Com o expansionismo sem freios do Congresso, em breve o voto para presidente da República será irrelevante
Aumento paulatino de poder do Parlamento sobre as prerrogativas do Executivo somado ao aumento de cadeiras são maus sinais para democracia, diz Aquiles Lins
O Brasil assiste, quase em silêncio, a um processo acelerado de expansão do poder do Congresso Nacional. Em meio à multiplicação de emendas parlamentares, investidas sobre o Judiciário, e agora a aprovação do aumento de cadeiras na Câmara de 513 para 531, o Legislativo tem avançado para além de suas funções constitucionais, desenhando um cenário de desequilíbrio entre os Poderes da República. A pergunta que paira no ar é direta: quem vai conter o avanço do Parlamento?
A consolidação do chamado “orçamento secreto” — ainda que rebatizado — deu ao Congresso um poder sem precedentes sobre a execução de recursos públicos. Deputados e senadores passaram a operar como gestores de verbas bilionárias - para 2025 terão R$50,4 bilhões à disposição, invertendo a lógica do presidencialismo: em vez de propor políticas públicas, o Executivo tem atuado, muitas vezes, como mero repassador de recursos definidos por interesses regionais e políticos. Essa inversão ameaça transformar o presidente da República em uma figura decorativa.
Agora, com a proposta de ampliar o número de parlamentares na Câmara dos Deputados e a pressão por maior interferência sobre o Supremo Tribunal Federal, o expansionismo legislativo mostra que não se trata apenas de orçamento — é uma ambição por hegemonia. Cresce o número de iniciativas que tentam limitar decisões do STF, interferir na nomeação de ministros e até alterar o funcionamento do sistema de freios e contrapesos.
Essa movimentação, ao contrário do que possa parecer, não é meramente institucional. É também uma disputa pelo controle simbólico e prático do Estado. Ao se fortalecer nas sombras de um presidencialismo enfraquecido, o Parlamento avança sem um debate amplo com a sociedade. O resultado é um jogo de forças desbalanceado, em que a população é espectadora de um processo que redefine, sem autorização, o sistema político brasileiro.
Diante disso, o que o povo pode fazer? A resposta passa pela mobilização democrática e pela exigência de transparência e limites. O fortalecimento da cidadania, o acompanhamento das ações do Legislativo e a pressão por reformas que assegurem a separação e o equilíbrio entre os Poderes são passos urgentes. Caso contrário, o risco é ver o Brasil se consolidar como uma democracia disfuncional, onde o Congresso governa sem governabilidade e o Executivo governa sem poder.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

