Decisão de Jean Wyllys é soco na cara do discurso bolsonarista

A decisão anunciada pelo deputado federal Jean Wyllys de desistir do mandato por causa de perseguições e ameaças atinge, como um soco fulminante, o discurso homofóbico que marcou toda a campanha do candidato Jair Bolsonaro e que baseia o próprio governo do agora presidente.

Ontem – falo das eras pré e pós campanha eleitoral -, essa apologia ao ódio foi disseminada em todo o País por uma horda de celerados guiados pelo candidato do PSL. Na mira, hoje, o pensamento tacanho de presidente e ministros cuja base ideológica inclui o mesmo ódio à diversidade e ao pensamento que seja o deles.

Jean Wyllys caiu em desgraça diante de Bolsonaro & Cia por personificar aqui o que eles tanto perseguem. Por ser a principal voz do segmento LGBT no Congresso Nacional, o parlamentar representa, ele sim, uma ameaça ao bando homofóbico, com seu discurso corajoso e coerente, com sua lucidez e embasamento. Tudo exatamente ao contrário da essência tosca e ignorante do povo da panela.

Na figura de Jean Wyllys se centrou o reacionarismo espumante e hidrófobo traduzido no baixo calão das figuras nefastas que foram expelidas das trevas pelo bolsonarismo. As mesmas que criaram mentiras como a existência do “kit gay” e expressões absolutamente estúpidas como a tal “ideologia de gênero” que nenhum bolsonaro, nenhum frota, nenhum malafaia, ninguém conseguiu ainda explicar o que danado seja. Ou a tal da “ideologia de gênero”, que equivale ao “marxismo cultural” no glossário das expressões idiotas criadas por teóricos idem, hoje gurus de um governo sem rumo, sem presente e, do jeito que a banda toca, sem futuro.

Essa tralha de ideias e ideólogos estapafúrdios que hoje assola o País ainda não é nada, diante do que vem por aí. No começo do mês que entra, também entra em campo um novo Congresso. Na Câmara dos Deputados, somente do partido do presidente, serão mais 52 legisladores que pensam exatamente a mesma coisa dos que hoje provocaram em Jean Wyllys a desistência do mandato.

Jean Wyllys, ao contrário do que seus detratores já estão espalhando pelas redes sociais, não está fugindo da raia. Seu brado é firme e condiz coerentemente com sua vida pública; Na Câmara, poucos se mantiveram tão dignos e corajosos na defesa não apenas das minorias e da diversidade, mas da nossa democracia e da nossa Nação. E acho que a presença dele seria fundamental nesse quadro aterrador que será o Congresso a partir do mês que vem.

Sobre a reação de Jair Bolsonaro, que foi às redes sociais comemorar o fato - “Grande dia”, escreveu em seu twitter -, novidade zero. Como ele, também festejou Carlos Bolsonaro, o filho do meio – o que não tem mandato, mas manda no governo mais que a maioria dos ministros, a ponto de passear no Rolls Royce oficial em plena posse.

Só acho cedo para as comemorações. A saída do deputado do PSOL, pelos motivos que ele teve, contribui sobremaneira para o afundamento da imagem do Brasil no charco que o novo governo o enfiou.

O “grande dia” ainda vem por aí. E pelo conjunto da obra do governo, parentes e aderentes, pode vir mais cedo do que se imagina.