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Pedro Simonard

Antropólogo, documentarista, professor universitário e pesquisador

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Com o “Estamos juntos”, PSDB e golpistas buscam recuperar protagonismo

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No domingo, 31 de maio, a mídia divulgou dois manifestos conclamando à luta em defesa da democracia. O “Basta!”, um manifesto assinado por 710 “profissionais de direito” em defesa da democracia, e o “Estamos juntos”, que mais parece uma ficha de filiação do PSDB. É um manifesto que reúne intelectuais, artistas e políticos. Entre as ausências mais sentidas neste segundo manifesto os três políticos mais em evidência no Brasil contemporâneo Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Vana Rousseff e Ciro Ferreira Gomes. Estas ausências já indicam claramente quais as intenções que estão por trás do “Estamos juntos”.

Há uma marcante presença da equipe econômica responsável pela implementação do programa de privatização e desmonte da indústria nacional, colocado em prática pelo governo entreguista e submisso do Fernando Henrique Cardoso. Além do próprio FHC, assinam o “Estamos juntos” André Lara Resende, um dos criadores do Plano Real e presidente do BNDES durante o governo FHC, e Elena Landau, diretora de privatizações do BNDES no governo FHC, responsável pela venda de ativos do povo brasileiro a preços muito abaixo dos praticados pelo mercado. Cláudia Costin, também ligada a governos tucanos, é outra assinante do manifesto. 

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Ligados ou próximo ao tucanato, assinaram o manifesto o historiador Boris Fausto e o eterno garoto propaganda do partido e quase futuro-ex-candidato Luciano Huck.

Golpistas de primeira hora como Lobão, Reinaldo Azevedo, Roberto Freire, Cristovam Buarque de Hollanda, Demétrio Magnoli e Marcelo Tass também assinam, alguns deles arrependidos do apoio dado a Bolsonaro, além da falsa esquerdista Tábata Amaral. Entre as assinaturas consta também a da cientista política Ilona Szabó, amiga de Sérgio Moro, diretora executiva do Instituto Igarapé que tem entre seus financiadores o megaespeculador George Soros.

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Para dar uma aura de legitimidade ao manifesto tucano, alguns políticos de esquerda também o assinam. O tucano vermelho Fernando Haddad, única figura de destaque do PT neste manifesto, o ex-comunista Flávio Dino, os equivocados Jean Willys, Márcia Tiburi, ex-candidata ao governo do estado do Rio de Janeiro pelo PT, a ex-candidata a vice-presidenta na chapa com Fernando Haddad, Manuela D’Avilla e o ex-Ministro da Educação do governo Dilma Rousseff, Renato Janine Ribeiro.

Enquanto o PT está quase ausente deste manifesto, figuras proeminentes do PSOL lhe dão apoio: Marcelo Freixo, Luiza Erundina e Vladimir Safatle. A presença de Freixo não surpreende, afinal de contas o deputado federal pelo Rio de Janeiro tem assumido posições cada vez mais de centro e pouco combativas contra o fascismo, preferindo escrever e apoiar manifestos e notas de repúdio. Safatle, ao contrário, sempre radical em suas colunas, surpreende negativamente nesta aliança com os golpistas, bem como a deputada federal Luiza Erundina.

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A esquerda sempre cobra uma autocrítica de Lula e Dilma, com as quais eu concordo, mas não cobra o mesmo, pelo menos não com a mesma força e perseverança, de nenhuma liderança de centro-direita pelo apoio dado ao golpe de estado de 2016 e ainda se junta à centro-direita em um manifesto que, acima de tudo, visa reposicionar o PSDB no jogo politico e trazer suas figuras carcomidas para o protagonismo no combate político, esquecendo-se do papel que estas mesmas lideranças carcomidas desempenharam na ascensão do fascismo miliciano-fundamentalista-militar encarnado por Jair Bolsonaro. 

