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Antonio Nogueira

Poeta e mestre em história social. Autor do livro "O oráculo me seduz ao vácuo" (2020); interessado em marginalidades e discursos afins.

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Conciliação do futuro presente passado

"Lula 3 não é mais a velha disputa"

Presidente Lula em Guarulhos (Foto: Ricardo Stuckert)

Pela alta madrugada perco o sono e venho rabiscar meus devaneios. Às vezes, pensando no que escrever, pelo simples fato político-terapêutico, remeto me a questões atemporais trancafiadas no peito. Como o presente tanto dialoga com um passado presente, tão “logo ali atrás” que me pergunto no silêncio da madruga: “por quê”?

“Porque não fizemos a democratização dos meios de comunicação”! Ah sim, é isso! Mas pode ficar pior. Bem pior! Explico nas linhas que seguem o presente passado, o presente presente e o futuro do presente.

No presente passado, tivemos alguma chance e esperança de democratizar os meios de comunicação. Em vão. A Globo se fortaleceu como outrora na ditadura e quando pôde, não só golpeou a esquerda como pariu a lava jato e o fascista circense. Entramos na maior crise institucional desde então. De 2016 pra cá, perdemos direitos, verba social, perdemos as ruas. Quando muito, nomes feios como “teto de gastos” tornaram-se fofos como “âncora fiscal”.

Com o atual desastre em Porto alegre, levanta-se a opinião publicada. Recuso-me a chamar de opinião pública: “as doações ultrapassam a ajuda do governo”! Ouvi esses dias. Bom... a generosidade brasileira é gigantesca, de fato. Mas minha teimosia materialista implica em saber se seu volume ultrapassa os bilhões destinados por Lula e Dilma para o estado destruído. Sim...Lula e Dilma. Outro passado presente.

Mesmo com os citados “problemas orçamentários”, o presidente brasileiro destinou bilhões para a reconstrução do estado sulista, assim como a atual presidente do banco dos BRICS +. No passado presente, Lula foi chamado ladrão, Dilma acusada de estourar contas públicas, o intervencionismo criminalizado e a boiada circense neoliberal veio a galopes.

No passado passado, também conhecido como anos 90, Betinho dizia: “quem tem fome tem presa”. Frase estatizada pelo PT; para o desespero da “bilionária e caridosa classe média brasileira”, que amava destinar seus imensos recursos salariais para campanhas privadas contra a fome. Até o PT tornar política e acabar com a esperança das crianças. Pronto! A maldição da verba pública estava instalada.

O problema do presente presente não é mais a falta de informação de qualidade, mas sim, a falta de verdade pela assimetria dos campos de disputa que não se restringem mais a discutir sobre verba público/privada. 

O campo neoliberal circense tem igrejas, mídia, empresas, congresso, judiciário, etc... nós só temos a verdade. Não basta. A materialidade mostra que não e os parcos espaços, estão ameaçados pela censura na internet.

Espero que no futuro do presente a lei da ficha limpa, o aumento de verba da Globo, o poder de investigação do ministério público, os programas sociais, o uso da corrupção como arsenal de guerra híbrida, sejam erros e acertos debatidos. Sem esperança de simetrias. Mas ainda, debatidos para serem reconhecidos suas esferas público/privado. Campos que precisam ser descortinados politicamente sem a ingenuidade de espaços vazios na política.

Sem travar a devida disputa em breve a reconstrução de Porto Alegre será atribuída ao poder divino da esfera privada. Pelos representantes de Deus na terra: empresários, pastores, donos de clubes de tiro, alienígenas de aplicativos de celulares, pneu de caminhão. Lula 3 não é mais a velha disputa. Ele precisa entender isso. Ou talvez seja, de fato, apenas um notívago devaneio. Já perdemos orçamento, mídia, ruas. Milei só na Argentina.   

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.