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Contracultura: o rapto da subjetividade

Pode ser que esse movimento da contracultura facilitou o rapto das subjetividades, pela sua aproximação com a sociedade de consumo (arte Pop), do design comercial. Talvez foi o apogeu da modernidade enquanto morte do espírito

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Dia desses, em mesa de boteco, numa dessas conversas de fim de tarde, que emenda vida sexual do vizinho com socialismo, Temer, etc., enveredamos por essa invenção da modernidade que é a subjetividade, e aí bebemos o último trago que foi a contracultura e que a seguir paramento em língua acadêmica.

Vamos encontrar no inferno dois autênticos representantes da contracultura: William S. Burroughs e Bukowski. Fizeram uma literatura sem querubins, sendo a escrita uma extensão de suas veias (melhor, das vísceras).

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Almoço Nu, de Burroughs não é ficção, mas o relato de uma coisa. A vida do autor sedento de droga e fugindo da polícia não serve para ser romanceada. Charles Bukowski é o santo padroeiro dos escritores bêbados. Não sei se é verdade que a contracultura surge com a publicação do poema Howl, de Ginsberg, porque essas coisas nascem como os ratos nos esgotos.

Em 1966, Marcuse disse no prefácio do seu livro Eros e Civilização, que a contracultura romperia a união fatal de produtividade e destruição, de liberdade e repressão. É mais ou menos o que disse Roszak em 69: seria uma recusa ao sistema e à tecnocracia. Ou como um meu amigo de cerveja que manja o assunto disse: a construção de um ideário para a felicidade com a valorização da subjetividade. Um outro amigo de copo e que gosta de Rock n Roll disse que o referido movimento é a revolução amesquinhada e que o estouro da pólvora é melhor que a guitarra elétrica. Respondi que os chineses quando inventaram a pólvora não tinham em mente os andróides de Huxley e nem o deus sentinela de Orwell, metáforas de nossa realidade atual.

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Há uma ironia de Marx e Engels sobre a filosofia alemã, no livro a Ideologia Alemã, que é útil para refletirmos sobre esse tema. Os nossos velhos camaradas diziam que quase todos os países europeus fizeram revoluções políticas, mas que na Alemanha a revolução ocorreu apenas no plano das idéias. É o que ocorreu no Brasil com a proclamação da república, diz Florestan Fernandes: a revolução burguesa ocorreu somente a nível institucional e não no plano social (ficamos presos ao estatuto colonial). O movimento da contracultura foi mais ou menos isso: um grito pelos direitos civis, pelo pacifismo, contra os costumes, etc., mas sem incomodar o demônio do capitalismo ou seja a luta se trava na esfera da política das intimidades, numa espécie de ilha que transcendia os antagonismos de classe.

Os rebeldes alérgicos aos partidos de esquerda, mas que cultuam o mito da subjetividade, deparam-se com um questionamento que poderia ser arguido por qualquer um de nossos antepassados primatas: o simples fato de o homem ser um animal que depende de alimento para sobreviver, de estabelecer um contrato tribal para conseguir esse alimento, já sacode esse ideário da busca da felicidade pela valorização da subjetividade. Ademais, quem vai realizar o rapto violento da subjetividade é a sociedade de massas, fundamentada no consumo, não o socialismo como apregoam a classe média defensora de um individualismo confundido com liberdade.

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Pode ser que esse movimento da contracultura facilitou o rapto das subjetividades, pela sua aproximação com a sociedade de consumo (arte Pop), do design comercial. Talvez foi o apogeu da modernidade enquanto morte do espírito, tão bem retratada na obra poética de T.S. Eliot. A sociedade de consumo torna-se um espelho enganoso, um engenho capaz de competir com a Divina Comédia e a Odisséia. O mundo torna-se o mito de si mesmo. O action-panting de Jacson Pollock é uma assinatura genial desse último pacto na modernidade. É a expressão de uma espécie de fuga, de viagem inspirada por alguma química.

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