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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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Cortinas rasgadas

Dilma Rousseff e Lula (Foto: Cláudio Kbene)
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Em 2016, o golpe que tirou Dilma Rousseff do Planalto e nos envolveu num mar de incertezas, surpreendeu o eleitorado brasileiro de duas maneiras. De um lado, nós nos abrimos para propostas de extrema direita, com apelos nazifascistas e até, em certo momento, encenações de Goebbels com participantes do governo. O escândalo daí decorrente derrubou o cidadão e botou de lado as simpatias explicitadas. Ainda não havia clima para declarações extremadas daquela maneira. No entanto, não sem certas inseguranças, a administração central arriscou experiências do mesmo teor, amparada em apoios militares, gente que passou a participar da burocracia estatal. Não estávamos sob o regime de uma quartelada e tínhamos de lidar com quadros extraídos das forças armadas para onde nos virássemos. De toda forma, a despeito das tintas verde e amarelo com que colorimos as nossas atitudes, não houve como interromper, de fato, a normalidade democrática, por maiores que fossem as provocações do executivo contra o judiciário e as manobras em busca de maioria no Congresso. 

No outro lado da moeda, as iniciativas que conduziram ao fim do governo Dilma, atrás de argumentos para se firmar, valeram-se das acusações de corrupção com dificuldades evidentes, já que a ex-Presidente era realmente uma pessoa honesta. No entanto, o “PowerPoint” das acusações parecia bastante ampla para pegar todo mundo das antigas administrações, sobretudo o ex-Presidente Lula que, julgado e condenado, terminou na prisão e cumpriu pena. Com o tempo, verificou-se que a falta de provas num primeiro momento pesaria num segundo, quando os espíritos serenassem e nossos juristas começassem os processos de reavaliação do ocorrido. O juiz inflexível não custou a se transformar num manipulador de marca, alguém que trabalhou ativamente para a candidatura do atual presidente, chegando a ocupar uma de suas pastas ministeriais. Ele não ligava para provas. Dizia ter convicções. Isto é: está longe de se revelar um magistrado imparcial. Deu no que deu. A injustiça às vezes tem pernas longas, mas nem sempre. A dinâmica dos processos políticos, acompanhada de um inconformismo contra o que vinha acontecendo, contribuiriam para “rasgar a cortina de fumaça” com que, desde o início, tentaram substituir a verdade pela mentira. Soa inevitável, a esta altura, evocar Hitchcock, dirigindo Paul Newman e Julie Andrews, no seu Cortina rasgada, para sugerir o mundo bipartido entre Ocidente e Oriente, no caso as Alemanhas Federal e Oriental. Rasgar a cortina, hoje e entre nós, significa derrubar as versões da fantasia e avocar a clara, e conveniente para todo mundo, verdade na natureza dos fatos. Decisões do STF já haviam caminhado nesse sentido, por meio de absolvições que estamparam diante da sociedade os desatinos de uma justiça açambarcada por um pequeno grupo, com nítidas orientações políticas. Com a aproximação das eleições de 2022, para lá do desgaste do atual governo, cumpria ir mais adiante.

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Foi o que aconteceu com a decisão do Concelho de Direitos Humanos da ONU, declarando, aos quatro cantos, a absolvição de todas as acusações que pesaram contra o ex-Presidente. Não se trata de uma conclusão leviana, organizada por alguém. Trata-se de um reconhecimento de inocência. Rasgou-se a cortina. Agora cabe a nós saber o que fazer com a verdade. Para já, temos de entender que nunca mais aceitaremos manipulações semelhantes a nenhum pretexto. A verdadeira liberdade se impõe por seus méritos. Deixa, cumpre reconhecer, uma dívida a pagar quanto aos direitos feridos. Injustiças, humilhações e preconceitos... Mais do que um indivíduo, feriu-se a dignidade da nação. 

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