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Jailton Andrade

Jailton Andrade é advogado, músico, dirigente sindical e do movimento negro e criador do Debate Petroleiro

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De repente é aquela corrente pra frente!

Impeachment é uma farsa, como o capitalista quer. O impeachment de Dilma foi a narrativa da direita contra a esquerda e hoje é a narrativa da direita contra a extrema direita. É a narrativa do capital contra a incerteza do fascismo. Não estamos corrigindo um milímetro do curso da nação. Só mudaremos a cara do mesmo lobo que ataca o Brasil, o capital

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Para salvar o Brasil, impeachment é placebo.

O que está em jogo, com copa ou sem, é a vida da população brasileira. Não dá pra pedir benevolência ao futuro presidente Mourão. O impeachment só é melhor do que o nada. Fora isso, é a pior posição que nós poderíamos tomar.

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Enquanto nós aguardamos o parlamento receber o 57º pedido de impedimento do presidente, o primeiro aguarda análise de 850 dias. Foi o pedido da artista plástica e advogada Diva Maria, quando Bolsonaro publicou vídeo, segundo ela, pornográfico no Twitter relacionado ao golden shower. Cinquenta e sete são quase duas placas de ovos, dessas que eram vendidas em Salvador por R$ 10 antes do acordo no CADE onde a Petrobras se comprometeu a nunca mais vender diesel barato. Hoje o ovo, que chega de Kombi, custa R$ 14 a placa. Duas placas cheias de pedidos de afastamento do presidente da república (caixa baixa mesmo). 

Desculpe desanimar, mas a grande maioria dos que decidem sobre pedidos como esse, não está do lado da classe trabalhadora e esse foi o argumento usado pelo próprio Rodrigo Maia em entrevista à TV247. Com ou sem impedimento continuará a reforma trabalhista, o teto dos gastos, a reforma previdenciária, a terceirização irrestrita do Estado, as privatizações, a segregação racial e a destruição do meio ambiente.

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Mas, pior que isso, o impedimento de Bolsonaro, validado pelo Congresso Nacional, tornará legítima ao parlamento a reabertura do caminho para a reforma do Sistema Administrativo Brasileiro combinado com a reforma tributária tão esperada pelos industriais. Feito isso, teremos o Marco Regulatório do Feudalismo no Brasil pós-pandemia.

Em países sérios, toda essa “equipe de governo” estaria presa neste momento. Cada depoimento na CPI do genocídio era um camburão na porta. Pela vacina, pelo oxigênio, pela Ford, pelo petróleo, pela carne, pela Amazônia, pelo racismo... Só a Greve Geral no Brasil teria repercussão capaz de levar à prisão de toda essa turma e, mais que isso, de transformar as relações entre nações e capital.

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Se você tivesse 7 trilhões de dólares na sua conta, que mal faria ajudar a salvar uma vida? Pois bem, guarde esse número.

Precisamos entender como estão se dando as relações entre o Estado Brasileiro e os capitalistas, tanto brasileiros como internacionais. Essa galera não está de brincadeira.

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Veja o exemplo da norte americana Ford que tirou a comida de 5.000 famílias brasileiras no pico da pandemia com o tempo de um clique no ENTER. Para além do demônio que assumiu o país, o exemplo da Ford mostra como o capital assumiu, no Brasil, sua feição mais desumana. E seria assim com qualquer outra. O golpe que trouxe esse canalha a chefe supremo da república foi financiado por eles, aparelhando os espaços no judiciário, no governo, no parlamento e nas empresas estatais, com ultraliberais discípulos da Universidade de Chicago, que encontraram no fascismo de Bolsonaro uma “ponte para o futuro”, como dizia Temer. A ponte garante o futuro deles e do seu patrimônio. Essa é a liberdade dada ao empresário, ao industrial. Tomaram conta de tudo, desde as telecomunicações, a educação, o esporte, o comércio, a indústria, a energia.

Se tivéssemos um STF comprometido com a Constituição Brasileira, a função social dos contratos, da propriedade privada, da dignidade da pessoa humana serviria nesse momento, porque uma empresa relevante como a Ford não poderia escolher brincar de dar emprego e, no momento em que o Estado mais precisa de parceria, simplesmente sair sem fechar a porta, não pra voltar, mas para que outras saiam. Essa liberdade, para além da Carta Maior, foi dada e está sendo usada. O Carrefour faria a mesma coisa, não para nos proteger do seu racismo, mas para se proteger enquanto “máquina de lucro”.

