Considerações sobre o discurso fake de Bolsonaro na ONU
"Não tendo nada de relevante a apresentar, apropriou-se do auxílio emergencial que, como sabemos, nasceu de esforço do Congresso Nacional e, não satisfeito, distorceu o valor pago", afirma o colunista Robson Sávio Reis Souza sobre o discurso de Bolsonaro na ONU. Omitiu "o cristofascismo que é utilizado como política de governo por alguns desses líderes", avalia
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O discurso de Bolsonaro na ONU não foi endereçado à comunidade internacional. Foi para agradar e manter mobilizada suas bases aqui no Brasil.
Analisando numa perspectiva internacional, o discurso de Bolsonaro ratifica seu alinhamento incondicional ao governo de Trump, além de demonstrar que nas pautas ultraliberais e obscurantistas aproxima-se ideologicamente de outros líderes da extrema direita global, que se articulam - via a questão religiosa -, "como Salvini, ex-ministro da Itália; Putin, presidente da Rússia; Viktor Orbán e sua democracia cristã iliberal da Hungria e Andrzej Duda e sua tradição sacra da Polônia" (veja: Iacoppo Scaramuzzi em: Dio? In fondo a destra. Perché i populismi sfruttano il cristianesimo). Não à toa, Bolsonaro evocou a falácia da cristofobia, omitindo o cristofascismo que é utilizado como política de governo por alguns desses líderes.
Para agradar e manter mobilizada suas bases brasileiras, Bolsonaro rasgou elogios às Forças Armadas, ao agronegócio, aos caminhoneiros e outros parceiros de primeira hora.
Como chefe de estado e governo, ao invés de falar de união nacional nesse gravíssimo momento de pandemia, começou o discurso jogando as responsabilidades da pandemia nos governadores e prefeitos e culpando a justiça e a imprensa pela calamidade sanitária que vivemos. Essa catástrofe, mais de 135 mil mortos, em boa medida deve ser debitada à sua incúria, incompetência, negacionismo e arrogância.
Como marca registrada de suas falas, as falácias podem ser percebidas em várias ocasiões: ao culpar ambientalistas e ONG’s pelas denúncias contra sua política de devastação do meio ambiente; ao dizer da assistência a indígenas, omitindo que vetou para esses povos o auxílio emergencial específico e à agua; ao afirmar que não faltaram recursos nos hospitais para o atendimento de doentes da Covid-19, quando sabemos que milhares morreram por falta de boas condições hospitalares e ao negar, pateticamente, as queimadas na Amazônia e no Pantanal que, segundo várias fontes da imprensa, ambientalistas e pesquisadores, são causadas em boa medida pela ação orquestrada de setores que sempre são apoiados por ele e seu governo: madeireiros, garimpeiros, grileiros, fazendeiros e pelo desmonte, pelo seu governo, de órgãos de proteção ambiental.
Não tendo nada de relevante a apresentar, apropriou-se do auxílio emergencial que, como sabemos, nasceu de esforço do Congresso Nacional e, não satisfeito, distorceu o valor pago dizendo que as parcelas somam aproximadamente 1000 dólares, quando somadas as nove parcelas do benefício totaliza-se R$ 4.200 ou seja, US$ 771,49.
Para se mostrar sabujo de Trump, culpou, sem provas, a Venezuela pelo derramamento de óleo nas praias brasileiras e ao tecer louvores ao agronegócio omitiu que o maior produtor de alimentos do mundo, o Brasil, vive uma pornográfica alta no preço do arroz no mercado interno, provocada por fatores como a ênfase de seu governo no agronegócio em detrimento da agricultura familiar e o descaso com a segurança alimentar dos brasileiros. E não disse que vetou 17 dos 20 artigos do auxílio emergencial para agricultura familiar.
Terminou o discurso com a frase, “o Brasil é um país cristão e conservador e tem na família sua base”.
Fico a pensar no tipo de cristianismo e de família que são modelos para Bolsonaro.
De minha parte, observando certas práticas louvadas e exaltadas por Bolsonaro prefiro não pertencer nem a esse tipo de cristianismo, nem a esse tipo de família.
Com a graça de Deus...
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