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Renato Melchiades Doria

Doutor em Física Quântica. CEO da companhia AprendaNet

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Conhecimentista

O desafio a cada época está em fazer a leitura do momento histórico

Livros (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

O desafio a cada época está em fazer a leitura do momento histórico. Entender a fonte de seu movimento na história. Em 1848, o Manifesto Comunista analisa a relação capital-trabalho.  Por 150 anos influenciou os corações e mentes em volta ao planeta.

O século 21 traz a era de Aquarius. Desejamos aprofundar o que representa. Há algo além de ser um movimento hippie. Um sinal a ser captado é que entramos na esperada Era do Conhecimento. Época em que os avanços da sociedade estarão ligados a geração de conhecimento.

Esse é o nosso tempo. A relação capital-trabalho não mais basta. A transformação acontecendo é a dinâmica do conhecimento. O mundo natural se torna convertido à ideologia do conhecimento.  A magia de transformar recursos naturais em produtos concretos nos chama a um esclarecimento.

A humanidade já explora experimentalmente regiões que variam entre 10-18 m (partículas elementares) e 1026m (galáxias distantes). Esse é o homem e seu extraordinário mundo do conhecimento. Essa cosmovisão aconteceu com o homem magicamente sentado no seu minúsculo planeta Terra. Desenvolvemos aceleradores de partículas, microscópios e telescópios. Por exemplo, na distância nanométrica conseguimos perceber o vírus, construir vacinas e enfrentar pandemias. 

A era do conhecimento chegou. Falta concretizar. Quando Cabral aportou no Brasil, e você o entregasse um celular para falar com sua mãe, qual seria sua reação ao ver a imagem e voz dela. Cabral agradeceria, ou o mandaria queimar na fogueira? Assim é a história, cada época contém sua razão. Há 500 anos atras o conhecimento vivia entre magia e bruxaria. Hoje não faltam pessoas nos ônibus ligadas em seus celulares. Ninguém mais associa celular com coisas do diabo.

Nesta idade do conhecimento a questão sociológica ultrapassa a relação capital-trabalho. Foi englobada numa argumentação mais ampla. A do conhecimento como o novo elemento construtor da história. Momento aos políticos, sociólogos, jornalistas perguntarem: o Brasil vai participar da Era do Conhecimento ou não? O Brasil atual é baseado em três pilares. Rentismo, serviços e revendas, agronegócio. Em torno desse triunvirato gera-se o dia-a-dia do brasileirinho.

Cada nação recebe seu momento de encontro com a História. O Brasil atualmente não está fadado a participar das maiores discussões da geopolítica internacional. Não tem expressão própria. Um país que ainda não atingiu sua maturidade. Não eleva qualquer proposta original. O país ainda precisa caminhar para uma mentalidade própria. Até desabrochar um tema endógeno.

A era do conhecimento nos convoca a uma ação efetiva. Ilusoriamente, o povo brasileiro participa da era do conhecimento, os produtos que caem em suas mãos são extraterrestes. Não geramos nem carros, nem aviões, nem microchips. Somos apenas um mercado consumidor  de produtos internacionais. O brasileirinho se basta em fazer três refeições por dia para ficar feliz. Não tem ambição maior.

O país precisa iniciar a sua Revolução da Era do Conhecimento. Nada de ideologias vindas de cima para baixo. O país precisa encontrar sua auto realização. Uma força nova e notável deve surgir. Um acontecimento capaz de nos retirar dessa perspectiva impregnada de rentismo, serviços e revendas, agro. 

O Brasil precisa encontrar sua caminhada de libertação. Um andar próprio na História. Nos anos 1980 o Brasil e a China possuíam o mesmo PIB. Hoje, uma diferença gritante acontece ao mostrar como o país ficou para trás. O desafio está em encontrar um encontro que encante. Oferecer um encontro a sua população cabisbaixa. Habituada a ser feliz sem viver a dúvida.

– Como encantrar o Brasileirinho? 

O Brasil precisa encontrar o seu Caminho da Índia ao portal da Era do Conhecimento. Uma passagem à espera de ser feita. A sua perspectiva para dobrar o Cabo da Boa Esperança está na criação de um novo personagem da história. Alguém capaz de tocar a flauta mágica do conhecimento.

O movimento da história é feito pelos personagens que ela mesma produz. Outrora,  tivemos escravos, camponeses, artesãos, navegadores, reis. Agora, estamos na era do conhecimento, que exige a formulação de um novo personagem social. Se o marxismo colocou em cena o operário e o burguês, o nosso tempo aponta para o conhecimentista.

O conhecimentista é aquele que atua na folha em branco. Seja a tela de um computador, a folha de um caderno, o quadro de uma pintura, e assim em diante. Alguém que se move por símbolos e espaço psicológico. As suas ferramentas são as palavras, desenhos, equações, experimentos, inovações. A sua viagem está em torno do simbólico chegar ao mercado com produtos inovadores e soluções concretas.

O terceiro milênio estabelece a era do conhecimento. Ciência e tecnologia fomentando o desenvolvimento econômico e social. Esse é o novo dilema. Não existe mais geração de bem estar, riqueza e oportunidade social sem a produção de conhecimento. O desafio ao Brasil é enfrentar. Propiciar a sua população o direito de acessar e produzir conhecimento.

Uma estrela desponta, diria o poeta. Uma realidade nos defronta que seria o Brasil levantar a figura do conhecimentista. Contudo, pergunta-se: a geração atual brasileira estaria preparada para erguer esse novo personagem social?  Levar o conhecimentista as entranhas da sociedade, assim como, o marxismo o fez com a classe operária. 

Vivemos sob a sociedade espetáculo, qualquer Big Brother ou campeonato nacional ocupam o imaginário coletivo não deixando lugar para nada mais. Ainda assim, se num dia nesta terra em que tudo planta, tudo dá, Cabral não lançou o celular à fogueira, a esperança é que em futuro outro, o conhecimentista ainda andará pelas ruas brasileiras.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.