Das origens tribais ao ódio digital: como o bullying molda vidas e sociedades
Como a prática ancestral da intimidação evoluiu para o ódio nas redes e afeta vítimas em todas as esferas da vida social e emocional
O bullying, termo em inglês que descreve a prática de intimidação, humilhação ou agressão repetitiva contra alguém, seja por meios físicos, verbais, psicológicos ou sociais, é um velho conhecido da condição humana. Não é apenas uma palavra da moda, mas uma chaga social que atravessa tempos, espaços e culturas, moldando-se às circunstâncias com uma persistência inquietante. Ele está nas escolas, nos escritórios, nas redes sociais, nas relações internacionais e até nas sutilezas de um olhar desdenhoso.
É um fenômeno que não discrimina idade, gênero ou posição social, mas que deixa cicatrizes profundas, muitas vezes invisíveis, em quem o sofre.
As sequelas do bullying permanecem por muito tempo, como feridas abertas na alma e no corpo de suas vítimas, corroendo a autoestima e deixando marcas emocionais que podem levar anos para cicatrizar, quando cicatrizam.
Hoje, quando a hiperconexão digital amplifica vozes e conflitos, o bullying ganha contornos ainda mais complexos, exigindo de nós uma reflexão crítica, mas também empática, sobre suas raízes, formas e consequências.
Vamos mergulhar nesse universo hostil, desvendando o bullying em suas múltiplas facetas, desde sua origem ancestral até suas manifestações contemporâneas, com o objetivo de iluminar caminhos para a compreensão e a superação.
Origem primitiva da crueldade - Para entender o bullying, é preciso recuar no tempo, até os primórdios da humanidade, quando a exclusão de um indivíduo do grupo era, muitas vezes, uma questão de sobrevivência.
Em comunidades tribais, a ridicularização ou a agressão serviam como ferramentas para reforçar hierarquias ou punir desvios das normas coletivas.
Esse comportamento, que já foi estratégia de coesão social, migrou para contextos mais sofisticados, adaptando-se às escolas, onde crianças trocam insultos nos corredores; aos ambientes de trabalho, onde a competição pode se transformar em humilhação; e às redes sociais, onde a tela oferece um véu de anonimato para ataques cruéis.
Psicologicamente, o bullying é alimentado por inseguranças, desejos de poder e a necessidade de pertencimento, dinâmicas que se perpetuam porque, em algum nível, todos nós já fomos vítimas, agressores ou espectadores silenciosos.
Múltiplas faces do bullying - O bullying se manifesta de maneira tão diversa quanto a própria experiência humana.
Há a violência física, que deixa marcas visíveis no corpo, como socos ou empurrões em recreios escolares.
A violência verbal corta com palavras afiadas, sejam insultos gritados ou comentários sarcásticos sussurrados.
O bullying psicológico, mais sutil, planta sementes de dúvida e medo, manipulando emoções até corroer a autoestima.
O bullying social opera na exclusão deliberada, isolando alguém de círculos de amizade ou oportunidades profissionais.
No mundo virtual, o cyberbullying, ou intimidação virtual, transforma plataformas digitais em campos de batalha, onde mensagens anônimas e ataques coordenados podem devastar reputações.
Há ainda o bullying institucional, perpetrado por estruturas de poder que marginalizam grupos inteiros, e o bullying étnico, que se vale de estereótipos para desumanizar.
Exemplos como as expressões “polacos” associados à ignorância, “judeus” como avarentos ou “alemães” como nazistas ilustram essa prática.
A ideia do “judeu errante” como avarento remonta à Idade Média, quando judeus, proibidos de possuir terras ou exercer certas profissões, eram forçados ao comércio e ao empréstimo, sendo estigmatizados como gananciosos por narrativas antissemitas que justificavam perseguições.
O rótulo “alemão nazista” reduz uma nação inteira ao trauma do Terceiro Reich, ignorando a diversidade histórica e cultural da Alemanha e perpetuando um estereótipo que alimenta hostilidades.
Cada forma de bullying, embora distinta, compartilha o mesmo veneno: a intenção de diminuir o outro para afirmar o eu.
Racismo: o bullying mais perverso - Quase sempre, a crueldade de pessoas racistas carrega consigo os ataques perversos do bullying, transformando a discriminação em uma arma de humilhação sistemática.
Nos Estados Unidos, afro-americanos enfrentam insultos raciais e exclusão social em espaços públicos, muitas vezes disfarçados de “brincadeiras”.
