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Marcelo Zero

É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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Bolsonaro defecou na imagem de seu próprio país. Emporcalhou a Nação

"Quem se dá ao desplante de emporcalhar o Brasil pode perfeitamente ser capaz de tentar destruir o que restou da nossa jovem e vulnerável democracia"

(Foto: Clauber Cleber Caetano/Ag. Brasil)
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Por Marcelo Zero

Bolsonaro não deixa de surpreender. Quando a gente achava que ele já tinha chegado ao degrau mais baixo da torpeza humana, vem ele e cava mais fundo no abismo da mentira e da imoralidade. É a encarnação viva da “lei de Murphy”. Com ele, tudo pode piorar. 

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Foi o que aconteceu ontem no Palácio do Planalto, na sua “palestra” para embaixadores estrangeiros.

Não creio que haja registro, na história da diplomacia mundial, de um Chefe de Estado que tenha reunido embaixadores estrangeiros para agredir a democracia de seu país e difamar os integrantes de outros poderes. Talvez Papa Doc? Somoza? Não lembro.

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No “chiqueirinho” armado, com dinheiro público, no Palácio do Planalto, constrangidos e incrédulos embaixadores foram forçados a um exercício nauseante de coprofagia. Sem piedade e nenhuma vergonha, Bolsonaro defecou na imagem de seu próprio país. Emporcalhou a Nação. Sujou o Brasil.

Como se estivesse em meio a uma “motociata” de seus fanáticos seguidores, Bolsonaro cometeu um “brienfing” (sic!) de malcheirosas e requentadas mentiras e de ataques furiosos contra a justiça eleitoral e o STF. 

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Além de ter atacado o nosso sistema de urnas eletrônicas, que vem funcionado extraordinariamente bem há mais de 20 anos e que é motivo de orgulho para o Brasil, o capitão, almirante de mares revoltos, eleito por esse sistema, proferiu calúnias contra membros do STF. Afirmou, com todas as letras, que os ministros Barroso e Fachin seriam coniventes com “terroristas” e que, por isso, teriam sido escolhidos para integrar o STF pelos governos do PT. 

Não satisfeito, Bolsonaro disse que a única maneira de assegurar que o Brasil tenha eleições limpas seria pelo envolvimento das Forças Armadas na apuração e fiscalização da contagem dos votos. 

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O capitão, em sua proverbial ignorância e na sua infinita torpeza, talvez achasse que esse “brienfing” (sic!) poderia sensibilizar algum chefe de missão diplomática acreditado no Brasil.

Se achava, o tiro saiu pela culatra. Um tiro de canhão.

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Todos os diplomatas entrevistados após o espetáculo inusitado e grotesco afirmaram, sob a condição de anonimato, que o “brienfing” não mudou em nada suas avaliações positivas do sistema eleitoral do Brasil. Segundo o The New York Times, alguns embaixadores saíram até “estremecidos” com a percepção de que Bolsonaro não aceitará o resultado das eleições, caso perca.

Afinal, embaixadores costumam ser pessoas muito bem informadas. Não são milicianos descerebrados.

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Se a imagem internacional de Bolsonaro, um pária mundial, já era muito ruim, agora tornou-se péssima. O silêncio sepulcral dos embaixadores, após terem sido obrigados a engolir toda aquela matéria fétida, denota isso muito bem.

O capitão pode até se dar o direito de fazer papel de palhaço totalitário ante representantes da comunidade internacional, mas não tem, de forma alguma, o direito de emporcalhar o Brasil e suas instituições.

Fosse num país de maior tradição democrática e não tutelado por militares, já teria sido legalmente deposto. Em um regime parlamentarista, cairia no dia seguinte ao atentado contra a Nação e a democracia. 

A Lei 1.079, de 1950, permite enquadrá-lo em vários crimes de responsabilidade. É só escolher: opor-se diretamente e por fatos ao livre exercício do Poder Judiciário, ou obstar, por meios violentos, ao efeito dos seus atos, mandados ou sentenças (Art.6º, 5,); incitar militares à desobediência à lei ou infração à disciplina (Art.7º, 7; proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decôro do cargo (Art.9º,7) etc.

