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Joaquim de Carvalho

Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br

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Delegado que ligou PCC a suposto plano de ataque a Moro é o mesmo do caso Adélio

Martin Bottaro, que assina um relatório fraco, assumiu a investigação do evento de Juiz de Fora no ano passado, quando Bolsonaro tentava ligar PCC a Lula

Moro, Nefo, o relatório da PF com assinatura de Bottaro Purper e papel apócrifo que cita o Intercept (Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado | Reprodução)
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O relatório da Polícia Federal liberado pela juíza Gabriela Hardt sobre a operação Sequaz chama a atenção por dois aspectos: a inconsistência narrativa e o nome de quem o assina, Martin Bottaro Purper, que é o delegado que assumiu o caso de Adélio Bispo de Oliveira no ano passado, depois que o policial que vinha presidindo o inquérito, Rodrigo Morais, foi transferido para um posto no exterior.

Na época em que Bottaro Purper assumiu a investigação, o que se disse sobre ele é que é especialista em PCC, o que despertava a suspeita de que Jair Bolsonaro tentava ligar o caso de Juiz de Fora à organização criminosa. 

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Na mesma época, a rede social era repleta de fake news que tentavam associar Lula a quadrilhas de traficantes, como o vídeo em que um líder comunitário negro da Bahia eracumprimentado por Lula durante a campanha, como se a cena tivesse sido no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.

Durante a campanha, Purper Bottaro tentou colher depoimento de Adélio, o que poderia ser usado como peça de campanha. Mas a Justiça Federal em Campo Grande não autorizou o depoimento. O inquérito sobre Adélio e Bolsonaro segue aberto na Polícia Federal.

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Mesmo assim, Purper Bottaro assinou de Cascavel, no Paraná, o relatório que embasou a decretação das prisões de personagens supostamente envolvidos em uma trama contra Sergio Moro.

Nas 83 páginas do relatório, o fato que poderia ligar os criminosos a essa suposta trama é um print de tela de celular em que o homem apresentado como líder da quadrilha transmite à mulher um código de mensagens.

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"Vou te mandar umas msg q são códigos p eu não esquece e e ter aí qundo chegar então não apaga e importante o mim ok amor. Só para deixar aí no seu telefone (sic)", escreve no WhatsApp Janeferson Aparecido Mariano Gomes, que seria conhecido como Nefo. "Tabom amor" (sic), responde Aline de Lima Paixão.

Em seguida, ele passa os códigos: "Ms - México/ Moro - tokio/ Sequestro - Flamengo/ Ação - Fluminense.

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Segundo o promotor Lincoln Gakiya, o líder do PCC Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, teria liberado R$ 60 milhões para a execução de um plano A, que era o seu resgate do presídio federal de Brasília, ou um plano B, que seria o ataque a Moro.

É crível que, com tanto dinheiro, o coordenador mobilizado pelo PCC fosse um amador completo a ponto de registrar na rede mundial de computadores códigos tão importantes para eles?

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Há também a imagem de um caderno que teria sido transmitida por outra mulher que manteria relacionamento amoroso com Nefo. Aline Ardnt Ferri teria enviado informações sobre Moro, Rosângela, a filha e do filho dos dois. Não há nada de extraordinário nas anotações.

São dados que podem ser obtidos na internet, como CNPJ de Rosângela, o endereço da empresa e os bens declarados por Moro. Consta ainda o nome da faculdade onde o filho estuda.

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Das 83 páginas do relatório, o delegado dedica nove para transcrever uma conversa interceptada, em que Aline de Lima Paixão conversa com o telemarketing de uma provedora de internet, para tentar contratar um serviço. Não consegue, porque o CPF informado não teve cadastro aprovado.

A justificativa para a transcrição da conversa é demonstrar que Aline usava nome de terceiro, para instalar internet na própria casa, em um condomínio. A ausência de transcrições detalhadas de outras conversas pode revelar que não há nada de mais relevante na investigação.

Há referência também de moradias locadas por eles. Uma delas no edifício Bellagio, Jardim Botânico, Curitiba, de onde saíram "por causarem transtornos" e "por não pagarem os valores devidos". É muito amadorismo.

Também merece registro imagem da página 10 do relatório do delegado Bottaro Purper. É de um texto sem assinatura, em que um autor não identificado relaciona 22 ações realizadas. O nome do site The Intercept Brasil é o item 17. Não há identificação de valores nem de serviços. No final da página, o que aparece é o local onde o texto teria sido escrito, além da data: "Santos, 24/08/2022".

Essa referência serviu de base para reportagem da Jovem Pan, que tenta ligar o Intercept ao PCC. A emissora, conhecida pelos vínculos com a extrema direita, deixou de publicar a resposta do site num primeiro momento. 

Horas depois da reportagem ter sido exibida e, portanto, com a possibilidade de compartilhamento, é que a emissora acrescentou a posição do site, que refuta categoricamente a insinuação.

"Como era de se esperar, a nota foi ao ar. E nela sequer havia o posicionamento do Intercept, enviado 40 minutos antes da publicação do texto e dentro do prazo exigido pelo jornalista. O autor afirma que procurou o Intercept e 'não teve resposta'. É uma mentira intencional ou uma falha grosseira dos padrões jornalísticos, se não ambos", disse o Intercept.

O Intercept não fala, mas a inclusão de seu nome no caso, por meio de um texto apócrifo, aumenta a suspeita de que o plano de ataque do PCC a Moro é uma perigosa armação, que junta elementos para construir a narrativa que coloque o ex-juiz como vítima.

Todos sabem que Moro foi desmoralizado a partir da publicação de mensagens acessadas pelo hacker Walter Delgatti nos arquivos da conta de Deltan Dallagnol no Telegram.

E quem publicou as mensagens foi o intercept.

Coincidência o nome do site aparecer no papel apócrifo? Coincidência a juíza que autorizou as prisões a partir de um relatório inconsistente ser uma notória aliada de Moro? Coincidência o delegado que fez o relatório sobre Moro ser o mesmo que preside o inquérito sobre Adélio?

Nesta sexta-feira, num debate na CNN sobre o caso Moro, o pastor-deputado Marcos Feliciano fez declarações que podem indicar uma narrativa em construção. 

Em três ocasiões, de forma muito grave, disse que Lula está ligado ao PCC e que existe o risco de o estado brasileiro se tornar um narcoestado.

Mentiras grosseiras, mas que, se não forem rebatidas devidamente, podem se espalhar. Só falta incluírem o Adélio Bispo de Oliveira e o caso de Juiz de Fora na trama. 

O delegado Bottaro Purper, o mesmo do caso Moro, teria sido colocado no inquérito justamente para cumprir uma missão que agradaria a Bolsonaro. Por suas declarações, parece ser esta a expectativa dele, a de ligar Adélio ao PCC e este a Lula. Nunca é demais lembrar que, tão logo a notícia do suposto plano de ataque a Moro vir à tona, Bolsonaro escreveu no Twitter:

"Em 2002 Celso Daniel, em 2018 Jair Bolsonaro e agora Sérgio Moro. Tudo não pode ser só coincidência. O Poder absoluto a qualquer preço sempre foi o objetivo da esquerda. Nossa solidariedade a Sérgio Moro, Lincoln Gakiya e famíliares. A CPMI assombra os inimigos da democracia."

A serpente do fascismo ainda se movimenta, e talvez tente dar agora seu bote mais perigoso.

.x.x.x.

Abaixo, o relatório assinado pelo delegado Bottaro Purper:

 

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