No Brasil, afrodescendentes, como o jogador Vinícius Júnior, são alvos de xingamentos degradantes, que vão de gritos de “macaco” em estádios a comentários odiosos nas redes.
Na Alemanha, imigrantes turcos sofrem bullying étnico em escolas e locais de trabalho, sendo ridicularizados por sua cultura ou sotaque.
Em Israel, palestinos enfrentam estigmatização e exclusão, com insultos que reforçam narrativas de inferioridade.
Na Argentina, chilenos são alvos de provocações nacionalistas, muitas vezes tratados como “inferiores” em rivalidades regionais.
Esse padrão se repete em várias regiões do planeta, onde o racismo amplifica o bullying, transformando diferenças culturais ou étnicas em pretextos para a violência verbal, psicológica e social.
Ataques à identidade sexual e de gênero - Além do racismo, o bullying também atinge com violência aqueles que desafiam normas de identidade sexual ou de gênero.
Pessoas LGBTQIA+ frequentemente enfrentam humilhações cruéis por sua orientação sexual ou expressão de gênero, seja em escolas, onde adolescentes são ridicularizados por sua aparência ou comportamento, seja em ambientes profissionais, onde a discriminação pode se disfarçar de piadas.
Na internet, o cyberbullying contra pessoas trans ou não-binárias é particularmente feroz, com ataques que vão de insultos misóginos e homofóbicos a ameaças de violência.
No Brasil, onde a transfobia é uma epidemia, indivíduos trans enfrentam não apenas o bullying verbal, mas também a exclusão social e riscos à própria vida.
Nos Estados Unidos, jovens queer, ou pessoas com identidades de gênero ou orientações sexuais não normativas, são alvos de campanhas de ódio em redes sociais, enquanto na Rússia e em nações do Oriente Médio, a repressão estatal amplifica o bullying institucional contra minorias sexuais.
Essas agressões, muitas vezes enraizadas em preconceitos culturais ou religiosos, deixam feridas profundas, reforçando sentimentos de rejeição e isolamento que acompanham as vítimas por décadas.
Fanatismo religioso: o bullying da fé - O fanatismo religioso é outra fonte cruel de bullying, alimentando a intolerância contra aqueles que seguem crenças diferentes.
No Brasil, adeptos de religiões de matriz africana, como o candomblé, são frequentemente alvos de ataques verbais e simbólicos que desrespeitam suas práticas sagradas.
Expressões como “adoradores do diabo” são usadas para demonizar os praticantes, enquanto frases como “chuta que é macumba” ridicularizam rituais sagrados, tratando-os como algo a ser rejeitado ou destruído.
Essas expressões refletem a desvalorização histórica dessas tradições, enraizada no racismo e na colonização, que associava práticas africanas ao mal.
Outra expressão, “galinha de macumba”, é particularmente misógina e pejorativa, usada sobretudo contra mulheres adeptas, associando-as a promiscuidade ou falta de moral, sexualizando e inferiorizando especialmente mulheres negras dentro dessas religiões—nada mais distante da realidade, que valoriza a espiritualidade, a comunidade e o respeito.
Esses ataques causam não apenas humilhação, mas também uma violência simbólica que marginaliza comunidades inteiras, impedindo a livre expressão de sua fé.
No Irã, os bahá’ís enfrentam bullying religioso perpetrado por muçulmanos fundamentalistas, que os xingam de “impuros” em espaços públicos, escolas e até ambientes familiares, tratando-os como espiritualmente sujos.
As consequências são graves: isolamento social, recusa de interação física (como apertos de mão) e exclusão de eventos comunitários, que reforçam a estigmatização e dificultam a integração dos bahá’ís na sociedade.
Esse tipo de bullying, alimentado por dogmas religiosos, transforma a fé em um campo de batalha, onde a diferença é punida com ostracismo e violência verbal. Quando não por longos anos de encarceramento, torturas físicas e psicológicas e morte.
O estigma do corpo - Outra forma insidiosa de bullying é a gordofobia, o preconceito contra pessoas gordas que transforma seus corpos em alvos de ridicularização e exclusão.
Em escolas, crianças gordas são frequentemente chamadas de “baleia” ou “gordão” por colegas, enfrentando piadas cruéis que minam sua autoestima.
No mercado de trabalho, a discriminação pode se manifestar em comentários disfarçados de preocupação com a saúde ou em barreiras para promoções, reforçando estereótipos de que pessoas gordas são preguiçosas ou incapazes.
