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Carlos Lindenberg

Carlos Lindenberg é diretor do 247 em Minas

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Como o governador de Minas puxou a orelha de Temer

"Depois de elevar o espírito conciliador dos mineiros, pela hospitalidade e pela secular cordialidade dos costumes políticos de Minas, Pimentel lembrou a Temer as inúmeras demandas do Estado não atendidas pelo governo, sem, contudo, enumerar todas, no que poderia ser entendido como um cerco financeiro que Temer promove em torno do governo mineiro", diz o colunista Carlos Lindenberg

Governador Fernando Pimentel  (Foto: Carlos Lindenberg)
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Ao presidir na noite de quinta-feira a posse do novo presidente da onipresente Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais – FIEMG – um dos maiores clientes da Rede Globo em Minas, o presidente Michel Temer (MDB) certamente não esperava ouvir do governador Fernando Pimentel (PT) um puxão de orelhas pela forma como ele trata o Estado de Minas Gerais e muito menos uma crítica certeira à forma como o governo lida com essa greve dos caminhoneiros que, de lucro, exibiu a imprevidência, a fragilidade e a truculência de um governo caolho que só tem vistas para o lado rico da sociedade brasileira. Isso, aliás, ficou tão evidente que o presidente do Sindicado Nacional dos Caminhoneiros, Wallace Dandine Chorão, resolveu não participar da negociação entre ministros do governo e a representação dos empresários de transportes na noite da mesma quinta-feira, onde teria sido celebrado o acordo para o fim da greve. Acordo que não foi obedecido pelos caminhoneiros no dia seguinte, sexta-feira, o que obrigou Temer a convocar as Forças Armadas para resolver o problema que o seu governo criou.

E foi isso que ele ouviu do governador Fernando Pimentel, olho no olho, na festa da Fiemg. Depois de elevar o espírito conciliador dos mineiros, pela hospitalidade e pela secular cordialidade dos costumes políticos de Minas, Pimentel lembrou a Temer as inúmeras demandas do Estado não atendidas pelo governo, sem, contudo, enumerar todas, no que poderia ser entendido como um cerco financeiro que Temer promove em torno do governo mineiro. Pimentel até lembrou algumas dessas demandas, sempre sob o olhar severo de Temer, como obras da União inacabadas, outras abandonadas, repasses constitucionais retidos ou liberados com atraso, enfim, um rol de problemas que o governo federal tem trazido ao governo Pimentel. O governador até reconheceu que aquele não era o ambiente adequado para elencar as demandas reclamadas. De fato, se Pimentel quisesse ele poderia começar falando do tombo que o governo federal deu na Cemig, ao não permitir que a empresa mineira participasse do leilão de quatro das suas maiores usinas, todas arrematadas por empresas estrangeiras – aliás, uma marca fortíssima do governo Temer, o entreguismo.

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Mas daí, como o momento não era adequado para falar das demandas mineiras, o governador resolveu entrar na ordem do dia, naquilo que há seis dias vem assustando o país e o próprio governo federal: a greve dos caminhoneiros. E aí, como aliviou no caso das demandas, Pimentel bateu duro até para surpresa geral na questão da greve. E acusou frontalmente a Petrobras de errar na definição do preço dos combustíveis entregues às distribuidoras e dai aos postos de abastecimento. Fernando Pimentel falava da mudança da política de preços da petroleira que resolveu, após a chegada de Temer ao poder, no bojo do golpe aplicado contra a presidente eleita Dilma Rousseff, definir esses preços com base na variação do dólar e da elevação do preço do petróleo. E que provocou uma elevação no preço dos combustíveis em mais de 50 por cento em apenas 12 meses – Temer ao ouvir isso nem piscava embora se mexesse na cadeira, inquieto.

Afinal, alguém, que não era da sua trupe, lhe dizia em público, em meio a empresários, que seu governo errava e que não adiantava botar a culpa no presidente da Petrobras porque o presidente da República era ele, Temer, e Pedro Parente seu subordinado. Para quem sabe ler, Pimentel dizia na cara de Temer que o erro era dele ao permitir que um subordinado seu fizesse a lambança de aumentar os combustíveis na última semana todos os dias da semana. O que provocou a ira dos caminhoneiros, daqueles que pagam o seu caminhão com boletas bancárias, e dos empresários que se aliaram a esses poucos autônomos para paralisar o país, afetando todo o sistema de abastecimento do que se possa imaginar: da farinha de trigo ao leite, da carne aos remédios, no que talvez seja a maior paralisação de caminhões de carga de que se tem notícia no País, com governos e cidades inteiras decretando ponto facultativo e suspendendo as aulas nos colégios. Temer na réplica -sem direito a tréplica- rebateu o governador de Minas, que foi ministro de Desenvolvimento Econômico e Social no governo da presidente Dilma, dizendo que a Petrobras estava certa e que o que onerava os combustíveis eram as altas alíquotas cobradas pelos Estados sobre o preço cobrado nas bombas. Ou seja, a Petrobras está certa, o governo está certo, o erro para não dizer os vilões, são os Estados. E para não perder o hábito, Temer voltou à cantilena de sempre: que o país está no caminho certo, que ele teve a coragem de tirar o país do buraco e por aí fora, para aplauso dos empresários – claro, ele estava na casa deles e falando o que eles queriam ouvir e nisso Temer não é bobo.

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Bobo foi em São Paulo, na sexta-feira, quando resolveu andar a pé fortemente policiado, num pequeno trecho de um bairro paulista e teve que sair sob proteção de improvisados escudos para não ser atingido pela multidão que lhe atirava objetos diversos e sob vaias entremeadas por palavrões. E não era para menos. Essa paralisação do país pode-se dizer foi provocada pelo governo. Há pelo menos quinze dias que os caminhoneiros e os empresários dos meios de transporte vinham avisando o governo que o preço dos combustíveis estava alto demais. Pois mesmo assim, com o aval de Temer, Pedro Parente majorava os preços diariamente na última semana. Até que a bomba, cantada, avisada, estourou. E mostrou, mais uma vez, que o país não se pode dar ao luxo de transportar de 60 a 70 por cento de sua carga pelas rodovias, por mais influentes que sejam as entidades que representam o segmento rodoviário. É chegado o momento de o País refletir, para que não tenha mais adiante de novamente convocar as Forças Armadas para tomar caminhão de motorista no meio da estrada, como se ameaça fazer com os poderes que a Medida Provisória de Temer deu aos militares – isso para não achar mais uma vez que, assim como no Rio de Janeiro, as Forças Armadas estarão pagando mais um mico. Por culpa de um certo fascínio do atual governo pelo emprego das armas ao invés da política do diálogo, sobretudo com os trabalhadores, caso dos caminhoneiros autônomos, uma faceta de Michel Temer que age na Presidência da República como se ainda fosse secretário de Segurança do Estado de São Paulo.

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