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Marcia Carmo

Jornalista e correspondente do Brasil 247 na Argentina. Mestra em Estudos Latino-Americanos (Unsam, de Buenos Aires), autora do livro ‘América do Sul’ (editora DBA).

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Cristina Kirchner falou. O relógio não para

No discurso desta quinta-feira, Cristina recordou o que entende que foram os melhores resultados do kirchnerismo

Cristina Kirchner discursa para multidão (Foto: Prensa Senado/Télam)
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Na data em que a Argentina comemora os 20 anos do kirchnerismo, a ex-presidente e vice-presidente Cristina Kirchner discursou para uma Praça de Maio lotada. No palco, de costas para a Casa Rosada, a sede da Presidência, estavam vários ministros do governo de Alberto Fernández e de Cristina. O presidente foi uma ausência notada. Ele disse que não tinha sido convidado. Os dois já não dissimulam o distanciamento político e público. “Não fui convidado, mas não me sinto isolado”, disse Fernández. A tarde chuvosa revelou uma Cristina mística. “Sem os rosários que me presenteiam, sem o amor de vocês, sem Deus e sem a virgem, eu não estaria aqui. Obrigada a todos.” O discurso de Cristina foi exibido praticamente na integra e ao vivo pelas emissoras de televisão do país, enquanto seus seguidores entoavam: “Cristina presidente”. Na sua fala, ela não deu sinais de que pretende mudar de ideia sobre a decisão de não disputar a Presidência, na eleição presidencial do dia 22 de outubro. E citou ‘renovação política’ pelo menos uma vez.

Nesta quinta-feira, dia 25 de maio, os argentinos relembram também a Revolução de Maio, decisiva para a independência do país da Espanha, em 1810. A jornada política começou com Alberto Fernández e seus ministros participando da tradicional cerimônia religiosa, na catedral de Buenos Aires, que marca a data histórica. Ele invocou um pedido de união ao citar, em um vídeo, que este era o desejo de Néstor Kirchner – presidente entre 2003 e 2007 e que faleceu em 2010. Fernández foi chefe de Gabinete no governo de Kirchner e sempre foi mais próximo dele do que dela. Foi ela quem o indicou para a campanha presidencial em 2019. O apoio de Cristina foi decisivo para a eleição de Fernández na disputa eleitoral com o ex-presidente Mauricio Macri.

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No palco liderado por Cristina, nesta quinta-feira, dois possíveis candidatos à Presidência estavam lado a lado. Os ministros da Economia, Sergio Massa, e do Interior, Wado de Pedro. Na sua fala, Cristina relembrou que o kirchnerismo colocou o foco na maior presença do Estado. Ela afirmou que o salário mínimo chegou a ser o maior da América Latina durante seu governo (2007-2015). Que o índice de argentinos com a cobertura da previdência social chegou a 97%. A ex-presidente recordou que, durante o kirchnerismo, empresas estatais foram reestatizadas – caso da petrolífera YPF e da companhia aérea Aerolíneas Argentinas.
“Em 2015 deixamos um país melhor do que aquele que tínhamos recebido”, disse. E afirmou que em 2019, a herança que o kirchnerismo recebeu do ex-presidente Macri foi de dívida econômica, incluindo a que foi contraída com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Macri, por sua vez, costuma dizer que ‘culpa’ por ter apelado ao FMI foi da ‘herança recebida do governo de Cristina’.

“Assim como Lula (Luiz Inácio Lula da Silva), Néstor pagou tudo o que se devia ao FMI. Mas voltamos a ter dívida com o Fundo (durante o macrismo)”.

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“Se não deixamos o programa do FMI, será impossível (que a Argentina se recupere”, afirmou. Essa foi uma das frases mais destacadas pelo canal de televisão C5N, simpático à ex-presidente, durante seu discurso.
Cristina criticou a Justiça, dizendo que parece de tempos monárquicos, já que pouco se sabe sobre a vida econômica ou onde moram os juízes. “Não é democrático não saber a condição econômica dos juízes. Não é democrático não saber onde os juízes moram. Não é democrático”, afirmou. A plateia, com muitos jovens, famílias e setores do sindicalismo, gritava ‘Cristina presidente’. Ela voltou a afirmar que é perseguida pela Justiça. “Querem me prender”, disse. E ressaltou que não pretende mudar suas convicções para agradar aos que para ela merecem seu repúdio – como os que defendem, indicou, privatizações ou a dolarização da economia, caso do presidenciável de extrema-direita Javier Millei.

Cristina estava rodeada por alguns governadores, prefeitos e parlamentares do peronismo – a maior força política do país, apesar de agora mais fragmentada. Ela pareceu alfinetar Fernández ao afirmar que também no seu governo ocorreram fatos desafiadores, como a crise econômica mundial de 2008 (Lehman Brothers). O presidente costuma afirmar que seu governo foi afetado pela pandemia e pela seca histórica que castiga o país e, consequentemente, a geração de divisas e o desempenho da sua gestão como um todo.  Apesar da aparente alfinetada, Cristina disse que um governo Macri teria sido muito pior para os argentinos.

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Com a inflação de 108% em 12 meses, até abril deste ano, o kirchnerismo encara o desafio de vencer a que poderia ser a sua eleição mais difícil. No discurso desta quinta-feira, Cristina recordou o que entende que foram os melhores resultados do kirchnerismo. Mas o desafio está à frente – no primeiro turno da eleição presidencial, no dia 22 de outubro. E antes também, em agosto. Fernández defende a definição do candidato presidencial do governo através de primárias. Cristina sugere que o candidato seja definido por consenso, antes das primárias. O relógio não vai parar.

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