Na mídia, a gordofobia aparece em representações estereotipadas ou em comentários públicos que perpetuam a ideia de que o corpo gordo é indesejável.
Um exemplo notório ocorreu em 2017, quando o apresentador Fausto Silva, em seu programa dominical na TV Globo, criticou o cabelo de uma dançarina, Juliana, chamando-o de “cabelo de bruxa” em rede nacional.
O comentário, feito em tom de brincadeira, desencadeou uma onda de críticas nas redes sociais, com Juliana relatando em entrevistas o impacto emocional de ser ridicularizada publicamente, sentindo-se desrespeitada e diminuída.
Esse episódio ilustra como o bullying, mesmo travestido de humor, pode causar danos profundos, especialmente quando amplificado pela exposição midiática.
Desprezo aos povos indígenas - Igualmente devastador é o bullying contra os habitantes originários das Américas, os povos indígenas, cujas culturas e existências são frequentemente ridicularizadas por narrativas coloniais que persistem.
Expressões como “programa de índio” para descrever algo tedioso, “falar como índio” para zombar de um português incorreto, ou “se comporta como índio” para insinuar insolência e preguiça são armas verbais que desumanizam comunidades inteiras.
Essas frases, impregnadas de malícia, perpetuam estereótipos que remontam à colonização, quando indígenas foram marginalizados, escravizados ou apagados.
Esse tipo de bullying étnico não apenas desvaloriza a riqueza cultural dos povos originários, mas também provoca uma imensa solidão de espírito, encobrindo a melhor parte das Américas: a herança de nossos ancestrais indígenas, com suas cosmovisões, línguas e saberes.
Essa violência simbólica, reforçada em escolas, mídias e conversas cotidianas, contribui para a exclusão social e a perda de identidade de comunidades indígenas, aprofundando feridas históricas que ainda sangram.
Vítimas marcadas pela dor - Minha própria história ecoa essas dinâmicas. Aos 13 anos, eu estudava em um colégio católico, o mais prestigiado da cidade, vindo de uma família numerosa com seis irmãos, dos quais apenas uma era mulher.
Desde os 12 ou 13 anos, eu já cultivava o hábito da leitura, devorando clássicos de Alexandre Dumas, Charles Dickens, Tolstói, Machado de Assis, Mark Twain e Guimarães Rosa.
Esse amor pelos livros, que me abria mundos e alimentava minha imaginação, tornou-se, paradoxalmente, uma fonte de ridicularização.
Colegas me chamavam de forma pejorativa: “Rato de biblioteca”, “Gostar assim de livros é coisa de quem não é macho”, “Esse aí, sei não…”.
Essas palavras, repetidas com risadas e olhares de desdém, abalaram minha autoestima. Eu, que sempre fui extrovertido por natureza, comecei a oscilar para a timidez, enfrentando momentos de insegurança que me faziam questionar meu valor.
O bullying verbal e social, disfarçado de brincadeira, plantou dúvidas que levei anos para desenraizar, mas também me ensinou a força da capacidade de se reerguer e a importância de transformar a dor em crescimento.
A história de figuras públicas revela como o bullying pode moldar vidas, mesmo entre aqueles que parecem inabaláveis.
Lady Gaga, hoje ícone global, enfrentou humilhações na adolescência por sua aparência e estilo excêntrico, o que a levou a períodos de depressão, mas também alimentou sua capacidade de se reerguer criativamente.
Emmanuel Macron, antes de chegar à presidência francesa, foi alvo de comentários maldosos na escola por sua inteligência precoce e por seu relacionamento com uma professora mais velha, experiências que o marcaram com uma mistura de determinação e vulnerabilidade.
Rihanna sofreu bullying por sua origem caribenha e tom de pele em Barbados, o que a tornou alvo de provocações racistas que, mais tarde, inspiraram sua luta por inclusão.
Elon Musk, ridicularizado na infância por sua introspecção e sotaque sul-africano, enfrentou agressões físicas que o levaram a desenvolver uma postura defensiva, visível em sua combatividade pública.
Oprah Winfrey, por fim, cresceu sob o peso de abusos e discriminações por ser negra e pobre, mas transformou a dor em combustível para sua empatia e influência.
O jogador brasileiro Vinícius Júnior, craque do Real Madrid, enfrentou um tipo de bullying particularmente cruel, marcado pelo racismo descarado em estádios espanhóis e argentinos.
