Com sensibilidade rara, Eliete Negreiros constrói obra obrigatória sobre gigantes do samba
Cavaquinho, Cartola e Cachaça são retratados no seu fazer cultural e poético por uma pesquisadora aplicada e autora sensível
A leitura das 210 páginas do livro "Nelson Cavaquinho & Cartola & Carlos Cachaça -- Caminho da Existência", que acaba de ser lançado pelas Edições Sesc, permite acesso à delicadeza de uma autora que conhece o vigor poético de três mestres-fundadores do samba, esse tesouro cultural que saiu dos morros do Rio de Janeiro para alimentar um dos mais animados e ricos movimentos musicais do país.
Protagonistas de um grupo de pioneiros que ajudou brasileiros e brasileiras a pensar as dores e alegrias de seu país, com base em melodias originais, versos belos e permanente animação, Cavaquinho, Cartola e Cachaça são retratados no seu fazer cultural e poético por uma pesquisadora aplicada e autora sensível.
Com a formação teórica (e sem uma sombra de pedantismo) de quem construiu a própria carreira musical enquanto estudava Filosofia na USP da década de 1970, num ambiente ativado por um movimento estudantil particularmente ativo e mestres como Marilena Chauí -- que combinava o rigor erudito a um pensamento libertário sem concessões -- Eliete fez uma obra agradável de ler e muito instrutiva para a reflexão cultural em qualquer época, inclusive no país de hoje.
Mestres únicos de uma cultura de resistência que jamais abandonou compromissos com a beleza de seus versos e a animação de seu ritmo, Cartola, Cachaça e Cavaquinho são apresentados entre as dores e alegrias de um Brasil que aprendia a enfrentar um dos momentos mais difíceis de sua história sem perder a consciência nem a alegria de celebrar os bons momentos da existência.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
