Cristo me visitou nesta sexta-feira
O reino de Cristo não tem nada a ver com defuntos nem com os monumentos dos reis que estraçalham os nossos povos e esmagam nosso sorriso latino-americano, composto por povos milenares e felizes
Prezado Prof. Roberto Bueno, Universidade Federal de Uberlândia, MG
Agradeço por sua amizade e pela disposição em colaborar com este blog. Conto com seus competentes artigos na análise da realidade do Brasil golpeado.
Nesta sexta-feira, dia 09 de setembro, recebi Cristo na minha residência.
Note bem, o cristo que me visitou não é o criado pela igreja dos poderosos do império romano.
O cristo que me visitou não é o da classe escravocrata que se calou em face da tragédia desumana inventada pelos donos do mundo, que avassalaram as culturas e as almas africanas ao arrastarem jovens feitos animais de tração, torturados e mortos sob chicotadas, sem direito à organização e à dignidade.
Não o cristo que nada fez para denunciar os assassinos que mataram negros e indígenas, cujo sangue tingiu eternamente nosso chão latino americano.
Nunca me visitaria o cristo dos cardeais generais colombianos, aliados criminosos da oligarquia assassina dos camponeses e indígenas pobres.
Também eu não receberia o cristo dos bispos que não concitam o povo brasileiro a se rebelar contra o golpe e a favor da democracia inclusiva, popular e da soberania nacional.
Não recepcionaria o cristo da hierarquia romana do Vaticano infiltrado pelos militantes da "Opus Dei", notoriamente fascistas e apoios dos poderosos imperialistas, verdadeiras travas que tentam barrar o Papa Francisco de ser verdadeiro cristão seguidor do verdadeiro Cristo Libertador.
Não viria à minha casa, jamais, o cristo dos bispos que escrevem nota apenas para dizer que vivemos dias de tristeza no Brasil, numa linguagem de bom mocismo, sem nada dizer de modo forte para denunciar as barbaridades que as oligarquias impõem ao nosso País.
Não se assentaria à minha mesa de refeições o cristo dos pastores ricos, falsos evangélicos, adeptos da teologia da prosperidade inventada por Ronald Reagan, donos de aviões, de carros luxuosos, de fazendas, de tvs e de rádios para alienar e manipular o povo, aliados dos bancos, ladrões de dízimos, fundamentalistas, homofóbicos e fascistas teocráticos, base de apoio do golpe de Estado no Brasil.
Não entraria por esta porta o cristo curandeiro que vende orações e que mente para enriquecer em cima das desgraças e misérias humanas.
O cristo que bajula ricos e cheirosos em desprezo aos pobres jamais sentaria em minha sala.
O cristo que odeia a luta por dignidade, por direitos sociais e humanos, os que se rebelam contra a ordem dominante, contra o silêncio e omissão dos covardes e mentirosos que pregam o céu como paraíso de acomodados, deixando a terra para os exploradores que ressecam as carnes, nervos e emoções dos pobres, não seria recepcionado por mim. Tenho nojo dele.
Esse cristo que não une os rebelados e lutadores, mas que pede para o povo fechar os olhos para orar ou rezar enquanto é manipulado, enganado e pisado me causa asco e ânsia de vômito.
Na sexta-feira, esse cristo dos poderosos com todas essas e outras facetas não entrou em minha casa e não recebeu meu abraço caloroso.
O Cristo de chapéu de agricultor, que me abraçou calorosamente, foi o mesmo que caminhava entre os povoados da Palestina, suado e cansado.
O Cristo que sentou ao meu lado na sexta-feira é o mesmo que entrou de chicote em punhos no templo de Salomão, expulsando os vendilhões da Casa do Pai e do povo explorado pelo império romano e pela religião alienante, aparelho importante para que as botas dos coronéis continuassem a pisar nos pobres.
Esse Cristo, desprezado pelas igrejas dos poderosos, é o mesmo que disse que o seu reino tem a justiça como valor absoluto da conduta de seus seguidores (Mt 6, 33).
O Cristo que me visitou é o mesmo traído pelos fariseus do século primeiro, que manipularam o povo para que este o crucificasse escolhendo um ladrão e corrupto para a liberdade, como a Globo faz hoje no Brasil em apoio a certos juízes e a certas forças tarefas que só perseguem e prendem um lado só da sociedade.
O Cristo que rezou comigo e me emocionou, me levando às lágrimas, é o mesmo que preferiu a cruz às facilidades satânicas dos traidores e golpistas de sempre.
