Denúncia de Conserino contra Lula é surreal

Não é possível levar a sério uma denúncia como a que foi apresentada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo. Ela só tem um objetivo, não declarado, é claro: fornecer combustível para a fogueira que se pretende fazer na avenida Paulista no próximo domingo.

É uma denúncia tão sem pé nem cabeça que tenta envolver Lula, sua mulher e seu filho no escândalo Bancoop sem eles terem nada a ver com isso.

Tanto não têm nada a ver que salta aos olhos o volume de acusações a alguns envolvidos em comparação com as do ex-presidente, tal como foi lido pelo inseguro e nervoso promotor Cássio Conserino, que abusava do tique de assoprar para cima a fim de afastar o topete da testa:

"Roberto Moreira Ferreira, formação de quadrilha 454 vezes...Vitor Levi Pedreira 451 vezes no artigo 171...Carlos Frederico de Andrade, 423 vezes estelionato...João Vaccari Neto, 2357 vezes no artigo 171...452 vezes no artigo 171...Ana Maria Érica, 2654 vezes no artigo 171...564 vezes no artigo 171... Wagner de Castro, 2366 vezes no artigo 171...Marisa Letícia Lula da Silva, lavagem de dinheiro... Luiz Ignácio Lula da Silva, 1 falsidade ideológica e 1 crime de lavagem de dinheiro...Fábio Luiz Lula da Silva, participação em lavagem de dinheiro"...

Também patética é a pena que caberia aos três caso fossem condenados: falsidade ideológica de 1 a 3 anos e lavagem de dinheiro, de 3 a 10 anos. Penas que em caso de réu primário não dão nem cadeia, para decepção dos jornalistas presentes à coletiva que logo pararam de fazer perguntas.

A denúncia é tão frágil que o promotor não apresentou uma prova de que o imóvel é de Lua. Disse apenas que "era destinado a Lula".

A outra decepção deu-se com respeito ao prazo. Todos queriam saber em quanto tempo a Justiça vai dizer se aceita ou não a denúncia.

Nem Conserino nem seu colega José Carlos Blat quiseram decepcionar mais ainda. Depois de enrolar um pouco, Blat lembrou que há 7.000 folhas para ler, o que na minha opinião, demandará seis meses no mínimo, se é que a juíza encarregada do caso terá a pachorra de ler uma denúncia tão forçada.

E outra: além de não ter prazo ela nem é obrigada a responder.

Como é fraco esse promotor. Não soube responder à pergunta básica do crime de lavagem de dinheiro: de onde Lula e Marisa obtiveram o dinheiro para fazer a lavagem. Disse apenas que isso não era mais necessário para provar o crime. Ou seja: Conserino acusa Lula de lavar dinheiro que não existe.

Ah, disse também que o caso dos móveis, tanto no Guarujá quanto em Atibaia não é com ele, mas com a Lava Jato.

Se a denúncia é absurda, se não há provas, se a Justiça só vai dizer se aceita ou não a denúncia daqui a uns seis meses, se é que vai dizer alguma coisa, por que divulgar esse factóide agora?

É surreal.