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Luís Costa Pinto

Luis Costa Pinto, jornalista, editor especial do Brasil 247 e vice-presidente da ABMD, Associação Brasileira de Mídia Digital

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De volta às ameaças de golpe, Bolsonaro põe o Planalto sob nuvem de 1945 e 1955. Pesadelo de 1964 não virá

No último stand-up comedy chamado “live presidencial”, Jair Bolsonaro disse que “algo virá” para deter avanço inexorável de Lula e apelou: chamaria Braga Netto

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Por Luís Costa Pinto, do 247 –  Na política, raras moedas são tão valiosas quanto a perspectiva de poder. Em razão disso, hoje, à cotação de meados de fevereiro de 2022, faltando 7 meses e meio para a catarse nacional nas urnas de 2 de outubro, o ex-presidente Lula (PT) é uma personalidade de riqueza intangível. É isso o que explica a lei da natureza – “rios correm para o mar” – e a crescente acumulação de capital político do “Movimento Lula”. O petista não só é visto, lá fora e por analistas de mercado e de cenários de olhar mais agudo, como expectativa de equilíbrio macroeconômico para o País, como revela força gravitacional para atrair forças do PSOL (à esquerda do PT) ao PSD, MDB e nacos do PSDB, do PP e do Republicanos (do centro à direita, beliscando até a extrema-direita).


Isso tem tirado o sono e razão de Jair Bolsonaro, em que pese o estrupício que ainda enverga a faixa presidencial não guardar quaisquer vestígios de ter sido racional algum dia. E o tamanho do capital político de Lula explica o tom de desespero da última sketch bolsonarista durante a stand-up comedy que apelidaram com o nome comercial de “lives presidenciais”.

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Numa ópera-bufa, Bolsonaro encarna o bobo da Corte (militar)

O episódio foi ao ar na noite da última 5ª feira, transmitido direto da biblioteca do Palácio da Alvorada, o espaço público convertido de teatrinho de quinta categoria. “Mais do que desconfiar, algumas coisas temos que resolver até as eleições, e serão resolvidas brevemente, podem ter certeza”, disse Bolsonaro, como a fazer uma escalada de sua bazófia. “A gente quer eleições limpas, transparentes e tenho certeza que brevemente essas questões serão resolvidas”, prosseguiu.

Desnecessário dizer que ele não quer eleições, justamente porque sabe que se elas forem limpas e transparentes – sem o concurso de um juiz de Curitiba jogando a favor dele, como em 2018, e com uma cobertura isonômica e igualitária da mídia tradicional – o destino que o espera é a derrota implacável, gigantesca, vexaminosa e catártica.

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Seguiu ainda o boçal, dando-se ares de criatura presidencial, que não enganam nem mais a mulher, Michelle, que passou a se divertir curtindo os derradeiros momentos palacianos a gravar videozinhos de “erros de gravação” no Alvorada: “Eu sou o chefe supremo das Forças Armadas. Aceitamos um convite do ministro Barroso (Luís Roberto Barroso, presidente do TSE). O pessoal do Exército, segundo a mídia, buscou o TSE e começou a levantar possíveis vulnerabilidades, para ajudar o TSE. Foi oficiado o Tribunal Superior Eleitoral, para que pudesse responder às Forças Armadas”, declarou no sketch, com pompas de quem fazia um discurso “histórico”. E prosseguiu, tentando dar ares graves ao que falava: “Passou o prazo, ficou um silêncio, foi reiterado. O prazo se esgotou no dia de hoje. E isso está na mão do ministro (da Defesa) Braga Netto, que vai tratar desse assunto. Ele vai entrar em contato com o presidente do TSE para ver se o atraso foi em função do recesso ou se não foi”.

Pedir asilo não é carta fora da mesa. A quem?, é que são elas. Onde os Bolsonaro poderiam se exilar?

De tão repisadas, de tão clichês, de tão cansativas, as ameaças presidenciais à Corte Eleitoral, que o investiga por campanha eleitoral antecipada e imprópria em 2022 e por disseminação de fake news e discurso de ódio em 2018, corrompendo a isonomia e higidez do processo político, mereceram pouca atenção. Porém, a escalada golpista e o retrocesso da virulência verbal de Jair Bolsonaro contra o Poder Judiciário em especial, e contra o TSE em particular, têm uma explicação singela: ele está perdido em cena, sabe que não possui chance de ser reeleito, vê o calendário legal andar para a frente obrigando-o a tomar a decisão capital de sua vida. Se ficar, e insistir na eleição, o bicho pega: perde, e tem três meses para “arrumar a mala” e sumir, como sugeriu o filho Eduardo Bolsonaro. Se correr, e renunciar para tentar um mandato de senador pelo Rio de Janeiro, por Santa Catarina ou pelo Amazonas, por Rondônia ou pelo Amapá, o bicho come: tendo de suportar seis meses sem mandato, sem foro privilegiado, não sobrevive a ações judiciais e as contas com a Justiça chegarão antes do esperado.

