Dementes que mentem

Primeiramente, deixemos claro que não há qualquer surpresa no estrago feito por Bolsonaro e sua “equipe” no governo. O plano de governo – se é que podemos considerar aquelas poucas palavras como um plano – já dizia com todas as letras a destruição do meio-ambiente e o desprezo pela educação, ciência, tecnologia e cultura. A pauta de costumes estava em toda a campanha e não houve oportunidade para o debate, que poderia mudar um pouco o curso dos acontecimentos, uma vez que ele fugiu, avocando impedimento médico. Certo que a questão da facada foi inusitada, mas as intervenções cirúrgicas posteriores não o impediram de comparecer a evento esportivo e carregar taça que seu time de futebol ganhou. Ao menos ele não nega que a bola é redonda!

Nessa toada estão todos os da extrema direita, bem como os oportunistas a reboque. O governador de São Paulo, oportunista ao extremo, vem a público dizer que não o é. Oportunista é pouco para definir o comportamento distópico de João Dória. Sua atitude desavergonhada e sem constrangimentos o levará também a defender Lula livre!, caso isso resulte em auferir alguma vantagem. Ressalta-se que mais e mais jornalistas e profissionais da comunicação estão pulando fora da canoa furada e defendendo a volta de tempos mais democráticos. Estão querendo ficar do lado certo da História, por mais que vociferem o contrário. É muita canalhice dos que, mesmo após tudo o que já foi revelado pelo Intercept, continuam a pregar que Lula teve um julgamento justo. Do esperado embate entre acusação e defesa, o que houve foi o conluio entre promotoria e juiz.

Os governos migraram da política para casos de polícia. Agora o governo federal vai um passo adiante e se mostra ser caso psiquiátrico. A ofensiva de Damares Alves contra site que apenas se propôs a esclarecer como fazer um aborto seguro, dentro da lei, é apenas uma ilustração da questão. Mais do que impedimento, precisamos de interdição médica desses tresloucados ocupantes de Brasília. Como defesa, foi contratado um ghost writer para escrever como sendo a ministra Damares, negando que suas atitudes sejam contra a liberdade de imprensa. Digo isso porque não vejo compatibilidade entre os delírios dela e a capacidade de elaborar. O texto, porém, está repleto de contradições e seria hilário, não fosse a tragédia implícita. Ali se argumenta que a imprensa erra, o que é também verdade, mas o governo erra muito mais. As posições da ministra e do governo que representa são totalmente ideológicas, deixando isso claro quando é afirmado que seu “governo” é contra o aborto e faz populismo ao afirmar que se pretende salvar mãe e o bebê, ignorando a necessidade de decisão quando a vida de um supõe a morte do outro. A partir da suposta “prevenção a abortos malsucedidos”, termo que consta do texto, fica a pergunta: a ministra faria apoio a abortos bem sucedidos? Ninguém quer passar por situações de difíceis escolhas, mas deve-se ter a coragem e a responsabilidade de fazê-las. Curioso que o governo defende literalmente com armas a propriedade privada, mas não admite que a mulher defenda seu próprio corpo.