se disse que a Lava Jato era uma "homenagem à igualdade."

Naquele momento, ao mandar abrir a porta da prisão, um ministro do Supremo, Eros Grau, produziu um argumento histórico: 

 -- Pior do que a ditadura das fardas é a das togas, pelo crédito de que dispõe na sociedade.

Esta é a questão.

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

O conhecimento liberta. Quero ser membro. Siga-nos no Telegram.

A você que chegou até aqui, agradecemos muito por valorizar nosso conteúdo. Ao contrário da mídia corporativa, o Brasil 247 e a TV 247 se financiam por meio da sua própria comunidade de leitores e telespectadores. Você pode apoiar a TV 247 e o site Brasil 247 de diversas formas. Veja como em brasil247.com/apoio

Apoie o 247

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247