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Leonardo Giordano

Secretário das Culturas de Niterói

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Contra o crime organizado e por uma polícia técnica que proteja o povo

Não se combate o crime organizado com bravatas, valentia performática ou grupos de extermínio

Facções Primeiro Comando da Capital e Comando Vermelho (Foto: Reprodução / Divulgação)

Não há espaço para ambiguidade. Somos radicalmente contra o crime organizado, contra as quadrilhas que tomam os territórios, oprimem a população e alimentam índices de violência intoleráveis. Não existe romantismo possível nesse campo. Essas organizações são expressão de puro mal, de morte e de destruição de vidas. É preciso desarticulá-las e prender os criminosos. Esse é um ponto inegociável e precisa ficar muito claro, porque é a base para qualquer debate sério sobre segurança pública.

Mas uma coisa é a indignação da sociedade e outra, muito diferente, é a construção de um método policial eficaz. Não se combate o crime organizado com bravatas, valentia performática ou grupos de extermínio. Não se resolve com cada um colocando uma arma na cintura. Os países que conseguiram superar quadros de violência extrema não o fizeram matando indiscriminadamente, trocando tiros dentro das comunidades ou apostando na vingança. Eles investiram em inteligência, em polícia técnica, em investigação qualificada. É por esse caminho e não pelo ódio que se consegue resultados duradouros e eficazes. 

No Rio de Janeiro, temos um quadro alarmante: quase 90% dos homicídios não são esclarecidos. Isso revela o tamanho do déficit de investimento na investigação policial. Não é um problema de penas maiores, nem de operações cinematográficas que sobem e descem morros sem mudar a estrutura do crime. Quando muito, troca-se o gerente da boca de fumo. O fundamental é seguir o dinheiro, desarticular a lavagem e as remessas, descobrir quais empresas e quais políticos dão sustentação ao crime organizado. E botar na cadeia os grandes chefes, não apenas o pé de chinelo pobre que será rapidamente substituído.

Essa perspectiva também denuncia a irracionalidade de propostas como a volta da chamada gratificação faroeste, recentemente aprovada na Alerj, que premia policiais civis por mortes em confronto. Esse tipo de incentivo, que já existiu no passado, não torna a sociedade mais segura nem fortalece a instituição policial. Ao contrário, aumenta a letalidade, alimenta um ciclo de violência que atinge principalmente jovens negros de 18 a 24 anos e expõe os próprios agentes a mais riscos. Em 2025, chegamos a 100 policiais baleados no Rio, um aumento de 65% em relação ao ano anterior. Estados onde a polícia mais mata também são os que mais perdem policiais. Essa matemática macabra precisa ser enfrentada com seriedade.

Defendo, com firmeza, uma reestruturação da polícia que valorize o bom policial e a técnica policial. Uma polícia investigativa, com capacidade de operações planejadas, forte, bem treinada, que saiba exatamente onde e como agir, seguindo os melhores modelos internacionais. Uma polícia que seja parte do pacto democrático, que proteja o povo e não seja usada para políticas de ódio. É esse modelo que efetivamente desarticula quadrilhas, prende criminosos graúdos e reduz a violência. Não quem grita mais alto, não quem posa de mais valente.

Esse é o caminho que precisamos trilhar no Rio de Janeiro. Uma polícia técnica, investigativa, protegida e valorizada, porque é assim que se combate o crime organizado de verdade e se defende, ao mesmo tempo, a vida, a democracia e o povo.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.