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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Coube a Michel voltar com o diabo para a garrafa

"Deu ruim. Passou do ponto. Bolsonaro atiçou a fogueira, assoprou o tição em brasa e fez surgir labaredas consistentes", define Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia, sobre o 7 de setembro. Agora, sobre o recuo, ela avalia: "Não soa como uma demonstração de apaziguamento. Não contém a humildade suficiente de quem tenta se desculpar ou procura o entendimento"

(Foto: Marcos Corrêa/PR | ABr)
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Por Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia

Até para estabelecer o caos é preciso ter ordem, meta e projeto. E Bolsonaro tinha, quando convulsionou o país, trocando a verdadeira festa cívica – da qual nunca fui fã, mas é uma tradição na data da Independência – no dia 7 de setembro, por um ato golpista. Sua meta era salvar a própria pele, a dos filhos e embaralhar o jogo, como sempre fez, em momentos de fracasso. Coube a Michel tentar colocar de volta “o diabo na garrafa”. Chamado às pressas em São Paulo, depois de exaustivos diálogos ao telefone, envergou o uniforme de “bombeiro” e rumou, a bordo do avião presidencial (haja dinheiro!!!) para Brasília, onde emprestou a experiência de sua quase queda em maio de 2018, quando enfrentou uma greve dos caminhoneiros, desta feita, organizada para valer, por algumas lideranças, apoiadas pelo agora ocupante do cargo, Jair Bolsonaro.

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Depois de insuflar por dois meses, com a adesão de uma parcela “milhardária” das empresas exportadoras do setor do agronegócio, viu atendido os seus apelos, para que acorressem a Brasília e ao coração de São Paulo (a Avenida Paulista). Não obteve o resultado esperado, mas exibiu um público de impressionar, para aplaudir e gritar “eu autorizo”. 

Por “eu autorizo”, entenda-se: a intervenção nos poderes da República: o Supremo tribunal Federal (STF), que detém processos contra ele e seus “filhinhos” e onde pretende colocar mais um de seus escolhidos, o “terrivelmente evangélico” André Mendonça, ex-AGU. Sim, o atual ministro da Justiça, muito afeito a dossiês e processos contra jornalistas, professores, antropólogos e todos que julgar adversários do governo que jurou servir, prometendo, inclusive, a Bolsonaro, iniciar suas semanas e sessões, com cultos na sede do STF. Que Deus nos livre! E o Senado, onde teve barrado o seu pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes.

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Deu ruim. Passou do ponto. Bolsonaro atiçou a fogueira, assoprou o tição em brasa e fez surgir labaredas consistentes. No day after, acordou com os seus “fiéis seguidores”, tal como havia sugerido - as redes sociais estão aí para não nos deixar mentir - bloqueando estradas e interceptando caminhões de “freteiros” autônomos. Em nome do quê? Do fechamento do STF, da intervenção militar, do golpe, enfim. E o que viria depois? Nem Bolsonaro parecia saber bem o que faria depois de conquistar o poder absoluto. (Agia em nome do medo da prisão e a dos filhos, como chegou a explicitar, quando disse que sabia que seria preso ou morto, mas queria a vitória).

Por algumas horas considerou que a tinha. Por fim, deu de cara com a dura realidade. Uma queda da bolsa de 3,78% (a maior em seis meses) uma alta do dólar na casa dos 2,93% e o anúncio, pela Fundação Getúlio Vargas, de que o brasileiro, em nome do qual disse agir, havia perdido 9,4% da sua renda. (Nem vou mencionar os quase 600 mil mortos, que para ele nunca importaram). 

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Lá fora, no exterior, 150 líderes políticos esboçaram preocupação com o que nos aflige aqui, abaixo do Equador. Até o secretário-geral da ONU, António Guterres, se disse incomodado com as notícias do Brasil.

Hoje, depois de quatro horas de conversa, Michel, um exímio golpista, expert em salvar a própria pele, aconselhou Bolsonaro a deflagar a bandeira branca. Isto, depois de vê-lo soltar um “apelo” para que os seus “orientandos” desmontassem o estrago feito com as paralisações país afora. Sua voz no áudio era a de alguém tão deprimido que o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, precisou vir a público confirmar tratar-se do mesmo Bolsonaro que esbravejou na Paulista contra o ministro Alexandre de Moraes.

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Em São Paulo, fez crer às 125 mil pessoas, (público estimado no ato de 7 de setembro) que “ele não existe mais”, referindo-se ao ministro do STF. Incitou a massa contra Moraes. Estivesse visível em algum canto da cidade, para os “mobilizados” e seria linchado, não tenham dúvida. Hoje, no manifesto de “rendição” escrito por Michel e assinado por ele, composto de 10 itens, declara no segundo: “2. Sei que boa parte dessas divergências decorrem de conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas pelo Ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news.”

Não soa como uma demonstração de apaziguamento. Não contém a humildade suficiente de quem tenta se desculpar ou procura o entendimento. Ademais, DEM, PSB, PSL, PV, Cidadania e PT já se reuniram para discutir um novo pedido de impeachment, desta vez com indicação explícita do presidente do STF, Luiz Fux, que delegou ao Congresso a missão de tratar do destino daquele que, a plenos pulmões, urrou contra o Supremo, incorrendo, na interpretação do presidente da casa, (e de todos os que entendem do Direito), em crime de responsabilidade. Termina assinando o manifesto com a sua marca à lá TFP: Deus, Pátria e Família. A Deus, não teme. À pátria, não serve e de família, só entende da sua.

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Leia a íntegra da declaração:

Declaração à Nação

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No instante em que o país se encontra dividido entre instituições é meu dever, como Presidente da República, vir a público para dizer:

1. Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar.

2. Sei que boa parte dessas divergências decorrem de conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas pelo Ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news.

3. Mas na vida pública as pessoas que exercem o poder, não têm o direito de “esticar a corda”, a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia.

4. Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum.

5. Em que pesem suas qualidades como jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do Ministro Alexandre de Moraes.

6. Sendo assim, essas questões devem ser resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais previsto no Art 5º da Constituição Federal.

7. Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país.

8. Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição.

9. Sempre estive disposto a manter diálogo permanente com os demais Poderes pela manutenção da harmonia e independência entre eles.

10. Finalmente, quero registrar e agradecer o extraordinário apoio do povo brasileiro, com quem alinho meus princípios e valores, e conduzo os destinos do nosso Brasil.

DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA

Jair Bolsonaro

Presidente da República federativa do Brasil

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