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Judson Nascimento

Professor universitário, Doutor em Engenharia de Produção, atua nas áreas de gestão e inovação social, além de consultor da Incubadora Afro Brasileira no Rio de Janeiro

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Coxinha e mortadela, direita ou esquerda?

Tentar olhar o problema de fora, beber em diferentes fontes, saber o que é ser neoliberal e suas implicações, procurar saber qual a relação existente entre o que está acontecendo e o que aconteceu em 1964 ajuda a entender o que realmente está por trás de tudo isso

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Chega uma hora que é preciso tomar uma posição e para isso há que se reunir um leque de informações diversificadas que nos permita compreender melhor como opera esse Fla-Flu e não ficar restrito à perspectiva do Fla ou do Flu. E acreditem, tomar uma posição pode ser não estar alinhado com o Fla nem com o Flu. Tentar olhar o problema de fora, beber em diferentes fontes, saber o que é ser neoliberal e suas implicações, procurar saber qual a relação existente entre o que está acontecendo e o que aconteceu em 1964 ajuda a entender o que realmente está por trás de tudo isso. Entender que a corrupção também foi pano de fundo para o golpe de 64 e que as elites foram para as ruas de verde e amarelo, falando em patriotismo, ajuda a compreender mais profundamente o jogo. Buscar sustentação nos argumentos é imperativo para o fortalecimento do debate. Um debate de ideias, não de violência verbal. Esta é sem dúvida a arma favorita dos ignorantes quando utilizam o ódio aliado a desinformação. A prática frequente é a desqualificação do outro, a generalização e adjetivação de tudo que se vê pela frente. Ter uma percepção clara do que é estar a direita ou a esquerda e suas implicações, é de fundamental importância para a democracia, caso contrário só restará o papel da bola para exercer nesse jogo e não o de jogador e muito menos de treinador.

Invariavelmente, estar mais à direita significa apoiar o neoliberalismo, ou seja, acreditar que as forças que regulam o livre mercado sejam capazes de proporcionar a justa medida, crescimento econômico e desenvolvimento social de um país. O próprio economista John Keynes, mostrou a fragilidade da teoria da "mão invisível" a qual acreditava-se no equilíbrio entre bem-estar global e os agentes econômicos. Dados atuais mostram o quão inverossímil é este argumento, haja vista que dos 7 bilhões de pessoas que compões a população mundial, aproximadamente 3 bilhões vivem com menos de 2 dólares por dia. Ou seja quase a metade da população mundial vive praticamente em estado de miséria. 15,86% da população do planeta se apropriam de 79,93% da produção mundial. O Brasil é a oitava economia do mundo e a septuagésima quinta (nr.75) em Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, um índice utilizado para medir desenvolvimento humano, utilizando os indicadores de educação, saúde e renda da população. O Economista francês Thomas Piketty acabou de apresentar uma pesquisa inconteste, destacando que o capitalismo possui uma tendência inerente de concentração de riqueza nas mãos de poucos, ou seja a pobreza é fruto do próprio sistema capitalista e que não é razoável eliminá-la sem mudar a lógica capitalista. Portanto a pobreza nada tem a ver com preguiça como alguns desinformados preconizam e sim fruto do próprio sistema econômico dominante.

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Neste sentido, observa-se que o sistema econômico capitalista precisa da inovação tecnológica para maximizar seus lucros e a saída para isto é a obsolescência planejada, ou seja, tornar os produtos "velhos", sem valor para que o consumidor seja obrigado a adquirir um outro mais "moderno". Com isso, a engrenagem da máquina capitalista poderá produzir e vender mais produtos de "valor", produzindo poluição e desequilíbrio ambiental na extração da matéria-prima, na produção e no descarte. A grande questão é que a tecnologia de ponta que permite tal obsolescência só é acessível para quem possui as melhores condições de estudo, isto é, a minoria que habita o topo da pirâmide social, a elite. Logo, apenas os que possuem conhecimento que contribuam com a engrenagem dessa máquina é que serão absorvidos pelo mercado enquanto os demais serão jogados à margem da sociedade, o exército de reserve, vulgo desemprego, aumentando a instabilidade social, a quantidade de famílias desagregadas e a violência. Por este motivo o neoliberalismo não dá conta de proporcionar crescimento econômico e desenvolvimento social de maneira equânime.

Não creio que o socialismo seja a saída haja vista seu princípio básico de ignorar a organização do sistema capitalista, ter revelado resultados insatisfatórios sob o ponto de vista da democracia, do crescimento econômico e social. Assim, há que se pensar em um modelo socioeconômico alternativo a esses modelos vigentes que permita de maneira mais contundente proporcionar bem-estar da maneira mais ampla possível, respeitando o estado democrático de direito. Logo o discurso passa a se deslocar do eixo capitalismo x socialismo para uma vertente transversal a essa, para uma proposição de sistema econômico que não se alinha com esta visão dual.

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Esta alternativa existe e possui algumas denominações, tais como desenvolvimento local, sítios simbólicos de pertencimento, design e inovação social, dentre outros. A proposta parte da premissa de que desenvolvimento precisa ser necessariamente endógeno e não exógeno, ou seja, de dentro para fora e não de fora para dentro, como ocorre na globalização. Esta, busca criar um padrão de desenvolvimento para realidades distintas, dificultando seu encaixe. Nesse sentido, a premissa básica é valorizar a diversidade, a ética, a cultura, as crenças, o saber-fazer, os recursos naturais e a mão de obra local como condição para o desenvolvimento, entendendo-se desenvolvimento não apenas como crescimento econômico, mas sobretudo como desenvolvimento humano e social, preservando a cultura e o meio ambiente. O homo situs deve se sobrepor ao homo oeconomicus, isto é, o indivíduo deve estar no centro das coisas e não a economia. A economia deve girar em torno do indivíduo e não o indivíduo em torno da economia, colocando o ser humano e seu habitat no centro da agenda do desenvolvimento. Observe que não se está aqui renunciando à economia, apenas revalorizando sua importância e mudando seu foco. Estamos falando de uma economia social, ou seja, que visa diminuir o fosso e as desigualdades entre os estratos sociais, por acreditar que a melhor opção é gerar oportunidades mais justas para todos e não para um pequeno estrato da população.

Assim, historicamente é a esquerda que geralmente coloca em sua agenda questões relativas a inclusão social e respeito à pluralidade e promoção da igualdade de gênero, étnicas, combate a homofobia e toda sorte de discriminação e preconceito. A direita tem sido mais conservadora e preconceituosa no trato dos direitos e garantias dos cidadãos como a programas de inclusão social, ser contra as cotas para negro, a união de pessoas do mesmo sexo e políticas públicas para a erradicação da fome dentre outros. A razão é que ao deixar para o livre-mercado regular a forma de organização social, os desequilíbrios se intensificam, aumentado a pobreza, caso não haja uma participação efetiva do Estado com a implementação de programas sociais. Portanto, um posicionamento consciente se faz necessário para que se possa dar uma contribuição mais eficaz para o país onde seja possível viver bem, assegurando bem-estar de maneira mais ampla e justa.

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Independentemente do lado que se esteja, do partido escolhido ou do tipo de corrupção existente, sistêmica ou não, há que se refletir sobre a serviço de que se pretende contribuir, em prol de uma sociedade mais justa para todos ou de uma sociedade que privilegie poucos em detrimento de muitos? Partindo-se dessa premissa, fica bem mais fácil escolher os representantes e caso não correspondam às expectativas, basta utilizar o meio mais democrático possível; o voto.

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