Quem me visitou foi um verdadeiro padre católico e cristão, integrante de uma das maiores organizações revolucionárias latino americanas. Essa organização, difamada pelo imperialismo e pela mídia a serviço da opressão e do roubo de nossas riquezas, nada mais é do que a resistência do povo, obrigado a empunhar armas para defender sua luta por uma sociedade sem a iniquidade da desigualdade, atacada pelas oligarquias e pelo cristo das igrejas traidoras de Cristo.
Com este verdadeiro padre e verdadeiro cristão trocamos informes sérios sobre o que se passa no Brasil e na América Latina.
Reforçamos a convicção de que o golpe no Brasil foi dado pelos banqueiros, pela FIESP, pela mídia e, sobretudo, pelo imperialismo estadunidense. Tanto que a embaixadora que atuou no Paraguai para derrubar o Presidente Fernando Lugo, a dona Liliane Ayalde, agiu dedicada e pessoalmente para empurrar os canalhas a votar no impeachment.
O descaramento foi tão grande ao ponto de a senhora Ayalde, em desvio da missão diplomática, agir dentro do Senado da República para engendrar o golpe de Estado via parlamento e judiciário brasileiros. Tal barbaridade é demonstração da submissão e falta de respeito dos 61 canalhas que votaram a favor do golpe, como os denunciaram os senadores Lindbergh Farias e Roberto Requião.
O sintoma do golpe engendrado, mais uma vez, pelas mãos sinistras dos Estados Unidos, usando a sua embaixada no Brasil, como aconteceu em 1964, é confirmado pela transferência de Liliane Ayalde para a Venezuela. Lá naquele País sua missão diabólica será a de derrubar o governo bolivariano. A lógica na interpretação da realidade não falha, ainda mais com as ações tão escancaradas como as praticadas por esse tipo de embaixada.
A troca de informes que fiz com o Cristo Libertador confere com a matéria elaborada por um dos mais competentes jornalistas brasileiros. Luiz Nassif, que não exerce sua profissão de maneira promíscua na traição à verdade, como a maioria de seus colegas, baseado na sua credibilidade investigativa e científica, desvenda com todas as letras a hipocrisia de Rodrigo Janot na colaboração com o golpe.
Didaticamente, o jornalista e blogueiro, em forma de lances de um jogo de xadrez, mostra os atos do Procurador Geral da República para proteger Aécio Neves e incriminar sem provas todos os que ameaçam a estratégia golpista dos sem voto para chegar ao poder com eleições manipuladas e corrompidas em 2018.
De modo franco e honesto Luis Nassif denuncia: "Janot foi um dos artífices do golpe. Teve papel central para entregar o país aos projetos e negócios de Michel Temer, Geddel Vieira Lima, Eliseu Padilha, Romero Jucá, Moreira Franco e José Serra, entre outros. Sacrificou-se apenas Eduardo Cunha no altar da hipocrisia" (leia todo o artigo aqui).
Com o Cristo Libertador conversei sobre o mesmo pano de fundo da Palestina do século primeiro, tecido por traições, por armadilhas, por dedoduragens, por assassinatos de reputações e por golpes que redundam em mortes lentas ou rápidas da justiça social, da dignidade nacional e do povo.
O Cristo verdadeiro me deixou de presente dois livros maravilhosos. Um intitulado "Simón Bolívar O Libertador", editado pela Biblioteca Ayacubacho de Caracas, Venezuela. E o outro "Laboratorio de Embrujos Democracia y Terrorismo de Estado", de Hernando Calvo Ospina, editado pela Resumen Latinoamericano.
Ao entardecer avaliamos e refletimos sobre nosso encontro. Em mim se move a consciência de que o Cristo Libertador não é o dos religiosos que levam vantagens dos exploradores, golpistas e conservadores que vivem do sangue do povo.
O Cristo Libertador continua sendo o que se realiza na luta dos que não se acomodam e não se deixam enrolar pelos manipuladores, que matam a liberdade e espezinham a justiça social.
O reino de Cristo não tem nada a ver com defuntos nem com os monumentos dos reis que estraçalham os nossos povos e esmagam nosso sorriso latino-americano, composto por povos milenares e felizes.
De parte a parte fica o convite para celebrações eucarísticas da libertação. Celebraremos a partilha do pão e do vinho do corpo do Cristo estraçalhado pelos poderosos, do sangue derramado pelos mártires da justiça social. Ao final da celebração eucarística o abraço da paz não será o da conciliação com os oligarcas assassinos de Cristo, mas o da unidade das pessoas capazes de comungar a unidade na libertação, na tolerância às diferenças.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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