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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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De volta ao Brasil de Debret

Fácil e inevitável identificar nas ruas imundas e apinhadas de ambulantes, no traço magistral do mestre francês, o retorno do Brasil ao século XIX. As cores fluidas e o resultado arrebatador dos seus desenhos não atenuam o desconforto. O Retrocesso está ali. Na nossa cara.

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Por Denise Assis para o Jornalistas pela Democracia - Em cartaz até 27 de outubro, na Casa Roberto Marinho, um requintado espaço cultural carioca, no bairro do Cosme Velho, a exposição “Estrangeiros”, que inclui preciosidades como obras de Salvador Dalí, De Chirico e Marc Chagall, reserva um setor especial para se contemplar as litogravuras aquareladas de Jean-Baptiste Debret, do álbum "Voyage pictoresque au Brésil" ou "Séjour d'un artiste français au Brésil”. 

Ali, depois dos olhos passearem por maravilhas modernas, o visitante atento leva um soco no estômago. Fácil e inevitável identificar nas ruas imundas e apinhadas de ambulantes, no traço magistral do mestre francês, o retorno do Brasil ao século XIX. As cores fluidas e o resultado arrebatador dos seus desenhos não atenuam o desconforto. O Retrocesso está ali. Na nossa cara.Hoje, essa profusão de vendedores de tudo recebe o nome prosaico de “empreendedores”, mas nada os difere dos pretos forros que se acumulavam em áreas urbanizadas ou mineradoras do Brasil escravista, que forneciam maiores possibilidades de acúmulo de bens aos ex-escravos engajados em atividades tipicamente urbanas, como o comércio ou a oferta de serviços.

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Hoje, pesquisa divulgada pelo economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas, reforça o susto de nos vermos retratados no traço delicado de Debret. O pesquisador nos aponta que o país vive o ciclo mais longo do aguçamento da desigualdade social, em quatro anos. Ou seja, desde o período em que o invejoso e frustrado candidato derrotado do falido PSDB, Aécio Neves, jurou que a presidenta eleita, Dilma Rousseff, não governaria um dia sequer. Promessa feita. Promessa cumprida. E o Brasil entrou na sua fase mais recessiva.

O resultado são ruas cheias de vendedores de quitutes, frutas e serviços os mais variados, tal e qual na litogravura “Melancolia à Brasileira”, em que Debret nos mostra uma negra vendendo cajus, em uma peneira. Esse aumento da desigualdade e a pulverização do subemprego ou do tal “empreendedorismo”, é resultado do fim do emprego formal, eliminado na reforma trabalhista feita por Michel, com o beneplácito de um Congresso “acoelhado” e venal. O país tem hoje 12 milhões de desempregados, segundo apurou Neri, que o aponta como principal causa do alargamento desse fosso. 

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A perda da parcela mais pobre foi de 17,1%, enquanto a renda dos mais ricos, (apenas 1% da população), cresceu 10,11%. A desigualdade é aferida pelo índice de Gini, usado para esta medição da concentração de renda, e varia de zero a um. Quanto mais próximo de um, mais desigual. E, no Brasil, o índice da desigualdade vem aumentando do último governo de Dilma – quando imobilizada pela vingança de Aécio e as armadilhas de Eduardo Cunha, não pôde governar –, abrangendo os governos de Michel e Jair. 

O índice de Gini abarca todas as fontes de renda, sejam elas formais ou informais. Sendo assim, inclui os “empreendedores” e os que têm salário fixo. De acordo com a pesquisa, desde 1989, quando a desigualdade atingiu seu pico histórico de desigualdade, nunca houve um período de concentração de renda por tantos períodos consecutivos. Tal contraste nos jogou de volta às telas de Debret. Sem a beleza do seu traço e a suavidade das suas cores.

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