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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Denúncia contra Glenn mostra um Brasil sem as garantias individuais

Colunista Ribamar Fonseca afirma que a denúncia contra Glenn Greenwald, "escandalosamente política e visivelmente vingativa, vem demonstrar mais uma vez que ninguém está hoje seguro no Brasil, onde basta a convicção de um magistrado ou procurador para que alguém seja perseguido e colocado na cadeia". "Provas? Isso é coisa do passado", escreve

Glenn Greenwald (Foto: Alessandro Dantas/PT)
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Aconteceu o que todo mundo esperava, considerando-se o estado policialesco em vigor hoje no país: os “moristas” do Ministério Público, representados pelo procurador Wellington Divino (divino?), denunciaram o jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept, acusando-o de invadir celulares de autoridades. Junto com ele foram denunciadas mais cinco pessoas acusadas de hackear, entre outros, Sergio Moro e Deltan Dallagnol. Ninguém precisa ser inteligente para perceber que tal denúncia, absurda e desavergonhada, não passa de uma tentativa para intimidar os responsáveis pela chamada Vaza-Jato, a série de reportagens que revelou as ações criminosas registradas nos bastidores da Lava-Jato. O site divulgou os conluios entre integrantes da operação, inclusive envolvendo outras autoridades, até para influir em decisões do Supremo Tribunal Federal e prejudicar ministros daquela Corte. Apesar disso, até hoje nenhum dos membros daquela força-tarefa foi punido ou sequer investigado. Muito pelo contrário, Dallagnol, por exemplo, que chegou a desrespeitar decisões da Suprema Corte, foi blindado no Conselho Nacional do Ministério Público, onde todas as ações contra ele são sumariamente arquivadas.  

O que surpreende na denúncia do procurador Divino, o mesmo que não faz muito tempo denunciou o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, por criticar Sergio Moro, é que Glenn sequer foi investigado ou indiciado pela Policia Federal. Na verdade, ele força a barra fundamentando a sua denúncia no mesmo relatório da PF que inocentou o jornalista, um diálogo dele com um dos hackers. O mais incrível é que os diálogos comprometedores de Moro e Dallagnol, revelados pelo The Intercept, são muito mais graves e até hoje nenhum membro do Ministério Público fez qualquer denúncia contra eles. Por muito menos o ex-juiz prendeu e condenou várias pessoas, inclusive o ex-presidente Lula, estribado apenas em delações sem provas. O próprio Moro, aliás, que invadiu os telefones de Lula e Dilma e divulgou o conteúdo das conversas, desrespeitando proibição constitucional, até hoje não sofreu nenhuma punição por isso. Em compensação, agora prendem os sujeitos que invadiram o seu telefone e querem fazer o mesmo com Greenwald, afrontando decisão do ministro Gilmar Mendes. Perderam totalmente o pudor. Isso envergonha a parte saudável do Judiciário e do Ministério Público e depõe contra o Brasil no exterior. 

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Constata-se que Divino apenas fez a sua parte dentro do contexto atual do país, cujo governo, pelo comportamento do seu presidente e de auxiliares, revela uma coloração nazifascista, conforme evidenciado pelo secretário de Cultura Roberto Alvim, um nazista enrustido que se revelou ao fazer um pronunciamento na televisão. Se ele não tivesse copiado parte de um discurso de Goebbels, um dos mais importantes auxiliares de Hitler e responsável pela propaganda do nazismo no mundo, provavelmente sua suástica permaneceria ignorada. Elogiado pelo próprio Bolsonaro dias antes de ser exonerado por pressão de Israel, Alvim foi classificado pelo jornal francês Le Monde como “goebbolsonarista”, justamente por sua admiração pelo famoso nazista e sua participação no governo do capitão. Depois disso, o ex-prefeito paulista Fernando Haddad resgatou um pronunciamento do ministro da Educação, Abraham Weintraub, no qual ele também copia o discurso de um nazista, na verdade, do próprio Adolf Hitler. E de repente, diante de tantas evidências, caiu a ficha: o governo Bolsonaro em sua essência se mostra nazifascista. 