Evidentemente, sua deposição legal, a pouco mais de dois meses da muito provável vitória de Lula, não ocorrerá. Mas o golpe, embora pouco provável, é possível. 

No “chiqueirinho” do Planalto, Bolsonaro demonstrou, mais uma vez, que está seguindo o roteiro de Trump e da extrema direita mundial para tentar se perpetuar no poder. Como seu amado ídolo, que provavelmente será preso, Bolsonaro e asseclas se dedicam a propagar fake news e toda sorte de agressões contra o sistema eleitoral, a democracia e suas instituições, e contra opositores e desafetos.

Como Trump, quer criar um clima propício ao não reconhecimento dos resultados das eleições e promover um novo “assalto ao Capitólio”. Com um jipe e dois militares, como vaticinou um de seus filhos, o qual, por mera coincidência, estava em Washington, na ocasião funesta. Muito provavelmente, convocará seus fanáticos seguidores e apresentar denúncias falsas de que seus votos foram computados de forma equivocada. A partir daí, o inferno é o limite.

O roteiro é bem conhecido. O que ainda se desconhece é se ele terá sucesso ou não. Em que pese a rejeição das instituições e da maior parte da população a uma tentativa desse tipo, Bolsonaro tem o apoio de uma legião de fanáticos e de setores que possuem armas, inclusive de parte das forças armadas. Também desfruta de prestígio em setores abjetos de nossas oligarquias, que o aplaudem, com entusiasmo, quando o capitão visita suas agremiações e vomita seu credo autoritário. Afinal, para esses setores, “democracia” é o sistema que promove o lucro de curto prazo.

A reação um tanto tíbia das instituições e da sociedade civil organizada, inclusive com várias omissões importantes, como a do presidente da Câmara dos Deputados, pode encorajá-lo. O fascismo cresce com o medo e a apatia de seus adversários.

Entretanto, a despender da chamada “comunidade internacional”, o golpe não prosperaria.

Biden, que detesta Bolsonaro, já deixou abundantemente claro que não aceitará uma aventura autoritária de um canino seguidor de Trump. Ademais, depois que Bolsonaro questionou a validade da vitória de Biden e o sistema eleitoral norte-americano, criou-se uma grande animosidade no Partido Democrata contra ele.

Da mesma forma, os países da União Europeia, que nutrem, em sua grande maioria, verdadeiro desprezo por Bolsonaro, por suas políticas antiambientais e contra os direitos humanos, não aceitariam também um golpe dos neofascistas brasileiros. Isso sem falar da China, que já foi objeto de inúmeras agressões do capitão. Mesmo na atual América Latina, tomada por uma nova onda progressista, o golpe bolsonarista seria amplamente rejeitado.

Na eventualidade de uma tentativa de golpe, o mais provável é que o Brasil seja submetido a sanções comerciais, financeiras e políticas, destinadas a isolar Bolsonaro, com seu odor putrefato de amante das ditaduras e dos torturadores, do resto do mundo.

As forças armadas brasileiras, que hoje têm acesso ao multibilionário orçamento de defesa dos EUA, em razão de terem se tornado forças subsidiárias do Comando Sul e da Otan, ficariam sem seus projetos e brinquedinhos.

O problema é que Bolsonaro e bolsonaristas vivem numa tóxica bolha, impermeável à verdade e à realidade. Como o fanático assassino de Marcelo Arruda, acreditam que estão invariavelmente certos e que todos aqueles que os contestam não têm sequer o direito a existir.

Nesse contexto de delírio coletivo neofascista, muita coisa pode acontecer, muita coisa pode ser tentada. As forças realmente democráticas precisam estar muito atentas e unidas para evitar o pior.

Quem se dá ao desplante de defecar na imagem do país e de emporcalhar o Brasil pode perfeitamente ser capaz de tentar destruir o que restou da nossa jovem e vulnerável democracia.

No ar, há mais do que aviões de carreira. Há um penetrante cheiro de enxofre. 

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