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Ricardo Bruno

Jornalista político, apresentador do programa Jogo do Poder (Rio) e ex-secretário de comunicação do Estado do Rio

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"Debate" da Globo: todos unidos para derrubar Lula, mas o favorito se manteve de pé, com indignação nunca vista

"Apesar do ringue formado para derrubar o favorito, Lula, se não pode soltar foguetes, tem o direito de considerar-se vencedor", analisa Ricardo Bruno

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)
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(Publicado originalmente no Agenda do Poder)

Os dois primeiros embates do programa, entre Ciro e Lula e logo em seguida entre Bolsonaro e Lula, já indicavam o que viria pela frente e no que resutariam as próximas quase três horas de algo que pode ser chamado de uma tentativa de linchamento do candidato favorito, mas de forma alguma um debate: agressivo, em tom grosseiro, o hoje pedetista acusou o petista de ter arrebentado as famílias brasileiras e, com suas falsidades, ter gerado o desastre Bolsonaro. Àquela altura, Lula ainda tentava responder com firmeza mas com sobriedade:

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– Estou achando você nervoso, Ciro. Você viveu, no meu governo, o maior periodo de conquistas e avanços sociais da história do país. O governo atual, diferentemente do que você diz, não é herdeiro do governo da Dilma, mas de um governo golpista. Nós deixamos um Brasil que era motivo de orgulho.

A tentativa de Lula de manter a discussão em tom minimamente calmo não durou muito. Na pergunta seguinte, coube a Kelmo, que Soraya acabou chamando de “Padre de Quermesse”, convidar Bolsonaro ao púlpito para formar uma dupla de agressores em conluio. A pergunta foi a favor do presidente, assim como a tréplica. Se fosse vôlei, seria ação de um levantador. Mas estava longe de ser uma ação civilizada.

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O que veio de Bolsonaro foi uma gritaria de ofensas e mentiras – a primeira de muitas:

– Lula foi chefe de uma grande quadrilha. Não podemos continuar no país da roubalheira. Ele quer Quer liberar as drogas. Defendia que roubassem celular para comprar uma cervejinha. Eu acabei com a mamata de Lula e da Rede Globo.

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Ainda durante o direito de resposta obtido por Lula, Bolsonaro continuou falando, em desobediência às regras do debate e, em seguida, aumentou o tom de voz e dos insultos:

– Mentiroso! Traidor da pátria! Seu governo fez nordestinos morrerem por falta de respiradores. Tome vergonha na cara, Lula!

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Ao atribuir a Lula um erro cometido justamente por ele – a incúria que levou à morte de brasileiros por falta de oxigênio durante a pandemia – Bolsonaro e seu parceiro deixaram claro que estavam ali para avacalhar o debate, impedir qualquer troca de ideias e, com apoio dos demais candidatos, fazer daquele lugar uma arena de MMA de todos contra o favorito nas pesquisas eleitorais.

Lula reagiu, firme:

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– Em 2 de outubro, o povo vai te mandar pra casa. E no meu primeiro dia como presidente vou assinar um decreto acabando com teu sigilo de 100. O país vai saber o que este homem esconde.

Bonner pediu calma, mas a partir dali já não controlava o que acontecia diante dele e dos telespectadores. O que se viu foi uma arena e um desfile de agressões e direitos de resposta, em nível ainda mais baixo do que acontecera no “debate” anterior, no SBT, ao qual Lula teve a prudência de não comparecer.

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Ciro, de carona na bestialidade de Bolsonaro e do “Padre Laranja”, como o próprio Lula veio a chamá-lo, chegou ao ponto de acusar os baianos Caetano Veloso e Geddel Vieira Lima de conchavo a favor do PT. Pouca coisa fazia sentido.

O resultado final daquilo tudo, que só acabou pouco antes das 2 horas da manhã, provavelmente com audiência limitada numa sexta-feira de trabalho para a maioria dos brasileiros, foi que, apesar do ringue formado para derrubar o favorito, ninguém caiu, ninguém ficou estatelado e Lula, se não pode soltar foguetes, tem o direito de considerar-se vencedor, porque se manteve de pé, respondeu com uma indignação que não se via nele há muito tempo. Virou jararaca. Apanhou muito, mas como se diz no MMA, não foi “finalizado”. Saiu inteiro e não se deve imaginar que tenha perdido votos em meio à algaravia de gritos que teve de ouvir.

Os 10 ou 11 por cento dos eleitores que adimitiam a hipótese de mudar de ideia em função do debate não encontraram  nenhuma razão para isso, diante da pancadaria contra um único candidato – o favorito, naturalmente – e da grosseria ultrajante e mentirosa de pelo menos dois deles – Bolsonaro e o padre que leva a tiracolo para fazer o jogo mais rastejante, como se fosse possível ser mais chulo.  

Pelo nivel de grosseria, os três debates ocorridos mais desorientaram do que esclareceram o eleitor. Serviram para que os que correm atrás tentassem virar o jogo, o que as pesquisas têm indicado que não conseguiram.

O debate de verdade será domingo entre o povo brasileiro e as urnas eletrônicas.

O eleitor, na verdade, debaterá consigo mesmo, decidirá por conta própria – os poucos que ainda não decidiram. Terá de levar em consideração a diferença entre civilização e barbárie, entre ofensas e insultos e a interdição, que tenta silenciar o candidato favorito, que é favorito apesar de ter sido silenciado, em 2018 por uma prisão ilegal e, agora, por gritos e perdigotos de ressentidos.

No segundo bloco, depois de tantos confrontos constrangedores, o debate ganhou alguma calma, talvez porque os adversários do candidato favorito tenha percebido que, daquele jeito, não seria possível obter alguma vantagem.

Lula, principalmente, mas também alguns dos demais candidatos, tiveram a oportunidade e um mínimo de tranquilidade para fazer propostas e promessas. As exceções continuaram sendo o destrambelhado Bolsonaro, que reproduziu fake news até o último minuto de sua última fala, e do Padre, que se comportou o tempo todo como um adolescente malcriado de quinta série que senta no fundão para fazer bagunça e infernizar a vida dos colegas e do professor. 

Foi repreendido várias vezes por Bonner, sem resultado. O apresentador chegou a tratá-lo como uma criança problemática:

– Padre, por favor, olhe pra mim quando eu estou falando – admoestou, quando tentava impor aguma educação ao heterodoxo autoproclamado sacerdote.  

Foi uma desesperada tentativa de enquadrar à civilidade um sujeito que se dedicou o tempo todo a impedir qualquer discussão. Pouco depois de ter xingado Lula de maneira estapafúrdia e, com isso, ter tirado do sério o ex-presidente, que reagiu aos gritos exigindo respeito.

Ao ser ofendido, Lula perdeu a calma:

– O sehor é um falso padre. Está aqui fantasiado de padre. Também por isso vou voltar a ser presidente, O povo está cansado de gente da sua espécie. O senhor é se diz padre, mas e um fariseu.

Naquele momento, é bastante rovável que pouca gente estivesse assistindo. Superado o último momento difícil da campanha televisiva, não resta mais nada a esperar, além de dier: 

– Às urnas!

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