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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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Continência à incontinência

Novas manifestações de incontinência se anunciam: passeatas de moto, se possível com a presença de autoridades. Em oposição, com todas as garantias contra as expansões do coronavírus, haverá panelaços e atos de rua porque não se pode aceitar que a incontinência civil e militar dite as normas. A CPI, por seu turno, desmonta o teatro de barbaridades

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A hesitação do Alto Comando do Exército diante das infrações cometidas por Eduardo Pazuello, com tons de comédia, lembra uma ópera-bufa. Era um espetáculo que queria se definir e não podia. No final, exemplo de intimidação e covardia, terminou com uma continência militar à incontinência, identificada a situações próximas da balbúrdia, já que infringia à norma do regimento da Força. Nossa capacidade de espanto permanece intocada. Trata-se de um hábito que, apesar dos pesares, custamos a adquirir, o de acompanhar os movimentos da cúpula do governo com um pé atrás, como se, a qualquer momento, decepções adviessem para comprovar que, em relação aos países organizados, caminhamos em contracorrente. Ainda por cima, o fato se fez cercar de outros eventos, igualmente lastimáveis: o da decisão de trazer a Copa América, em plena epidemia, para o nosso território; e o que ofendeu uma jornalista da TV CNN com o qualificativo de “quadrúpede”. A continuar assim, talvez, enquanto povo, alcancemos a marca de nação menos favorecida em termos de elegância e dignidade na exibição dos cargos da República. 

Observando os embaraços do Comandante do Exército no sentido de se afirmar sem se chocar com o Presidente (afinal, o grande responsável pelo passo em falso), temeu-se uma exibição de tropas na rua, soldados nas portas do Supremo Tribunal Federal, do Congresso ou na casa das pessoas. Era um fantasma da ópera-bufa que felizmente não ocorreu, não obstante a receita da comédia houvesse chegado longe. As críticas, sim, vieram de todos os lados. Não é um fenômeno que afete Bolsonaro, porque passa ao largo de sua postura, de quem se sentou no cargo e não pretende sair. Benito Mussolini, nos seus melhores momentos, também se comportava assim. Fortalecido nos seus lances de força, terminou mal. Pelos princípios da opinião geral (ou da vontade geral, para empregar uma expressão cara a Rousseau), o riso se inicia como afrouxamento das tensões, transforma-se em amargura e chega ao ridículo, quando desencadeado com frequência. Temos de nos juntar à Seleção e às torcidas do Flamengo e do Corínthians, no vazio das frustrações da Copa América, e desejar que a comédia, que de bufa vai se tornando macabra, não aumente o número de vítimas da Covid-19. Do jeito como as coisas se traduzem – e não fossem as eleições de aproximando – alguém deveria conceber uma comissão de alto nível para, na Presidência, impedir que as bobagens se sucedam a ponto de prejudicar o conjunto da população. Os fiéis de Jair Messias sem dúvida não gostarão da hipótese. Agrada-lhes ver o circo pegar fogo e que se danem os outros, como já provaram com sua conduta, em diversas ocasiões. O vice Hamilton Mourão, a julgar por suas posturas, pregava uma punição que não houve. Está de braços cruzados e aguarda. 

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Novas manifestações de incontinência se anunciam: passeatas de moto, se possível com a presença de autoridades. Em oposição, com todas as garantias contra as expansões do coronavírus, haverá panelaços e atos de rua porque não se pode aceitar que a incontinência civil e militar dite as normas. A CPI, por seu turno, desmonta o teatro de barbaridades e se exibe com fôlego para a realização dos seus trabalhos. Como deter a ópera-bufa? É a pergunta que não se cala.

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