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Mas, Bolsonaro não descarta esse grande “roque” no tabuleiro do xadrez presidencial. E os militares das três Armas que se engajaram desde 2017 pela ascensão dele, que chegaram unidos ao Planalto em 2019 e depois se dividiram em dois grupos – o Partido Militar do B, ou seja, do Bolsonaro, e o Partido Militar da SS, de Sobrevivência Suplementar – açulam a segunda hipótese. Vendem-se como garantidores de que não haverá ações em seis meses de campanha e procuram afastar os filhos presidenciais, Carlos, Flávio e Eduardo, dos ouvidos do pai. No desespero dos cúmplices, pois sabem que cometeram e cometem crimes juntos, o trio de herdeiros do clã infernal crê que não há outro caminho a não ser lutar até o dia 2 a fim de arrastar o pleito por mais um mês e, derrotados, decidir a quente o que farão. Pedir asilo não é uma hipótese fora da mesa. A quem?, é a pergunta que se segue quando a carta do exílio chega. Nem eles mesmos sabem. Aliás, os três estroinas não sabem de nada.

Novo flerte golpista: planta o fantasma de 1964, mas colherá as safras de 1945 e o contragolpe de 1955

Ao esgrimir a possibilidade de sair antes para disputar o Senado, e mexer com todo o jogo sobre a mesa de carteado, Bolsonaro repõe o vice Hamilton Mourão de volta à partida e à partilha de cartas. Seria simples e matemático se Mourão aceitasse assumir, concluir o mandato, e entregar a faixa para quem vencer – a preços e cacife de hoje, Lula. O vice-presidente poderia, ainda, tentar disputar a reeleição, esforçando-se para ser o que não é: um líder político. E sendo forçado a conviver e a disputar um pleito tendo Valdemar da Costa Neto como aliado central, o que ambos repelem. 

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E se Bolsonaro insistir em deixar a Presidência e Mourão, também? O vice-presidente já indicou que disputará o Senado pelo Rio Grande do Sul. A situação é improvável, é uma especulação, mas Arthur Lira (PP-AL) assumiria, ficando seis meses no cargo (se o Supremo Tribunal Federal deixar, mas deve deixar). As ações em que ele era réu estão caindo no STF, que o absolve de um caso após outro. Restaria a Lira, então, colocar a si mesmo como nome a ser indicado pela Câmara ao cargo vitalício de ministro do Tribunal de Contas da União. Loucura? O Festival de Besteiras que Assola o País já escreveu roteiros menos prováveis, como a própria eleição de Jair Bolsonaro.

Sem ser levado a sério sequer pelos puxa-sacos que calçam coturnos e batem continência para ele todas as manhãs, Bolsonaro sonha com um golpe clássico como o de 1964 ao latir contra o TSE e advertir que pode “chamar o Braga Netto”. Contudo, detentores de formação e de informações melhores que as dele, e desafiados a fazer a transição das instituições militares para um novo governo de reconstrução nacional que não terá Jair Bolsonaro, os comandantes militares e alguns dos oficiais mais graduados da reserva das três Forças nunca deixam de lembrar as soluções de 1945, quando a ditadura de Getúlio Vargas foi deposta por generais sob a liderança de Góis Monteiro, e de 1955, quando a vitória eleitoral de Juscelino Kubitscheck foi assegurada pelo marechal Henrique Lott.

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Em 29 de outubro de 1945 o Ministro da Guerra, Góis Monteiro, tomou o Palácio do Catete e pretendia prender Vargas. Era o fim do Estado Novo. O marechal Eurico Dutra, sucessor de Monteiro e herói da 2ª Guerra, negociou uma saída com a renúncia varguista e conservação dos direitos políticos do ex-ditador. As eleições daquele ano foram mantidas, e Dutra venceu com apoio de Vargas, que iria sucedê-lo cinco anos depois. O roteiro do golpe foi reescrito pela realpolitik, e não saiu a contento dos golpistas, Em 1955, os mesmos militares que haviam tangido o País e as forças armadas contra Getúlio Vargas, levando ao suicídio dele em 1954, satisfaziam-se com o banquete servido pelas vivandeiras que não queriam érmitir a posse de Juscelino Kubitscheck (PSD), e do vice João Goulart (PTB), eleitors separadamente. Urdiram um golpe para cancelar as eleições, junto com o presidente Café Filho (vice de Vargas, que assumiu depois do suicídio). O Marechal Lott, adversário de JK e de Jango, envergou o papel de salvador das instituições, liderou um contragolpe e assegurou a posse de Juscelino e do seu vice-presidente que já julgavam ser “comunista”.  O resto é história.

Ignorante, despreparado, inculto, isolado politicamente e moralmente desqualificado para amplas negociações – mesmo que elas se deem pragmaticamente em torno dele – Jair Bolsonaro não conhece sequer o desfechos dos golpes e contragolpes nos quais se envolveram os militares brasileiros. Ele navega por uma Brasília árida de homens, ideias e futuro, sem sequer conhecer como o passado tratou maus militares da laia dele.

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