Declarações xenófobas de chanceler alemão ainda repercutem no Brasil
A continuar com a maneira controversa de se posicionar, Merz poderá durar pouco tempo no cargo
Destoando intensamente dos chanceleres que o precederam no cargo, o primeiro-ministro alemão Friedrich Merz causou grande controvérsia ao criticar o Brasil e a cidade de Belém do Pará, onde se realiza a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30).
Em retorno à Alemanha depois de participar da COP30, ele discursou no Congresso Alemão do Comércio onde afirmou que a comitiva oficial e os jornalistas que o acompanharam sentiram alívio ao deixar a capital paraense. O comentário ocorreu na semana passada, após permanecer em Belém para a Cúpula de Líderes, nos dias 6 e 7 de novembro.
Por causa da repercussão negativa, o ministro alemão do Meio Ambiente, Carsten Schneider, tentou aparar as arestas. Exaltou o Brasil como um país “maravilhoso”, que tem um povo acolhedor e bom. O Ministério do Meio Ambiente também enfatizou que "a floresta amazônica é o clima da Terra". E alertou para as mudanças climáticas: "A floresta está mudando. Moradores relatam menos flores, frutos e peixes na água. Belém, que já é uma cidade quente, está ficando cada vez mais abafada".
Nesse momento, uma pergunta se faz necessária: que reais intenções tinha o chanceler Merz antes de embarcar para o Brasil? Em Belém, ele frustrou as expectativas de governantes e membros de organizações internacionais os quais esperavam uma contribuição significativa da Alemanha para o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF). Deixou a cidade sem anunciar um valor concreto. Outros governos tiveram posturas diferentes. A Noruega informou que vai aportar US$ 3 bilhões de dólares ao TFFF, enquanto o Brasil e a Indonésia US$ 1 bilhão, cada um.
Quem é o senhor Merz
Ele assumiu o cargo de primeiro-ministro (na Alemanha é o mesmo que chanceler) em maio deste ano, após uma crise institucional e a saída de Olaf Scholz. Merz representa a ala conservadora da CDC (União Democrata Cristã), partido de centro-direita que teve como uma de suas principais líderes Angela Merkel, que governou o país por 16 anos e reuniu um grande prestígio em torno de sua pessoa.
Merz é advogado, com idéias liberais sobre a economia (defende reformas estruturais, disciplina fiscal, entre outros) e conservadoras no campo social. Acumulou elevado patrimônio no setor privado após deixar a política em 2009. Voltou em 2020 quando Merkel anunciou que deixaria o comando do país. É considerado, entre seus colegas de partido, como uma pessoa pragmática e ambiciosa. E por muitos que o acompanham como pouco diplomático.
O chanceler vem se tornando conhecido pelas declarações controversas que emite, tanto interna quanto externamente. Ao final de outubro, disse que os imigrantes na Alemanha são “um problema de paisagem urbana”. Sobre conflitos internacionais, alegou que “Israel faz o trabalho sujo para o Ocidente, ao mirar o programa nuclear iraniano”.
Alguns políticos o acusam de romper a tradição diplomática alemã, desconsiderar a existência de vítimas civis nos conflitos e contrariar normas do direito internacional. Merz não tem honrado o legado de muitos antecessores no cargo. A maioria revelou ter uma formação educacional sólida e angariou prestígio interno e externo. Incluem-se, nesse caso, Angela Merkel (2005-2021), Helmut Kohl (1982-1998), Helmut Schmidt (1974-1982), Willy Brandt (1969-1974 e que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1971).
A continuar com a maneira controversa de se posicionar, Merz poderá durar pouco tempo no cargo pois, no mundo complexo em que vivemos, seu pragmatismo não será uma garantia para manter-se no poder.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