Em jogos na Espanha, como contra o Valencia em 2023, torcedores, incluindo até uma criança, foram registrados xingando-o de “macaco” e imitando sons e gestos de macacos, enquanto capas de jornais e provocações de adversários normalizavam esse tipo de violência.
Na Argentina, durante um jogo contra a seleção brasileira em 2025, torcidas no estádio Monumental de Núñez entoaram insultos racistas semelhantes, enquanto Vini tentava manter o foco em campo.
Esses episódios, que vão além do bullying tradicional e se configuram como crimes de ódio, deixaram marcas emocionais profundas, com Vini relatando em entrevistas o peso psicológico de ser constantemente desumanizado.
Ele reagiu com uma mistura de indignação e determinação: em coletivas de imprensa, chegou a chorar ao falar do racismo, mas também usou sua visibilidade para denunciar os ataques, exigindo punições mais severas, como a prisão de agressores e sanções a clubes, e inspirando debates globais sobre discriminação no esporte.
Sua resposta, embora dolorosa, transformou-o em um símbolo de luta contra o preconceito, com ações concretas como apoio a campanhas anti-racismo e pressão por reformas no futebol.
A atriz brasileira Vera Fischer, por sua vez, revelou recentemente, em uma entrevista corajosa a um grupo de apoio a autistas em 2025, o impacto devastador do cyberbullying em sua vida.
Até 2020, ela evitava usar celular devido aos ataques implacáveis de “haters”, ou odiadores, nas redes sociais, que a bombardeavam com palavras de baixo calão e insultos sobre sua aparência, idade e carreira, chamando-a de “velha” ou “irrelevante” em comentários públicos e mensagens privadas.
Fischer descreveu como esses ataques abalaram sua confiança, levando-a a períodos de isolamento e insegurança, especialmente por sua imagem pública como ícone da televisão brasileira.
Sua decisão de falar abertamente, especialmente em um contexto de apoio a pessoas vulneráveis, marcou um passo poderoso em sua jornada de recuperação.
Ao compartilhar sua história, ela inspirou outros a enfrentarem o estigma digital com coragem, destacando a importância de apoio comunitário e autoaceitação para superar as feridas do bullying virtual.
Redes sociais: palco do ódio - As redes sociais, com sua promessa de conexão, tornaram-se um megafone para o bullying.
O fenômeno dos “haters”, ou odiadores, como os que atacaram Vera Fischer, não é apenas uma moda passageira, mas a fusão do bullying com discursos de ódio, amplificados pela velocidade e anonimato da internet.
Um único comentário malicioso pode alcançar milhares, transformando uma vítima em alvo global em minutos, como ocorreu com Vinícius Júnior, cujos episódios de racismo viralizaram nas redes, ou com pessoas trans que enfrentam campanhas de ódio online.
Diferentemente do bullying presencial, o cyberbullying não tem fronteiras geográficas ou temporais, perseguindo suas vítimas em seus momentos mais íntimos.
Essa dinâmica digital, ao mesmo tempo que potencializa danos, também expõe a fragilidade dos agressores, que muitas vezes projetam suas próprias inseguranças em ataques virtuais.
Do ponto de vista psicanalítico, o agressor é uma figura complexa, movida por conflitos internos que raramente admite.
O bullying é, em essência, um mecanismo de projeção: o bully desloca suas fraquezas, medos ou frustrações para o outro, transformando a vítima em um espelho de suas próprias falhas.
Por trás da agressividade, há uma busca desesperada por validação, muitas vezes enraizada em experiências de rejeição ou negligência.
A identificação com o agressor, outro conceito psicanalítico, explica por que espectadores muitas vezes se calam ou participam: alinhar-se ao bully é uma forma de escapar do risco de ser o próximo alvo.
Essas dinâmicas revelam que o bullying não é apenas um ato de crueldade, mas um sintoma de uma psique ferida, tanto no agressor quanto na sociedade que o tolera.
Jornalismo e geopolítica do bullying - No jornalismo, o bullying assume contornos específicos.
Na mídia impressa, ele pode se manifestar em colunas que ridicularizam figuras públicas ou em reportagens que perpetuam estereótipos, como as manchetes sensacionalistas que estigmatizam minorias, reforçam o racismo contra figuras como Vinícius Júnior, marginalizam pessoas LGBTQIA+, perpetuam a gordofobia, desvalorizam indígenas com narrativas coloniais ou demonizam religiões como o candomblé.
