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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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Congresso inimigo do povo (vergonha nacional...)

Uma sucessão de manobras legislativas expõe o distanciamento do Parlamento em relação à democracia, à justiça e às demandas reais da sociedade brasileira

Rio de Janeiro (RJ) - 14/12/2025 - Manifestantes fazem ato na orla de Copacabana contra PL da Dosimetria e outros temas em votação no congresso nacional (Foto: Tânia Rego/Agência Brasil)

Política é fonte de alegrias — e decepções. Desde a Antiguidade, não ignoramos que as coisas se passam assim. Ora o pêndulo se inclina para um lado; ora para o outro. O atual Congresso, no entanto, dá a impressão de acumular decepções a ponto de desconcertar os eleitores. Não bastasse a PEC da Blindagem e a tentativa de aumentar o número de deputados (excesso dos excessos), vem-nos sobre a cabeça a nova proposta da “dosimetria”, com a assinatura de Paulinho da Força. A iniciativa não busca a verdade. Esforça-se em salvar os infratores do 8 de janeiro, dos baixos aos altos escalões, cumprindo penas ou com penas a cumprir. O país testemunhava, pela primeira vez, o julgamento daqueles vândalos submetidos aos rigores da Justiça, para que aventuras do tipo não se repetissem.

Há, ainda, os episódios de Zambelli, escapando da cassação, e de Glauber Braga, espancado pela “Guarda Pretoriana” de Hugo Motta e, em seguida, sujeito à votação para retirá-lo do mandato. O plano funcionou em parte, o suficiente para demonstrar o despreparo do “Que Não se Importa” na condução dos trabalhos, com um rol de arbitrariedades entre as quais não faltou a expulsão dos jornalistas. A continuar nesse ritmo, logo assistiremos a uma derrocada retumbante do jovem e despreparado mandatário. Dizem que tem um mentor e que este se acha desencantado com ele. O paraibano de Patos, antes visto como talentoso, desce a ladeira do desprestígio e corre o risco de largar o cargo com a medalha do recorde da incompetência. A cadeira que ocupa, observam os comentaristas, é maior do que ele, bem maior, faltando-lhe corpo e dignidade para arcar com as suas obrigações.

Uma nação, qualquer que seja ela, necessita de quadros capazes de levar adiante, em debates sucessivos, os problemas que a afligem. É assim que se desdobram os requisitos do sistema democrático. Discussões travadas se acirram em busca de um consenso ou do voto da maioria, tudo dentro da ideia segundo a qual, ganhando ou perdendo, galgamos um degrau a mais de civilização. No caso em pauta, graças ao bolsonarismo, resta-nos um fio de sensatez para nos ajeitarmos em nossos desacertos. Não é tarefa simples. No resto do mundo, forças da extrema direita se organizam para alcançar o poder, com promessas já conhecidas pelo que realizaram no passado. É tragédia anunciada. Na eleição de 2026, com a presença de Lula para presidente, há garantias de que não cometeremos retrocessos. Mesmo assim, cumpre prevenir na hora de votar em deputados e senadores, para que não se repita o grau de escândalo que ora nos atinge.

Uma lei que visa proteger Bolsonaro e que, ao mesmo tempo, soltará estupradores, sequestradores e criminosos enjaulados não poderia ser mais irresponsável. Com ela, ultrapassamos um limite pantanoso. Que o Senado, onde se encontra em exame, zele por nós e reponha os pingos nos is. É o que se espera de uma Casa revisora com tradição de qualidade. Enquanto isso, a sociedade não dorme. Que vergonha!

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.