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Mauro Nadvorny

Mauro Nadvorny, é Perito em Veracidade e administrador do grupo Resistência Democrática Judaica". Seu site: www.mauronadvorny.com.br

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Companheiro Comandante Che Guevara

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Em 1973, eu então com 15 anos, fui visitar minha família na Argentina. No Brasil estávamos em plena ditadura, o usurpador que se dizia presidente era Emílio Garrastazu Médici. Seu governo foi marcado especialmente pela mínima tolerância de atividades políticas, muita repressão, censura total e uso sistemático da tortura e assassinatos de opositores. Por tudo isso e muito mais, ficou conhecido historicamente como “Anos de Chumbo”.

Na Argentina se vivia um retorno à democracia. Naquele ano eles tiveram 4 presidentes! Quando estive lá, ainda era Alessandro Augustín Lanusse e se seguiram: Héctor José Cámpora, Raúl Alberto Lastiri e Juan Domingo Perón. Os “Hermanos” viviam uma turbulência política, recém saídos de uma ditadura, ainda tentavam começar uma democracia.

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Minha família argentina era formada por sobreviventes do Holocausto. Na verdade, havia uma relação por parte da minha mãe que era prima de quem eu chamava de tio. Por conta disso, seus filhos eram para mim como primos e assim nos tratamos até os dias de hoje.

Na mesa durante as refeições só se falava de política. Discussões acaloradas sobre o destino da Argentina e do Brasil. Naquele ano o ERP (Exército Revolucionário do Povo, fundado em 1970) se convertia em uma força guerrilheira com o objetivo de tomar o poder e tornar primeiro a Argentina, depois a América Latina, Socialista.

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E havia também os Montoneros, outra organização marxista, mas que se dizia Peronista. Por ironia, María Estela Martínez de Perón os declarou um grupo terrorista e ilegal.

Toda aquela efervescência política era um bálsamo para meus ouvidos. Meus olhos brilhavam diante dos embates entre os membros da família, a favor e contra o governo, e claro, dos grupos guerrilheiros.

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Eu tinha planejado levar para o Brasil tudo o que pudesse comprar relacionado a esquerda. Coisas que eu pudesse repassar. Eu e meu primo, um ano mais velho, marcamos um dia para sairmos e buscar os tesouros que eu tinha em mente. E o dia chegou.

Buenos Aires era famosa por suas livrarias. Podia-se passar horas dentro de algumas delas e não ver tudo. Aquele cheiro característico de livros sendo abertos e manuseados me inebriavam. Sempre gostei de ler.

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Havia também as lojas de discos. Vinis, é claro. Imensas, com vários andares e prateleiras a perder de vista. Era preciso muita paciência para se encontrar o que se buscava, e que muitas vezes, se encontravam sob o balcão dos donos.

Nossa primeira investida foi as livrarias. Não demorou muito para eu encontrar o que buscava: O Manual do Guerrilheiro de Che Guevara. Também comprei mais algumas preciosidades que não se podia comprar no Brasil. Meu primo, atônico me perguntava como eu pretendia levar aquilo para o Brasil, mas eu já tinha um plano pronto. Chamei o dono da loja e pedi a ele outros livros com o mesmo formato e número de páginas. Ele logo compreendeu, assim como meu primo. A ideia posta em prática foi trocar as capas.

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Dali seguimos para as lojas de discos. Sabendo procurar e com muita paciência encontrei o que buscava. Canções de protesto latino americanas, discursos de Fidel Castro e canções cubanas. Nem preciso dizer que utilizei o mesmo método. Comprei junto alguns discos de música clássica e troquei as capas.

Por fim, a cereja do bolo para mim. Fomos a uma loja de Posters e lá estavam eles. Posters de Che Guevara. Clássicos, mostrando seu rosto com aquele sorriso cativante e seu boné. Comprei dois. Desta vez não havia como trocar as capas, então comprei junto mais uma meia dúzia de posters da Charles Chaplin que foram colocados por cima e enrolados todos juntos. Eu já tinha meu tesouro comigo.

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Não disse nada aos meus tios para que não surtassem, meu único cúmplice era meu primo que estava achando tudo aquilo maravilhoso. Eu me sentia um verdadeiro revolucionário.

Chegou a data da volta e não tive problemas para embarcar. Foi como um teste quando olharam para minha bagagem e não deram maior importância. Eu esperava que o mesmo ocorresse na chegada a Porto Alegre. 

Desembarcando, entrei na fila para revista de bagagem. Eu era muito magro, cabelo loiro cumprido, um típico adolescente daquela época. Quando chegou a minha vez, o policial pegou os livros e apenas folheou um deles, olhou para os discos e nem tocou neles. Enquanto isso em tinha engrenado uma conversa mole sobre voltar para casa, ver meus pais que estavam logo ali me aguardando, e então ele pegou os posters. E resolveu abrir o rolo.

Neste momento achei que talvez ter trazido todo aquele material, talvez não tivesse sido uma boa ideia. Será que ainda poderia me despedir dos meus pais antes de me levarem preso? Será que o fato de eu ser menor poderia ser um atenuante? 

Então ele olhou para o primeiro poster de Chaplin ali no rolo espichado e aberto sobre a esteira, levantou a ponta para ver o segundo, e fechou tudo me dizendo que adorava os filmes dele.

Foi um alívio e concordando com ele, peguei minhas coisas e saí para encontrar meus pais que não imaginavam o que eu havia feito. Somente em casa, que tomaram conhecimento e incrédulos me repreenderam duramente, aliás com muita razão. Do ponto de vista deles eu poderia ter colocado todos em uma situação delicadíssima, o que de certa forma era verdade. Mas cá entre nós, eu tinha aquela sensação de quem havia desafiado a ditadura e havia vencido. Totalmente irresponsável sim, mas muito feliz por haver trazido material “subversivo” para ser compartilhado.

Os livros foram devorados, os discos escutados a exaustão e os Posters colocados no meu quarto, longe da janela. Só quem entrava tinha a visão de Che Guevara. Logo meus companheiros estavam lendo e escutando tudo aquilo que era proibido pela ditadura militar. 

Conto esta história como forma de homenagear meu ídolo desde a juventude. Esta semana se completou 52 anos de seu assassinato na Bolívia. Morreu um herói, permaneceu um ideal. Sua trajetória de vida é uma inspiração para todos que lutam por uma sociedade mais justa.

Fica aqui minha homenagem com a letra traduzida da canção “Hasta Siempre”, de 1965, escrita por Carlos Puebla, uma das que eu trouxe comigo naquela viagem.

Aprendemos a querer-te

Desde a histórica altura

De onde o sol de tua bravura

Lhe pôs cerco à morte

 

Aqui fica clara

A fechada transparência

De tua querida presença

Comandante CHE GUEVARA

 

Sua mão gloriosa e forte

Sobre a história dispara

Quando toda Santa Clara

Se desperta para ver-te

 

Aqui fica clara

A fechada transparência

De tua querida presença

Comandante CHE GUEVARA

 

Vem queimando a brisa

Com sóis de primavera

Para plantar a bandeira

Com a luz de seu sorriso

 

Aqui fica clara

A fechada transparência

De tua querida presença

Comandante CHE GUEVARA

 

Teu amor revolucionário

Te conduz à nova empresa

De onde espera a firmeza

De teu braço libertário

 

Seguiremos adiante

Como junto a você seguimos

E com Cuba te dizemos

Até sempre COMANDANTE

 

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