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Crime, Futebol e Música

Crime, Futebol e Música (Foto: Reuters/Hamad I Mohammed)

Recentemente assisti à série sueca de nome “Som na Faixa”, disponível na popular plataforma de streaming Netflix. A série narra a história de todo o processo de criação da empresa Spotify, que oferece serviços digitais de acesso instantâneo a milhões de músicas, podcasts, vídeos e outros conteúdos de criadores pelo mundo. Conduto, o que me cativou durante a série é relação da música na vida das pessoas, me identifiquei com essa relação, pois determinadas músicas me trazem a tona lembranças amáveis de momentos da vida. Creio que independentemente do gosto musical o mesmo ocorre com diversas pessoas. No inicio da Série temos uma narração sobre a definição de música por parte de um dos personagens: “O que é música afinal? falando de uma perspectiva puramente técnica é o encadeamento de uma série de sons para criar uma reação na mente humana, mas é muito mais do que isso. As minhas lembranças mais felizes sempre tiveram a ver com a música, como a minha mãe dançando Aretha Franklin na sala de casa. Quando a música favorita dela tocava no rádio não éramos mais dois perdedores dentro de um apartamento onde podia se ouvir os vizinhos brigando. De repente nós nos sentíamos livres. Eu me lembro de economizar para comprar aquele CD pra ela, foi caro pra caramba! Eu me lembro do olhar condescendente do caixa da loja quando eu paguei com as moedas que eu tinha juntado”.  

Quando o narrador cita que “Não éramos mais dois perdedores dentro de um apartamento onde podia se ouvir os vizinhos brigando” neste momento ele exprime a situação de pobreza em que sua mãe e ele moravam na Suécia. Neste momento faço uma pausa para me recordar das músicas do Rei Roberto Carlos que tocavam no único rádio que minha mãe e eu tínhamos na nossa casa durante minha infância, e até hoje quando toca Roberto Carlos lembro-me dos “detalhes tão pequenos de nós dois”. Entretanto, partindo do princípio que a Suécia é um país Europeu temos dificuldades em relacionar pobreza com o velho continente, várias vezes me perguntei se existem pobres nestes países ditos de primeiro mundo, e se existem na minha concepção as vidas deles eram bem mais confortáveis que as vidas dos pobres dos países chamados de terceiro mundo. No entanto, uma matéria da BBC News Brasil do início de novembro de 2019 trouxe a seguinte informação: “A diferença entre ricos e pobres tem aumentado constantemente desde os anos 90. A parcela 20% mais rica da população ganha agora quatro vezes mais que os 20% mais pobres”. A autora Lola Akinmade Åkerström, que escreve sobre a cultura sueca e moradora de Estocolmo (Capital da Suécia) há mais de uma década, Lola refere que falar sobre dinheiro é "um assunto muito desconfortável" no país. Ou seja, os suecos preferem falar de outros assuntos que julgam ser mais relevantes em sua sociedade.

Realmente existem assuntos que são delicados de serem abordados, a má distribuição de renda de um país é um desses assuntos, e como vimos no exemplo anterior, esta ação de não tocar no assunto não se limita a países pobres, de terceiro mundo. O racismo, por exemplo, também é um assunto que muitos não gostam de falar. O racismo é um assunto tão complexo e tratado de forma tão superficial aqui no Brasil (Vide meu artigo sobre a consciência negra, onde abordo o racismo estrutural) que até uma grande parte dos próprios negros não querem entrar no assunto, não querem estudar sobre e preferem ficar de fora da discussão, porque a final hoje em dia tudo que se fala vira uma enorme discussão e geram muitas polemicas não é mesmo? Como dizia o grupo de Rap Racionais Mc’s em uma de suas músicas: “Os próprios pretos não estão nem ai pra isso não” (Grupo responsável por aguçar a autoestima da população negra e demais moradores de favelas e periferias situadas pelo Brasil).

A ideia vendida que todos somos iguais e que não há necessidades de abordamos determinados assuntos dificulta a criação de políticas públicas que visam à melhoria da vida dos mais necessitados. Não somos todos iguais, temos nossas diferenças, sejam elas no jeito de pensar, de se expressar, de aprender ou em nossas condições sociais. Será que na Suécia existem pobres em situações calamitosas que não temos conhecimento devido à falta de interesse do debate sobre a distribuição de renda do país? O que será que não sabemos devido a falta de iniciativas ao debater o assunto? Você sabia que o nos últimos anos aumentou o número de mulheres assassinadas com e sem arma de fogo no Brasil? As informações melhores detalhadas encontramos no site do Instituto Sou da Paz, que foi premiado com uma das 100 melhores ONGs do Brasil. Porém retornando ao assunto da Suécia, a seleção referida encontra-se na Copa do Mundo correto? Não, errado, a seleção Sueca não conseguiu a classificação para o torneio que teve seu início no ultimo dia 20 de novembro no Catar, competição esta que para muitos se trata do maior evento esportivo, a Copa do Mundo de seleções organizada pela FIFA (Federação Internacional de Futebol Associado).

Catar, país do oriente médio que possui suas crenças e costumes, segundo matéria recente da CNN Brasil, o país que vem ganhando grande notoriedade, não somente pelo fato de sedia a Copa do Mundo, mas também pela quantidade de trabalhadores mortos durante as construções dos estádios para a Copa, país que possui leis duras contra mulheres e homossexuais. Devido as suas leis locais existem situações que no Catar não é considerado crime, assim como em outros países pelo mundo, conduto não devemos nos esquecer da declaração dos direitos humanos, publicada pela ONU (Organização das Nações Unidas) no dia 10 de dezembro de 1948, ou seja, durante o evento da copa do mundo essa declaração estará completando 74 anos, e mesmo depois de tanto tempo, de tantas batalhas visando à conquista de direitos para nós seres humanos, temos que ter a coragem de continuar denunciando, de tocar na ferida, pois como dizia Martin Luther King: “O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons” E novamente lembrando os Racionais Mc’s: “Crime, futebol e música... eu não consigo sair dessa”, ou seja, esses elementos estão fortemente presentes no cotidiano de muitos seres humanos, não necessariamente nesta ordem. “Forrest Gump é mato”, tradução, (Forrest Gump, contadores de histórias) existem muitos. Eu contei algumas historias reais sobre algumas parcelas da população mundial, e você pode também contar a sua história, ou a história de quem for. Se permita abordar assuntos delicados com responsabilidade, certifique-se que essas histórias passaram pelo crivo da verdade e denuncie.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.