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Elenira Vilela

Professora do Instituto Federal de Santa Catarina, líder sindical e do Partido dos Trabalhadores em Santa Catarina

14 artigos

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Cuidemos das mães e de suas filhas, filhos e filhes!

"Temos que cuidar das mães e de seus filhes. Temos que lembrar que é preciso de uma aldeia inteira pra criar uma criança, pra essa criança se tornar um pessoa humana. É preciso lutar por políticas públicas imediatamente e por uma outra sociedade... Aí talvez possamos ter um dia das mães de efetivas comemorações e alegrias."

(Foto: Sérgio Silva)
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Por Elenira Vilela

Eu acordei cansada...

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Cansada da dor...

E hoje é um dia que as dores tornam-se mais pungentes.

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Mas hoje eu quero falar da dor. O dia das mães sempre foi um dia de dor pra quem não tem sua mãe pra comemorar ou dor ainda mais avassaladora, a dor da mãe que não tem seu filho nesse dia simbólico.

Eu sempre abracei meus filhos e minha mãe nesse dia, sem grandes efusividades ou expectativas. Aprendi com minha mãe o direito da mãe de continuar a ser pessoa independente de ser mãe, de desejar prazeres, de realizar vontades, de não ser obrigada a abrir mão completamente de seu própria existência em nome da existência dos filhos. Passei alguns dias das mães longe dos meus filhos e da minha mãe e é necessário naturalizar a ausência, de não estar sempre disponível, porque é desumano ser cobrada por estar.

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Mas sempre vi dor no dia das mães (assim como no Natal).

Vamos falar de trás pra frente: pense na dor das 29 mães e avós que tiveram seus filhos assassinados na chacina do Jacarezinho, como sobreviver a essa dor? Lembremos que independentes se “bons ou maus” filhos, as mães amam, tentam proteger, acolhem e sofrem. Independente de quantos erros as mães cometeram, a grande maioria está fortemente ligada aos filhos e os cuidam. Vi que estão divulgando um vídeo que mostra uma dessas mães “errando” porque segura armas (aparentemente falsas, porque se reais dificilmente ela conseguiria carrega-las) e brinca com elas. Como alguém pode ser tão cruel para difamar uma mãe que acabou de perder seu filho? Como você pode fazer circular imagens para aumentar sua dor e sua culpa? Como será o dia das mães nas famílias dos mais de 6000 moradores assassinados pela polícia do Rio de Janeiro? Como será o dia das mães dos 142 policiais assassinados na guerra contra a pobreza, da qual são bucha de canhão, algozes e vítimas pra garantir o lucro de uns poucos?

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Como vão passar pelo dia das mães as mães dos 3 bebês e das 2 jovens educadoras assassinadas (das 5 pessoas mortas, 4 eram mulheres) pelo misógino? Esse jovem alimentado pela barbárie social do ódio naturalizado contra mulheres se torna um homem branco frágil pelo patriarcado que se considera merecedor de direito de um afeto que considera negado pelo feminismo, pela liberação da mulher que trabalha, que é educada e educa e que devota seu afeto a crianças que ele vê como ladrões desse afeto que seria seu e se vê não somente no direito, mas na obrigação de matar. Como vai ser o dia das mães da mãe desse jovem que se transformou nesse mostro?

Como será o dia das mães de milhões de mães e filhes que perderam as 550 mil (considerando os números das mortes por SRAG excedentes e por COVID) pessoas para o genocídio sanitário pela política deliberada de promover a infecção e a morte com a desinformação, com a promoção de medicamentos que não previnem ou tratam essa infecção viral e promovem efeitos colaterais que aumentaram as mortes, que não promoveram e divulgaram o que de fato pode prevenir e que não compraram vacinas? Lembrando que de todas as mortes de gestantes e puérperas por COVID registradas no mundo, metade ocorreram no Brasil, como será o dia das mães dessas crianças que jamais conhecerão suas mães biológicas por toda a vida?

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Como será o dia das mães do Lucas, do Alexandre e do Fernando que estão desaparecidos desde dezembro e que não veem uma comoção nacional em busca de respostas sobre o que houve com esses meninos? Como será o dia das mães das mães da Rebecca e da Emily, da Agatha, do Marcos e de todas as 5 mil crianças assassinadas nos últimos anos, sendo que 75% delas eram negras e periféricas e a maior parte foi assassinada pela polícia (entre 2017 e 2019 foram mais de 2 mil) e a grande maioria desses assassinatos não é investigado e jamais há justiça.

Como será o dia das mães transgêneras e travestis que estão afastadas de seus filhes pela transfobia ou das mães LBTs que perdem contato com seus filhes quando as mães biológicas morrem e as famílias e o judiciários lbtfóbicas dão prioridade da guarda dessas crianças a pessoas que por vezes nunca haviam convivido ou efetivamente cuidado dessas crianças?

