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Lúcia Helena Issa

Jornalista, escritora e ativista pela paz. Foi colaboradora da Folha de S.Paulo em Roma. Autora do livro "Quando amanhece na Sicília". Pós- graduada em Linguagem, Simbologia e Semiótica pela Universidade de Roma e embaixadora da Paz por uma organização internacional. Atualmente, vive entre o Rio de Janeiro e o Oriente Médio.

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Como jornalista e árabe-brasileira, expresso minha solidariedade ao professor judeu- brasileiro Michel Gherman

Quando o professor Michel Gherman faz uma comparação do bolsonarismo com o nazismo, chamando os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro de nazistas, fez comparações históricas, irrefutáveis

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Por Lúcia Helena Issa

O Brasil mergulha cada vez mais numa longa noite de ódio e intolerância, cuja data de término ou possibilidade de se transformar em um amanhecer de esperanças ainda não conhecemos.  

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Recentemente, aconteceu mais um episódio de intolerância e de tentativas de silenciar qualquer crítica à comunidade judaica no Rio de Janeiro.

O professor Michel Gherman, um conhecido e respeitado docente na cidade, é o coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos (NIEJ) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, doutor em História social pela UFRJ e Mestre em Antropologia e Sociologia pela Hebrew University de Jerusalém, além de ser também de origem judaica. 

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O professor brasileiro tem feito comparações fundamentadas entre o bolsonarismo no Brasil e o nazismo na Alemanha. 

Comparações que eu também tenho feito há alguns anos em dezenas de artigos meus sobre a Berlim de 1933 e o Rio de Janeiro de 2018 ou 2021. 

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Existe uma flagrante semelhança entre o discurso de Hitler e o discurso de Bolsonaro no Clube Hebraica no Rio de Janeiro, aplaudido por centenas de judeus de extrema- direita, afirmando que “as minorias ou se adequam ou desaparecem”, afirmando na mesma noite que esteve em um Quilombo brasileiro e que o quilombola mais leve pesava mais de três arrobas (medida usada para pesar animais e não seres humanos) e que em seu governo não haveria um centímetro de terra demarcada para “indígenas preguiçosos”.

Sim, os judeus brasileiros que ainda apoiam Bolsonaro são os mesmos que apoiaram o presidente mesmo quando ele escolheu como Secretário Nacional da Cultura o senhor Roberto Alvim, que em um dos seus discursos para os brasileiros repetiu frases literais  do nazista Joseph Goebbles, usou uma música de Wagner, amado por Hitler, na abertura do vídeo, citou parágrafos inteiros de Goebbles em outras ocasiões e que afirmava, assim como Bolsonaro, que o nazismo é movimento de esquerda.

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Sim, para qualquer pessoa que tenha estudado minimamente a II Guerra Mundial e os movimentos nacionalistas europeus da década de 30 e 40 o nazismo jamais poderia ser de esquerda, mas para Bolsonaro a ignorância e o negacionismo histórico podem ser usados a qualquer momento como armas que retroalimentam o ódio. 

Os judeus brasileiros que ainda apoiam Bolsonaro são os mesmos que o elegeram mesmo depois de terem visto, em 2015, uma célebre foto de Jair Bolsonaro apoiando  um candidato a vereador vestido de Adolf Hitler.

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O candidato nazista a vereador na Cidade Maravilhosa, conhecido como Professor Marco Antonio, foi naquele momento levado até mesmo a uma cerimônia no legislativo municipal pelo filho do atual presidente, Carlos Bolsonaro, e fez elogios ao autoritarismo, à ditadura brasileira e à organização do regime nazista.

Os judeus brasileiros que ainda apoiam Bolsonaro são os mesmos que o elegeram sabendo que o seu projeto de governo era essencialmente excludente, racista, de idolatria por um Israel segregador, militarizado, mítico e representante de uma excludente e repleta de supremacia "sociedade judaico-cristã".   

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O projeto de poder de Bolsonaro teve Olavo de Carvalho como guru absoluto, um sujeito que estudou apenas até a quinta série do Fundamental, mas se autoproclama um "filósofo" e tenta reescrever a história do Brasil glorificando torturadores, ditadores e canalhas, demonizando os muçulmanos, e as religiões-afro-brasileiras, demonizando a Teologia da Libertação, justificando a perseguição religiosa aos muçulmanos, a demonização das minorias e o racismo de qualquer espécie. 

Quando o professor Michel Gherman faz uma comparação do bolsonarismo com o nazismo, chamando os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro de nazistas, ele está apenas constatando as semelhanças históricas entre os dois movimentos políticos! Está avaliando 1933 e os fatos que levaram a Alemanha ao nazismo e não analisando 1941 ou 1945 e as consequências finais das escolhas feitas por alemães e até por alguns judeus, que trabalhavam como guardas nos campos de concentração e apoiavam de alguma forma o nazismo.

São comparações históricas, irrefutáveis e que encontram confirmação nos próprios discursos de Jair Bolsonaro e de Olavo de Carvalho, um confesso aliado de Steve Bannon e um dos líderes da horda de extrema direita norte-americana que invadiu o Capitólio em janeiro de 2021, causando inclusive a morte de manifestantes. 

A comparação do professor Michel Gherman revoltou a Federação Israelita do Estado  do Rio de Janeiro, que acabou divulgando uma nota de repúdio.

A “nota de repúdio” foi assinada pelo presidente da instituição, Alberto David Klein, que além de intimidar Gherman, o acusou de banalizar o nazismo. 

Em um vídeo-resposta, o professor Guerman afirmou que “a tentativa de intimidação que o presidente faz é abjeta e ridícula, mas será mal sucedida. Calar judeus do Rio não pode ser a prática de quem supostamente deveria nos representar”.

Quero deixar aqui minha solidariedade ao professor Michel Gherman, com quem nem sempre concordo a respeito de suas posições sobre Israel, mas a quem respeito muito e agradeço por, em um momento de imensa escuridão no Brasil, tentar jogar luz sobre como, ao longo da História, permitimos que a tragédia humana se repita, com a cumplicidade de descendentes dos que um dia foram mortos pelo mesmo ódio.

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