Os setores pequeno-burgueses moralistas de centro-direita sempre colocaram-se do lado errado da história, contra o povo brasileiro e nunca fizeram nenhuma autocrítica. Com sua atitude de tropa de choque das oligarquias brasileiras, são diretamente responsáveis pelo atraso econômico e social que emperra a construção de uma sociedade justa e inclusiva no Brasil. Em períodos de tempo que variam entre nove e 25 anos apoiam golpes de estado contra os interesses populares, tendo como motivo principal o combate à corrupção, embora os que assumam após os golpes sejam sempre os setores mais corruptos da sociedade brasileira: apoiam a derrubada dos honestos e a consequente ascensão dos  corruptos em seu lugar. Foi assim em 1945, em 1954, em 1964 e em 2016. Se não forem cobrados para se posicionarem contra o golpe de 2016, daqui há uns 15 ou 25 anos apoiarão mais um golpe de estado. Se colocam sempre acima do bem e do mal. Apesar disso, sempre conseguem atrair setores da esquerda moralista pequeno-burguesa para suas aventuras de redemocratização que, no fundo, sob o controle das oligarquias, mudam tudo para deixar tudo como está. Sempre sem protagonizarem uma autocrítica pública.

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Alianças políticas se fazem em torno de programas, objetivos e não em torno de nomes. Como foi/está sendo negociada esta aliança? Visa derrubar Bolsonaro e seu programa neoliberal que está destruindo a economia, a cultura e a sociedade brasileiras ou visa derrubá-lo e substitui-lo pelo general Hamilton Mourão que manterá Paulo Guedes e sua gang no controle da economia do Brasil? 

O manifesto foi publicado nos principais órgãos da imprensa corporativa o que, por si só, expõe a miopia dessas figuras de esquerda. Ao assinarem este manifesto, não só se colocam ao lado daqueles que legitimam a dominação da burguesia rentista imperialista e do agronegócio exportador, como também apoiam esta mídia corporativa que desinforma, mente, distorce e defende a política econômica executada pela equipe de Paulo Guedes.

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O manifesto começa afirmando que aqueles que o assinam defendem “a vida, a liberdade e a democracia”. Mais adiante solicita que todos abandonem seus projetos individuais de poder “em favor de um projeto comum de país”. Que projeto seria este? Pela grande presença tucana entre os assinantes do manifesto deve ser um projeto de desnacionalização e desindustrialização, de submissão ao imperialismo, um projeto neocolonial de subordinação do povo brasileiro àqueles que controlam o país há muito tempo, interna e externamente.

Prossegue afirmando tratar-se de uma frente suprapartidária “que valoriza a política”. Senti falta da expressão “sem bandeiras” que poderia completar a palavra suprapartidária. Faz alusão ao movimento Diretas Já. Não podemos nos esquecer que o movimento Diretas Já resultou em uma democracia que alijou o povo do poder e fez muito pouco pelo povo negro, pelos camponeses, pelos povos tradicionais e o pouco que foi feito, foi rapidamente desfeito pelo golpe de 2016. Esta democracia excludente resultante do movimento Diretas Já se deu muito pelo fato de que a frente suprapartidária que se reuniu no movimento Diretas Já, em nenhum momento discutiu um projeto de país autônomo e popular que substituísse os 21 anos de ditadura. Colocou o que deveria ser o começo de um projeto político-social, a volta de eleições diretas para escolher o presidente da república, como objetivo final. Não definiu qual seria o papel dos militares na democracia, nem elaborou uma política agrária e fundiária que incluísse camponeses e as populações tradicionais como cidadãos com plenos direitos. Não discutiu o combate ao racismo, nem um projeto educacional consistente que levasse à revolução do ensino médio. Não estabeleceu metas para se alcançar a revolução sanitária. Como consequência desta frente suprapartidária sem projeto de país, grandes parcelas do povo brasileiro não têm acesso a saneamento básico e moradias dignas, não tem acesso a um ensino e uma saúde pública universais e de qualidade ainda hoje.

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Juntar-se com o centro em uma frente contra o fascismo sem exigir que este faça uma autocrática pública sobre sua atuação no golpe de 2016 e sem discutir os objetivos claros do pós-derrubada do fascismo é mais do mesmo, é repetir os mesmos erros históricos cometidos ao longa da história da República. A esquerda e o centro democrático já deveriam ter aprendido esta lição. A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa. Ou como diz um célebre dito popular, errar é humano, persistir no erro é burrice.

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