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Como será o dia das mães de muitas mães que tem que fugir de uma cidade pra outra com seus filhes, perdem empregos pra fugir dos seus ex-parceiros que estão tentando matá-las por não aceitarem mais continuar se submetendo a uma vida de violência? Como será o dia das mães das mães que ainda vivem sob a violência doméstica e que muitas vezes acabam se submetendo porque erroneamente entende que permanecendo consegue proteger seus filhos ou mantê-los provendo as necessidades como alimentação e teto naquele contexto de violência? Como será o dia das mães dos filhes cujas mães foram vítimas de feminicídios e viram seus próprios pais ou padrastos tirarem a vida de suas mães, muitas vezes em sua frente?

Como será o dia das mães das mães encarceradas, boa parte delas sem processo trânsito em julgado, sem seus direitos de mãe respeitados, como o direito a cumprir prisão domiciliar no caso de mãe de filhes menores de 12 anos, das que tiveram que parir algemadas ou das que não conseguem amamentar ou são obrigadas a manter seus filhes encarcerades com elas para permitir a seus bebês que recebam o alimento mais completo que merecem e necessitam, em ambientes insalubres? Como será o dia das mães das mães dos 700 mil encarcerades dos quais 40% estão encarceradaes sem sentença condenatória, que estão em ambientes insalubres, em verdadeiras escolas do crime, muitos por terem cometido delitos menores como o roubo famélico ou por portar drogas ilícitas em quantidades consideradas de usuários, mas ao contrário do dono do helicóptero que tinha 450 kg de pasta base e está solto e há mais de uma ano sem direito à visita? Como será o dia das mães das mães de jovens encarcerados que entram em depressão e tiram a própria vida por não aguentar viver nesse ambiente sem ver as suas mães, companheiras e avós?

Como será o dia das mães das muitas mães e filhes que convivem com o desaparecimento de alguém que amam por anos a fio e a sociedade jamais dá suporte a essas famílias para encontrar fechamentos a suas histórias? Aí incluídas as famílias de desaparecidos políticos na ditadura militar aos quais nunca foi dada a oportunidade do fechamento, de encontrar e sepultar os seus, sem poder conhecer o que de fato aconteceu a eles e elas, sua ampla maioria jovens? 

Como será o dias das mães das mães cujos filhes ou dos filhes cujas mães foram assassinades por serem militantes da luta campesina, dos direitos humanos, dos indígenas, dos quilombolas, dos periféricos, dos ecologistas, das lutas feministas, antirracistas, pela moradia e dos socialista, anarquistas e comunistas?

Como será o dia das mães dos filhos órfãos porque suas mães desesperadas tentaram formas insalubres de interromper novas gravidezes e morreram tentando evitar ter mais um filho a sofrer nesse mundo que faz um discurso de defesa da vida, mas que só quer mandar no corpo da mulher sem se importar com o que sofre os que nasceram?

Como será o dia das mães de mães e filhes que sofrem todos os dias ao ver seus filhes e mães saírem pra trabalhar ou pra tentar conseguir alimento a suas famílias e que não sabem se voltam vivas, se conseguem trazer alimentos, se não estão trazendo junto consigo doença pra casa que pode levar alguns deles à morte?

Muito já se falou do caráter comercial do dia das mães. Muito também já se falou da romantização da sobrecarga da vida das mães quando se cria uma expectativa da super mulher, daquela que soluciona tudo e é responsável por estar em tudo e proteger seus filhos de tudo. Mas pouco se fala da dor, das feridas não cicatrizadas que são cutucadas de maneira brutal a cada dia das mães...

Enfim, enquanto vivermos em uma sociedade capitalista, racista, patriarcal e misógina, fascista, que naturaliza o ódio, a miséria, a opressão, a exploração e a morte, ter um dia pra supostamente exaltar as mães é cruel, serve mais pra abrir feridas das ausências, das faltas, para marcar as perdas e as culpas do que as conquistas e realizações.

Temos que cuidar das mães e de seus filhes. Temos que lembrar que é preciso de uma aldeia inteira pra criar uma criança, pra essa criança se tornar um pessoa humana. É preciso lutar por políticas públicas imediatamente e por uma outra sociedade... Aí talvez possamos ter um dia das mães de efetivas comemorações e alegrias. Aí possivelmente um dia das mães seja desnecessário, porque serão dias de viver plenamente e a maternidade será uma parte natural desse viver pleno.

#SocialismoOuBarbárie

#CuidemosDasMãesEDeSeusFilhes

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