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No tema Copa América, o STF dá outro show. É o judiciário mínimo diante da Nike, Amber, Itaú, Mastercard, GOL, Vivo onde o supremo usa a máxima de Moro: não vem ao caso. Todas essas marcas se disseram preocupadas com os casos de abuso sexual envolvendo a CBF e Neymar, mas ninguém tirou a grana pra realizar a cova. O jornalista da UOL, Rodrigo Matos, confirmou que somente a Latam desistiu de financiar. O resto finge se preocupar. Com a Constituição completando 1 ano de vida aparece o Ricardo Teixeira, depois vem o José Maria Marin, o Marco Polo Del Nero e agora sai o Caboclo. Só tem direitinho nessa paixão nacional.

Veja o caso da indústria de petróleo. Com a providencial Operação Lava Jato e as reformas legislativas, os capitalistas internacionais se apossaram e estão, cada vez mais, tomando conta das nossas reservas, e o que está acontecendo? Sobe o preço do item mais emblemático para o país, o gás de cozinha. Aí o empresariado do setor vai ao CADE pra obrigar a Petrobras a aumentar ainda mais o preço dos combustíveis porque não consegue importar. Ora! Importar?

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Eu vou explicar novamente. Os importadores de combustíveis, por meio da ABICOM, alegam que não conseguem importar combustível porque a Petrobras pratica um preço muito baixo. Esse baixo que, para nós, é até R$ 105 no botijão de gás e R$ 6 no litro de gasolina.

Quem são essas pessoas? Você acha que esse sadismo vai acabar com Mourão ou com qualquer um deles? Como alguém tem a audácia de propor substituir a produção nacional de combustíveis que gera emprego, renda e desenvolvimento para o Brasil pela importação, gerando em outro país todo desenvolvimento, e lucrar com isso? Essa pergunta já seria feita num outro momento, mas mexer nisso durante a pandemia, só pode ser um genocida.

A Ford colocou um FAQ na sua página logo após abandonar suas fábricas no país. Lá, ela responde as próprias perguntas e a primeira diz assim:

  1. Ford: A Ford está saindo do Brasil?

Resposta: Ford: Não, a Ford continua comprometida com os clientes no Brasil e na América do Sul com um modelo de negócios ágil e sustentável baseado em uma linha de veículos icônicos, conectividade e eletrificação. A Ford estará ativamente presente no Brasil atendendo seus clientes com um portfólio de SUVs, picapes e veículos comerciais modernos e conectados.

A sociedade brasileira continua servindo, mas como mercado consumidor (cada vez menor com as reformas), como se nada tivesse acontecido. E ela não está sozinha. A Ford uma das 181 maiores empresas dos EUA que compõe a Business Roundtable (BR) e juntas faturam US$ 7 trilhões/ano. Sabe o que eles fizeram agora nos EUA? Boicotaram o financiamento de campanha daqueles que se opuseram ao Joe Biden. Dentre as boicotadoras estão a Dow Química, BP, ExxonMobil, Shell, Facebook, Microsoft, Google, Apple, Amazon, GM, Walmart e, a Ford.

Em 19 de outubro de 2019 a Business Roundtable lançou um manifesto que foi assinado pelos 181 CEO`s. Lá, eles repetem o discurso que permeia a universidade de Paulo Guedes: de que precisam atender aos anseios dos acionistas, clientes, comunidades, fornecedores e funcionários, mas que, diferente do pensamento desses romancistas do capital, o acionista deveria ficar na última posição e não na primeira.

Se você acessar o site da businessroundtable.orgvai ler a seguinte mensagem sobre o lançamento do manifesto:

“Esta é uma notícia tremenda porque é mais crítico do que nunca que as empresas no século 21 estejam focadas em gerar valor de longo prazo para todas as partes interessadas e enfrentar os desafios que enfrentamos, o que resultará em prosperidade compartilhada e sustentabilidade para os negócios e a sociedade ”Disse Darren Walker, Presidente da Fundação Ford. (tradução do GOOGLE)

Tente encontrar qualquer parte dessa declaração na ação recente da Ford no Brasil. Não vai achar.

