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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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De chapéus, perucas e outras sandices

Saltar de alegria em favor de uma quartelada, quando nos cansamos de suportá-las vai além de uma simples sandice.

Ricardo Salles (Foto: Agência Câmara )

Um sujeito que se veste com uma bandeira também é uma sandice. Como sandice (ou algo mais grave) é uma deputada que corre atrás de alguém, de arma em punho, nas ruas de São Paulo. Estamos, aparentemente, num ciclo de atitudes lastimáveis no plano da política brasileira – e não só. Um extraterrestre que aqui caísse de paraquedas, para pesquisas sobre a sociedade, morreria de susto ou não entenderia nada e voltaria correndo para o seu lugar no espaço. Isso para não falar do jornalista Julian Assange, preso numa casa de detenção de segurança máxima no Reino Unido apenas porque divulgou informações envolvendo fatos concretos da administração americana. 

A nação que se afirma como a maior e mais democrática do mundo não suporta ver o seu nome circulando pelo planeta, em franco desmentido dos mitos que cultivou serena e hipocritamente. O escândalo internacional provocado por um julgamento injusto naquela dimensão foi de tal ordem que abalou os alicerces da intolerância nos dois lados do Atlântico. Determinou-se, por fim, a sua libertação.  Isto porque hoje estamos numa casa astrológica adversa a certos exageros. Uma vez erguida, a opinião pública se faz ouvir e muda, por assim dizer, a orientação política dos mais conservadores. Graças a semelhante fenômeno, com ou sem chapéus, de peruca, bandeira nos ombros e outros adereços, nada impediu que o clamor chegasse aos ouvidos do parlamento e forçasse deputados e senadores a pensarem duas vezes antes de porem em prática seus absurdos. Um tal de Sóstenes teve de rever projetos em nome da criminalização das vítimas do aborto e suportar fragorosa derrota no recinto dos debates, depois que apoios claros ou furtivos silenciaram em atitude temerosa. 

A coisa chegou a tal ponto que, por mais de uma vez, propostas indecorosas, como a da privatização das praias, terminaram nas gavetas, de onde, espera-se, não mais sairão.  Por outro lado, munidos de chapéus, perucas ou outros apetrechos, aquele grupo barulhento, carente de uma boa causa, continua perambulando pelos corredores do parlamento, ou pulam de comissões em comissões, para aparecer, a todo custo, ainda que como tristes figuras. Rompem o folclore de vez em quando para declarações estapafúrdias, um anunciando a quantidade de mortes que provocou, outro esbravejando como um policial de má conduta e outros ainda esforçando-se por faturar beiradas de situações internacionais nas quais, mal ou bem, descobrem maneiras de se enquadrar. Assim, chegamos a Ricardo Salles. 

Ele se destacou por uma lastimável gestão no anterior Ministério do Meio Ambienta, dispondo-se a aproveitar para “passar boiadas”, isto é, ferir a legislação ambiental tanto quanto possível. Mais recentemente, atuou de modo imperdoável numa CPI do MST e, finalmente, frente à tentativa de golpe na Bolívia, extrapolou os requisitos do que se espera de um deputado na vigência do sistema democrático. Através de redes sociais, comemorou o golpe que não vingou, neutralizado a tempo pelo presidente da República Luis Arce e a prisão do general rebelde.

Saltar de alegria em favor de uma quartelada, quando nos cansamos de suportá-las vai além de uma simples sandice. Alcança as raias da conspiração. Militantes do PSOL que lhe desejam o afastamento estão com carradas de razão. Já passou da hora de punir traidores do sistema. E sem anistia. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.