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Raimundo Bonfim

Coordenador nacional da Central de Movimentos Populares (CMP)

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COP30: os donos do lucro decidem, e o povo paga a conta

Enquanto líderes e corporações debatem o clima em salões de luxo, o povo das periferias enfrenta os impactos reais da crise ambiental sem voz nem vez

Centro de Porto Alegre inundado (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

O fato de o Brasil sediar a COP30 (Conferência do Clima da ONU) em novembro de 2025, em Belém, é motivo de orgulho para alguns. Para nós, dos movimentos populares, é razão de alerta. Enquanto chefes de Estado, grandes empresas e bilionários discutem a questão ambiental em salas fechadas e climatizadas, os verdadeiros impactados pelas mudanças climáticas seguem do lado de fora, invisíveis, sem voz e sem espaço real de participação.

Nas periferias das cidades e no campo, a crise climática já é realidade: seca prolongada em algumas regiões e enchentes concentradas em outras, deslizamentos, calor extremo, falta d'água, saneamento básico precário, milhões de pessoas vivendo na pobreza e jogadas em favelas, beiras de córregos, palafitas, encostas de morros — situação que tem se agravado com o aumento nos preços dos alimentos e da energia. Enquanto isso, a COP30 segue um modelo de negociação que prioriza o mercado e o capital. Os efeitos da destruição ambiental atingem primeiro as nossas vidas e nossos territórios, mas o direito de influenciar nas soluções nos é negado.

Nos últimos meses, a Central de Movimentos Populares (CMP) realizou três seminários que reuniram lideranças de todo o país para discutir a COP30 e os impactos das mudanças climáticas nas cidades. A conclusão é inequívoca: para a CMP e para um conjunto de movimentos populares, a COP30 não é motivo de comemoração. É um momento fundamental para denunciar e exigir que os governos tomem medidas firmes, urgentes e estruturais diante da enorme crise climática que assola o mundo. E que os países ricos e responsáveis pela destruição ambiental paguem a conta para enfrentar a crise da emergência climática. Este não será um evento de celebração, mas um espaço de cobrança e visibilidade popular. Afinal, quem mais sofre com os desastres ambientais decorrentes da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera — provocados especialmente pelo desmatamento e queimadas nas florestas e biomas, criação de gado e demais danos causados pelo agronegócio — é o povo das periferias. A conta climática já chegou — e nós é que estamos pagando.

É urgente desmistificar a ideia de que somos todos igualmente responsáveis pela crise climática. Não somos. Os grandes emissores de gases poluentes são os países ricos, as grandes corporações, o agronegócio intensivo e o modelo extrativista de desenvolvimento. O sistema capitalista que prioriza o lucro a qualquer custo é o grande responsável por este colapso ambiental e climático. E, enquanto os mesmos de sempre lucram com a destruição ambiental, é o povo empobrecido quem sofre com os impactos.

Para mudar isso, não basta pedir “espaço na COP”. É preciso ocupar. A CMP defende a construção de uma Cúpula dos Povos, um espaço autônomo, popular e combativo, que coloque no centro do debate as verdadeiras soluções: a transição energética justa, o fortalecimento da agricultura familiar e camponesa, o reflorestamento das florestas, a agroecologia e a produção de alimentos saudáveis, a demarcação dos territórios indígenas, a garantia de moradia digna e cidades justas do ponto de vista econômico, social e ambiental. E uma nova relação entre as cidades e os biomas.

Entendemos que a luta contra a destruição do meio ambiente está associada à luta por justiça social, cidades justas, soberania alimentar e outro modelo de sociedade. E nós, dos movimentos populares, das periferias, do campo, das florestas e das águas, temos o dever de defender essas pautas de interesse do povo.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.