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Jeferson Miola

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Cúpulas militares só abortaram plano de golpe por falta de apoio dos EUA

A democracia clama por investigação e responsabilização das cúpulas militares e oficiais conspiradores que atentaram contra o Estado de Direito

Atos terroristas de bolsonaristas contra as sedes dos Três Poderes, em Brasília - 08.01.2023 (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
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Em que pese o conhecimento detalhado que se tem hoje sobre a atuação partidária organizada das cúpulas das Forças Armadas como um partido político com projeto próprio de poder, amplos setores da sociedade brasileira ainda acreditam nas “narrativas” mentirosas dos militares, como a do chefe do Estado-Maior do Exército, general Fernando José Sant’Ana Soares e Silva, que sustenta que “nós, o Exército, nunca quisemos dar nenhum golpe”.

Decerto amparado na crença da eterna impunidade, o general vai longe no seu atrevimento: “Tanto não quisemos, que não demos [o golpe]”, declarou. A mensagem é clara: quando quiserem – ou, quando puderem –, os militares perpetrarão o golpe para tomarem de assalto o poder.

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As cúpulas militares estão vencendo a batalha comunicacional sobre este período histórico em que tiveram não só primazia absoluta na condução do governo fascista-militar, como centralidade nos trágicos acontecimentos precedentes e posteriores à eleição de 2018, quando elegeram a chapa militar Bolsonaro/Mourão à presidência do Brasil.

Habilmente, descarregam as “culpas” nos bodes expiatórios midiaticamente mais atraentes, como Bolsonaro, Mauro Cid e elementos secundários da súcia. Desse modo, essas cúpulas que implicaram institucionalmente as Forças Armadas nos atentados à democracia vão conseguindo se safar das responsabilidades diretas e centrais na conspiração.

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Já em 7 de outubro de 2018, data do primeiro turno da eleição presidencial, reportagem do jornalista argentino Marcelo Falak para o Ámbito Financiero destacava, a partir de relatos de uma fonte do alto oficialato das Forças Armadas brasileiras, que Bolsonaro era, na realidade, um Cavalo de Tróia para viabilizar o projeto secreto da cúpula militar – “o homem que a cúpula das Forças Armadas escolheram, há 4 anos [ainda em 2014, portanto], para que ele se fosse convertido no presidente do Brasil”.

A evolução dos acontecimentos confirmou o quão certa estava aquela reportagem [aqui].

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Agora, quase cinco anos depois, outra matéria jornalística – do jornal inglês Financial Times [FT, de 21/6] – traz claridade a respeito do protagonismo decisivo das cúpulas militares na complexa dinâmica política nacional.

O FT relata “uma pressão silenciosa de um ano pelo governo dos EUA para conclamar os líderes políticos e militares do país a respeitarem e protegerem a democracia”.

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Na matéria, o ex-embaixador dos EUA no Brasil [2016/2018] Michael McKinsley cita um “empenho muito incomum” que “durou quase um ano” e significou uma “campanha coordenada em várias ramificações do governo dos EUA, como os militares, a CIA, o Departamento de Estado, o Pentágono e a Casa Branca”.

De acordo com o também ex-embaixador dos EUA no Brasil [2009/2013] e ex-Sub-secretário do Departamento de Estado Thomas Shannon, “o esforço começou com a visita do assessor de segurança nacional de Biden, Jake Sullivan” a Bolsonaro e a autoridades do governo, em agosto de 2021.

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O assessor de segurança do governo Biden se convenceu que “Bolsonaro seria totalmente capaz de manipular os resultados da eleição ou negá-los, como Donald Trump havia feito”. A partir de tal constatação, o governo estadunidense decidiu aumentar as pressões sobre Bolsonaro e os militares.

No dia seguinte ao encontro que Bolsonaro promoveu com representações diplomáticas estrangeiras em Brasília para avacalhar o sistema eleitoral brasileiro, o Departamento de Estado saiu em defesa do sistema eleitoral e das instituições brasileiras, numa sinalização crítica à postura de Bolsonaro.

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Segundo uma autoridade do alto escalão do Brasil, aquele “endosso incomum” ao sistema de votação brasileiro “foi muito importante, especialmente para os militares. Eles recebem equipamentos dos EUA e fazem treinamentos lá, de modo que ter boas relações com os EUA é muito importante para os militares brasileiros. [Neste sentido], a declaração foi um antídoto contra a intervenção militar”.

Uma semana depois, foi a vez de Lloyd Austin, secretário de Defesa do governo Biden, dar uma reprimenda nas cúpulas fardadas nativas, dizendo que as forças militares precisavam estar “sob forte controle civil” [26/7/2022]. Conforme o FT, Austin alertou os militares brasileiros sobre as consequências negativas caso perpetrassem um golpe.

Além do assessor de segurança nacional e do secretário de Defesa dos EUA, a general Laura Richardson, chefe do Comando Sul dos EUA; e o chefe da CIA, William Burns, também se encontraram com o governo Bolsonaro no ano eleitoral. “Isso [tamanha movimentação] é comum? Não, não é”, disse McKinley, reconhecendo a anormalidade da situação.

Está claro, portanto, que as cúpulas militares só não prosseguiram o plano golpista de virada de mesa para impedir a posse do presidente Lula por falta de apoio dos EUA.

Fosse Donald Trump o presidente da potência do Norte, ou se Bolsonaro não fosse um aliado estadunidense tão visceralmente atrelado a Trump e contestador da eleição de Joe Biden, provavelmente o governo Biden não teria agido como agiu, e então os militares teriam avançado na consecução do golpe.

A democracia clama por investigação e responsabilização das cúpulas militares e oficiais conspiradores que atentaram contra o Estado de Direito. O Brasil não pode continuar nesse auto-engano eterno em relação às Forças Armadas. A impunidade é um caminho livre para a destruição da democracia.

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