O episódio Alvim pôs fim a um mistério. Antes dele muita gente se perguntava: em que caverna das trevas Bolsonaro recrutou os nomes para integrar o seu governo? Eles pensam igual, falam igual, agem igual, se comportam igualmente de maneira autoritária, odeiam o PT, o comunismo e a democracia, desprezam os pobres, os homossexuais, os negros e os índios. Estão perfeitamente afinados, o que levou muita gente a perguntar: onde esse pessoal estava antes do capitão chegar ao Palácio do Planalto? Confirmando o enunciado da Física, de que “os semelhantes se atraem”, eles parecem que foram atraídos das sombras pelo discurso de ódio do capitão, que empolgou, empunhando armas imaginárias, multidões anestesiadas pela mídia, que demonizou a política promovendo uma verdadeira lavagem cerebral em grande parte da população. Bolsonaro é fruto desse trabalho da mídia corporativa, a exemplo de Moro, sem esquecer a ação das fake News que, copiando a estratégia que assegurou a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, transformou as eleições presidenciais de 2018 no Brasil numa grande mentira. Após um ano de governo do capitão muita gente já acordou, mas o estrago foi feito e vai precisar de tempo para ser reparado.

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Infelizmente algumas instituições foram contaminadas pelo nazifascismo do governo Bolsonaro-Moro, agindo afinadas com as orientações do capitão. É o caso, por exemplo, do Ministério Púnico Federal que, influenciado pelo hoje ministro da Justiça quando no comando da Lava-Jato, se transformou numa espécie de polícia política, realizando uma escandalosa caçada a todos os que se opõem aos extremistas de direita. E que, para alcançar seus objetivos, não hesita em atropelar as leis, a Constituição Federal e até decisões da Suprema Corte. É claro que nem todos os integrantes do MPF estão no barco de Deltan Dallagnol, Paludo e outros membros da força-tarefa de Curitiba, que tem em Divino um dos seus mais novos representantes. Como até agora ninguém foi punido, apesar das denúncias do site The Intercept, eles se acham poderosos o suficiente para afrontar até o Supremo Tribunal Federal, convencidos de que são intocáveis. No mesmo barco estão alguns juízes, seguidores de Sergio Moro, que agora, a partir da sanção da Lei do Abuso de Autoridade, deverão pensar duas vezes antes de tomar decisões político-partidárias que depõem contra a própria Justiça brasileira. O procurador Divino parece que não pensou nisso antes de denunciar Glenn, mas poderá vir a ser o primeiro enquadrado na nova lei. 

O fato é que a denúncia de Divino, escandalosamente política e visivelmente vingativa, vem demonstrar mais uma vez que ninguém está hoje seguro no Brasil, onde basta a convicção de um magistrado ou procurador para que alguém seja perseguido e colocado na cadeia. Provas? Isso é coisa do passado. Depois de Joaquim Barbosa e Sergio Moro os agentes públicos só precisam identificar a coloração política dos réus para condená-los, dando a impressão de que estão fazendo “justiça”. Hoje a melhor maneira de escapar da mira desse pessoal é colocar-se debaixo das asas de Bolsonaro. Vejam, por exemplo, o caso de Queiroz, velho amigo dele, acusado de operar uma suposta rachadinha no gabinete do então deputado estadual Flavio Bolsonaro: ele ignorou solenemente o Ministério Público e a Policia Federal e simplesmente sumiu sem deixar rastros. A diligente PF, que identificou e prendeu rapidamente os hackers acusados de invadir o telefone de Moro, até hoje não conseguiu encontrar o Queiroz, um gênio da fuga. Quem sabe ele não foi para a Rússia com aquele sujeito que tocou fogo na sede do Porta dos Fundos? E que ainda debochou de todo mundo postando um vídeo lá da terra de Putin. Se ele e Queiroz fossem petistas já estariam presos há muito tempo, pois aparentemente o faro do MP e da PF só é apurado para farejar gente do partido de Lula. 

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