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Ricardo Nêggo Tom

Cantor, compositor, produtor e apresentador do programa Um Tom de resistência na TV 247

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Daniel Alves e o caráter bolsonarista do estupro

Saber que ele pode estar atuando como possível estuprador deve revoltar ainda mais

Daniel Alves com a camisa do Pumas, do México (Foto: Divulgação/Pumas)
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Quando ouvimos falar em bolsonarismo como ideologia, com o perdão da heresia semântica, nos chega uma retórica que o associa à defesa da família, dos valores morais e cristãos, do conservadorismo, do patriotismo, da propriedade privada e da liberdade. Um fenômeno que, apesar de ser recente como visão política, é mais antigo do que o estupro de mulheres como comportamento social. Falando em estupro, que, por acaso, é o tema desse artigo, o jogador Daniel Alves, considerado por ele mesmo (talvez, apenas por ele mesmo) o jogador mais vencedor de todos os tempos no futebol mundial, teve a sua prisão preventiva decretada pela juíza Maria Concepción Canton Martín, sob a acusação de ter estuprado uma jovem de 23 anos dentro de uma boate em Barcelona, na Espanha.

O relato feito pela denunciante à justiça, é carregado de machismo, misoginia, desrespeito e violência contra as mulheres e reforça o debate sobre a cultura do estupro, não apenas no Brasil, mas na sociedade mundial como um todo. Historicamente, o estupro de mulheres já foi algo normalizado em outras épocas e culturas, pois caracterizava o poder e o domínio patriarcal sobre os seus corpos pertencentes a uma minoria representativa. A própria Bíblia, que muitos bolsonaristas empunharam na porta dos quartéis, clamando a Deus para que os ajudassem a dar um golpe na democracia, legitima o estupro como “despojo” das conquistas bélicas realizadas por alguns profetas a mando do “senhor dos exércitos”. Aliás, atacar minorias é uma doutrina bíblica. Talvez, por isso, Bolsonaro, o messias da distopia cristã brasileira, tenha dito um dia que elas teriam que se render ou desaparecer. Só Deus sabe como seria esse desaparecimento.

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Não é difícil encontrar trechos do livro sagrado onde profetas, supostamente cumprindo ordens do “senhor”, invadiam territórios de outros povos, em geral, mais indefesos e praticantes de uma fé que “desagrada ao senhor”, e dizimavam toda aquela população sob a recomendação divina de que não poupassem a vida de mulheres, crianças e animais. Sugiro a leitura dos livros de Números, Samuel e de Josué, para que vocês entendam melhor a origem da intolerância e da violência religiosa praticadas no Brasil, sobretudo, por cristãos bolsonaristas. Uma amostra do conservadorismo defendido por eles. Daniel Alves é bolsonarista. E antes que alguém pergunte o que uma coisa tem a ver com a outra, eu já respondo que tem tudo a ver. E ainda “clicherizo” dizendo que, se nem todo bolsonarista é estuprador, todo estuprador é um bolsonarista em potencial.

A lógica da mulher como propriedade privada, é um pensamento que permeia a imaginação e pontua a ação dos bolsonaristas. Por se julgarem superiores aos demais membros da sociedade que não professam a mesma fé de sua seita, eles avaliam que todas as suas ações e comportamentos são legítimos e fazem parte do exercício da sua liberdade de expressão. Inclusive, o direito de classificar mulheres como “estupráveis” e “não estupráveis”, considerando a beleza como um fator de “merecimento” para a prática do ato. Assim como não aceitam o resultado das eleições, eles também não aceitam ouvir um “não” de uma mulher. Aquele objeto sexual que a sua superioridade moral, patriótica, cristã e social lhes dá o direito inalienável de possuir no momento em que eles desejarem. Ainda que de forma criminosa, como no caso do estupro. É como se fosse uma exigência do código fonte daquele “não”. É um pensar que houve fraude na recusa e, diante da insistência em não ceder, invocar a minha lei para julgar o caso e determinar uma intervenção pessoal no corpo alvo do meu assédio.

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Daniel Alves ainda não foi julgado e nem condenado judicialmente. Porém, se levarmos em conta a sua longeva carreira internacional como jogador de futebol e a representatividade que adquiriu com ela perante a sociedade, fica difícil imaginar que a sua prisão tenha sido decretada não havendo indícios suficientes de sua culpabilidade. Seu comportamento durante o cometimento do suposto crime, segundo o relato da vítima, denota o caráter agressivo, invasivo, violento, abjeto, virulento, covarde e criminoso do bolsonarismo. Principalmente, no trato com as mulheres. Não por coincidência, Jair Bolsonaro, o líder da seita, sempre teve dificuldades para lidar com a contra argumentação e com os questionamentos feitos pelas mulheres. Sempre reagiu com agressividade contra elas e, só não estuprou algumas de suas opositoras, porque elas não mereciam. O que não era o caso da atriz norte-americana Ellen Page, entrevistada por ele em 2016, quando ainda era deputado federal, que recebeu uma cantada do capitão quando o questionava sobre ter dito que ser gay era falta de uma surra.

Na ocasião, Bolsonaro elogiou a beleza da entrevistadora, que é lésbica, e disse que, se fosse nos seus tempos de cadete da Academia Militar das Agulhas Negras e ele a encontrasse na rua, iria “assoviar” para ela. Seguindo a lógica do machismo bolsonarista que fez com que Daniel Alves agredisse e abusasse sexualmente de uma jovem dentro de uma boate por acha-la atraente, podemos supor que, acaso ela dissesse não, o assovio poderia se tornar um estupro. Nessa mesma entrevista, Bolsonaro associa "o aumento do número de homossexuais na sociedade”, ao fato de as mulheres estarem trabalhando. Ou seja, ele tenta ligar a homossexualidade de uma criança a ausência da mãe no dia a dia. Uma concepção machista que reduz o papel da mulher ao cuidado do lar, dos filhos e dos maridos. Aquelas que não se submetem a esse domínio conservador são taxadas como putas. Na idade média eram rotuladas como bruxas e pagavam pela ousadia no fogo da inquisição católica. Voltando mais atrás no tempo e à Bíblia, elas seriam chamadas de Jezabel, a mulher do Rei Acabe que não obedecia ao patriarcado judaico e foi condenada a ser devorada por cães, segundo as “ordens de Deus”.

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Daniel Alves também é desses jogadores de futebol que atribuem a Jesus Cristo as suas conquistas e vivem levantando o dedinho para o céu glorificando ao senhor pelos gols feitos ou pelas vitórias conquistadas. Hipocrisia característica do bolsonarismo e dos estupradores de bem da nossa sociedade. Todos defensores da família tradicional cristã e dos bons costumes. Para quem achava que a função de tocador de pandeiro na seleção do técnico Tite já era algo revoltante, saber que ele pode estar atuando como possível estuprador deve revoltar ainda mais. O que corrobora com o pavor que muitos têm sentido, ao encontrarem com alguém na rua vestindo a camisa da seleção brasileira. Ainda não há uma sentença sobre o caso, mas a jurisprudência pessoal de milhões de brasileiros que nos últimos quatro anos tentaram sobreviver ao bolsonarismo como política de estado, diz que o caráter bolsonarista está presente em tudo o que é negativo, destrutivo, criminoso e mal na nossa sociedade.

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