Há quase 1 ano esse colosso empresarial emitiu relatório, após o enforcamento de George Floyd, recomendando ações de combate ao racismo. “São nossos funcionários, clientes e comunidades que estão clamando por mudanças estamos ouvindo e – o mais importante – estamos agindo”, disse o presidente da BR, Doug McMillon, que também é presidente do Walmart. Parece um predestinado, já nasceu com o sobrenome McMillion. Lembre-se que o grupo americano Walmart comprou a rede brasileira Bompreço do empresário sergipano João Carlos Paes Mendonça, que também vendeu o Hipercard para o Itaú Unibanco, maior conglomerado financeiro do hemisfério sul. Ou seja, o varejo brasileiro não é brasileiro, é dominado pela Walmart americana e pela francesa Carrefour. Lembra daquele papo de globalização? Como disse Eduardo Galeano o Brasil se especializou em perder.

Pois bem. Como o BR quer combater o racismo tendo uma de suas empresas demitindo cinco mil pretos e pretas no Brasil para gerar emprego na Argentina que tem, em 6% da população, traços negros em sua genes? Eles querem essa liberdade de mentir, de possuir, discriminar, tirar todo o sangue e depois largar aí. Farão a mesma coisa com os nossos irmãos do sul quando quiserem. Isso não é problema para nenhuma dessas empresas que compõe o Business Roundtable. São experientes em trazer retorno para os acionistas tirando da sociedade em mercados como o Brasil. 

Quando te falarem de impeachment lembre-se da Grande Recessão provocada pelo banco Lehman Brothers em 2008. Uma ambição levada ao extremo promovida pela desregulamentação do sistema financeiro norte americano, justamente o que querem fazer com as reformas administrativa e tributária. Estudo do Economic Policy Institute feito nos Estados Unidos mostrou que a remuneração média dos CEOs no país teve uma alta de 940% de 1978 a 2018, contra o aumento de apenas 12% na renda de um trabalhador americano comum no período. Os EUA usaram os princípios sociológicos de Chicago que diz que a economia só anda bem com liberdade. Você entende que tá tudo muito solto? Onde o impeachmentvai mudar isso?

Tem pouco tempo que aviões estavam transportando pacientes de COVID de Manaus para outros estados, e a ex-senadora Vanessa Grazziotin divulgou um vídeo chorando pelo desespero do povo amazonense, a Venezuela oferece ajuda humanitária, mas a indústria de gases como o oxigênio que falta no Amazonas vai bem, obrigado. Quantos seres humanos você acha que salva com a presidência do Mourão? Que mal faria aos capitalistas e a Mourão uma Amazônia sem povo?

Você se lembra do carnaval do Rio em 2017, quando um carro alegórico da Paraíso do Tuiuti atropelou e prensou 20 pessoas e em outro acidente, também na Sapucaí, um carro da Unidos da Tijuca despencou com 12 pessoas? O jornalista André Trigueiro chegou a dizer ao vivo, na Globo News, que as vítimas da Unidos da Tijuca atrapalharam o desfile. André resume bem a visão empresarial desse grupo: tire sua vida da frente que eu quero passar.

A Shell tomou conta da Nigéria há 60 anos por causa da vasta reserva de petróleo, e o que acontece? A Nigéria é um dos países mais pobres do mundo. E quem atrapalha os negócios na Nigéria é enforcado como Ken Saro Wiwa. Tire sua vida da frente que eu quero passar com meu subdesenvolvimento...

Se daqui a 50 anos alguém comentar ou ler algum livro sobre uma reunião no Brasil, ao vivo, com as maiores petroleiras do mundo, em junho de 2020, irão dizer: “Ufa, o industrial se juntou pra resolver a pandemia”. Só que não. Vieram falar de negócios e do “Custo Brasil” para a entrada de players internacionais. Tirem suas leis da frente que eu quero passar com meus negócios.

Mourão não vai mudar nada disso. O que interessa ao Brasil é a Soberania, a Dignidade da Pessoa Humana, a função social do contrato, da propriedade privada. Precisamos revogar a reforma trabalhista, o teto de gasto, a previdência, a terceirização, a privatização do estado brasileiro. Precisamos impedir as futuras reformas administrativa e a tributária que o impeachment de Bolsonaro só vai legitimar. 

Impeachment é uma farsa, como o capitalista quer. O impeachment de Dilma foi a narrativa da direita contra a esquerda e hoje é a narrativa da direita contra a extrema direita. É a narrativa do capital contra a incerteza do fascismo. 

Não estamos corrigindo um milímetro do curso da nação. Só mudaremos a cara do mesmo lobo que ataca o Brasil, o capital. Quanto a nós? Precisamos sair da frente, porque eles querem passar, e estão chegando pela Amazônia.

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