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Igor Fuser

Professor de relações internacionais na Universidade Federal do ABC (UFABC)

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Com Haddad em alta, eleição se torna um plebiscito

"A polarização entre Haddad e Bolsonaro já se faz presente no primeiro turno, desenhando a eleição em linhas plebiscitárias. A grande escolha sobre os rumos do país deverá ser antecipada, ainda que a multiplicidade de candidatos venha adiar a definição do resultado para o segundo turno", diz o colunista do 247 Igor Fuser; "Sim, a eleição se torna a cada dia mais parecida com um plebiscito em que os brasileiros e brasileiras escolherão entre dois caminhos opostos, duas visões de mundo claramente antagônicas", completa

Com Haddad em alta, eleição se torna um plebiscito
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É incrível. Passados 23 anos da "redemocratização" do país, voltam a aparecer no campo progressista discursos de menosprezo ao voto popular como instrumento na luta da classe trabalhadora. Ressurge, em certos espaços, um debate que parecia superado desde que, em pleno regime militar, o campo democrático deixou de lado o voto nulo pela tática – ao final, bem sucedida – de utilizar os mecanismos eleitorais da ditadura para melhor combatê-la.

Em sua versão presente, o discurso antieleitoral argumenta que a "verdadeira" luta pela emancipação social é a que ocorre por meio de greves, protestos nas ruas, bloqueios, ocupações. As eleições são encaradas com desdém, por terem como foco as instituições do sistema vigente.

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Mais do que revisar essa velha polêmica, importa aqui salientar a importância das atuais eleições e entender o significado da candidatura de Fernando Haddad.

No Brasil, assim como na maioria dos países, as eleições são o momento mais importante da vida pública – aquele momento em que o conjunto da sociedade é interpelado a pensar e a discutir a política, e a tomar posição diante das questões do poder.

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Desprezar o exercício do voto em nome de uma ideia de suposta "superioridade" de outras formas ou espaços da política é sintoma de ultra-esquerdismo juvenil, além de ser um absurdo. Como é possível imaginar que a participação nas eleições implica em renunciar às greves, às manifestações, à luta de ideias no cotidiano e às variadas formas de ação direta?

No atual contexto brasileiro, será um gravíssimo erro minimizar o momento eleitoral que se aproxima, só por que ele ocorrerá em um cenário distante dos nossos desejos, no quadro doloroso do golpismo que se instaurou no nosso país.

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Política se faz no mundo real, que nunca é o que gostaríamos que fosse, especialmente no caso daqueles, entre nós, cuja ação política é movida pelo inconformismo perante as injustiças.

É muito fácil culpar atores específicos pelas dificuldades da conjuntura – a cúpula conciliadora do PT, os burocratas dos sindicatos. Essas análises, além de sua indisfarçável falta de autocrítica, pecam por desconsiderar a conduta do inimigo, a força descomunal da burguesia, a inércia do status quo, a presença avassaladora da ideologia capitalista e os múltiplos aparatos à disposição das classes dominantes, nos planos econômico, midiático, jurídico e cultural.

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No momento presente, com o rápido crescimento da candidatura de Haddad após assumir como substituto na chapa encabeçada por Lula, a campanha eleitoral parece caminhar para uma situação plebiscitária.

Sim, a eleição se torna a cada dia mais parecida com um plebiscito em que os brasileiros e brasileiras escolherão entre dois caminhos opostos, duas visões de mundo claramente antagônicas.

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De um lado, tudo o que representa o progresso social – as políticas públicas em favor das classes desprivilegiadas, a busca de maior igualdade social, a defesa da soberania nacional e dos direitos trabalhistas, a prática da democracia política, a retomada de um desenvolvimento econômico que traga benefícios para a maioria, a superação do racismo, do machismo e de todos os preconceitos. Dos três candidatos presidenciais que se identificam com essa agenda progressista – Haddad, Ciro Gomes e Guilherme Boulos, ou seja, o campo da esquerda – o primeiro é o que, conforme as pesquisas estão demonstrando, reúne maiores chances de vitória.

No lado oposto estão os candidatos vinculados às forças políticas que se aliaram para depor ilegalmente a presidenta Dilma Rousseff e que permanecem juntas no infame projeto de retrocesso político, econômico e social que marca o desgoverno Temer. O campo da direita combina o neoliberalismo em sua versão mais extrema ao desprezo pela democracia e pela legalidade.

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Nesse lado, o lado das trevas, destaca-se um candidato de nítidas inclinações fascistas, porta-voz de tudo o quanto existe de atrasado, truculento, cínico e mesquinho em toda a sociedade brasileira. Ao expor sem qualquer traço de vergonha ou inibição o universo mental indecente das classes dominantes, Jair Bolsonaro deixou para trás todos os seus concorrentes direitistas, engolindo nomes tradicionais como Geraldo Alckmin e Marina Silva, e se consolida com um candidato competitivo.

A polarização entre Haddad e Bolsonaro já se faz presente no primeiro turno, desenhando a eleição em linhas plebiscitárias. A grande escolha sobre os rumos do país deverá ser antecipada, ainda que a multiplicidade de candidatos venha adiar a definição do resultado para o segundo turno.

Caso seja eleito, Haddad terá de governar em condições duríssimas. Mas esse será, sem dúvida, o desenlace eleitoral mais favorável à defesa da democracia e à luta do povo brasileiro por seus direitos.

Uma vitória de Haddad significará uma mudança qualitativa na correlação de forças na sociedade brasileira, por ao menos três motivos:

1) O golpe e o retrocesso do pós-2016 terão sido repudiados pela vontade popular, em vez de saírem legitimados pela eleição, como pretende a burguesia;

2) o Poder Executivo, em nível federal, estará nas mãos de forças progressistas, o que criará condições institucionais e políticas mais favoráveis para conter e, em alguma medida, reverter o tsunami neoliberal e as demais expressões da guinada direitista em curso;

3) o clima de derrotismo e desânimo no campo democrático-popular será trocado por um ambiente psicológico de entusiasmo e confiança na vitória.

Nesse cenário, o de Haddad presidente, o nosso desafio, e o do governante que elegeremos como o apoio decisivo de Lula, será algo grandioso, fascinante, um desafio que vai definir o destino do Brasil pelas próximas décadas.

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