No jornalismo virtual, a caixa de comentários e os perfis anônimos tornam-se palcos para ataques coordenados, muitas vezes sem responsabilização.
Casos como o de jornalistas mulheres que recebem ameaças misóginas online, ou de celebridades como Vera Fischer, ilustram como o bullying se entrelaça com outras formas de opressão, dificultando o exercício da liberdade de expressão.
O comentário de Fausto Silva sobre o “cabelo de bruxa” é um exemplo de como a mídia tradicional pode normalizar o bullying, mesmo que involuntariamente, ao ridicularizar características físicas em um contexto de ampla visibilidade.
Em escala global, o bullying se manifesta nas relações entre nações, especialmente entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Expressões de menosprezo, como a visão estereotipada de nações africanas como “atrasadas” ou de países latino-americanos como “instáveis”, refletem uma forma de bullying geopolítico que justifica desigualdades econômicas e exclusão em fóruns internacionais.
Essa dinâmica, enraizada em legados coloniais, perpetua estigmas que dificultam a cooperação global, como o bullying étnico sofrido por turcos na Alemanha, palestinos em Israel, chilenos na Argentina, indígenas nas Américas ou bahá’ís no Irã.
Cicatrizes étnicas e históricas - O bullying étnico, por sua vez, é uma ferida histórica que continua a sangrar.
Termos como “judeu errante” ou “alemão nazista” não são apenas palavras; são armas que carregam séculos de preconceito, reduzindo indivíduos a caricaturas.
A expressão “judeu errante” evoca um mito medieval que retratava judeus como condenados a vagar eternamente, associado à imagem de avareza devido a restrições econômicas impostas a eles na Europa feudal, alimentando pogroms e discriminações.
O rótulo “alemão nazista” cristaliza o trauma do Holocausto e da Segunda Guerra Mundial, aplicando um estigma coletivo que ignora a reconstrução democrática da Alemanha pós-1945 e perpetua divisões.
Essas expressões, ao naturalizarem a discriminação, alimentam divisões sociais e reforçam narrativas de superioridade que têm consequências devastadoras, do antissemitismo ao racismo sistêmico.
Essas consequências são sentidas por Vinícius Júnior em estádios lotados, por afrodescendentes nos Estados Unidos e Brasil, por pessoas queer em contextos repressivos, por indivíduos gordos enfrentando gordofobia, por indígenas ridicularizados como “preguiçosos” ou “atrasados”, ou por praticantes do candomblé e bahá’ís enfrentando a intolerância religiosa.
Reconstrução após o trauma - Para as vítimas de bullying, a jornada de recuperação é árdua, mas possível.
Como psicanalista, recomendo começar pelo autocuidado: práticas como meditação, escrita reflexiva ou terapia podem ajudar a reconstruir a autoestima abalada.
Buscar apoio em comunidades de confiança, sejam amigos, familiares ou grupos de apoio, como o que Vera Fischer encontrou, é essencial para romper o isolamento.
Desenvolver estratégias de superação, como redefinir narrativas pessoais e focar em forças internas, permite transformar a dor em crescimento.
Aqui, superação implica não apenas resistir, mas renascer emocionalmente, com uma força interior que transcende a dor, como fizeram Vini e Fischer ao confrontarem publicamente seus agressores.
À sociedade, cabe a tarefa de cultivar empatia e responsabilização.
Educar desde cedo sobre respeito à diversidade, implementar políticas anti-bullying eficazes, como punições rigorosas a torcidas racistas, leis contra a transfobia, campanhas contra a gordofobia, iniciativas de valorização das culturas indígenas ou proteção à liberdade religiosa, e promover uma cultura de diálogo nas redes sociais são passos cruciais.
Temos muito a aprender com as crianças, pois ninguém nasce para oprimir nem ferir o outro.
As diferenças, longe de serem motivo de separação e desprezo, deveriam refletir a verdade incontestável de que todos nós somos membros de uma única família, a família humana.
São essas diferenças que tornam mais precioso o tesouro de nossa humanidade.
O que torna alguém superior ao outro não é a cor da pele, a orientação sexual, o peso corporal, a origem étnica, a fé ou a posição social, mas a pureza de suas intenções e o esplendor de um caráter íntegro, bom, justo.
Que o bullying, em todas as suas formas, seja não apenas compreendido, mas enfrentado com coragem e compaixão, para que possamos construir um mundo onde ninguém precise se esconder para ser quem é.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: