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Camilo Irineu Quartarollo

Autor de nove livros, químico, professor de química, com formação parcial em teologia e filosofia.

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Desfile cívico-militar

"O que realmente consubstancia e apressa a boa política é a participação consciente do cidadão"

Desfile de 7 de Setembro (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

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No 7 de Setembro de 1980, o governo militar resolveu expulsar o padre italiano Vito Miracapillo. Uma prefeitura de Pernambuco, a de Ribeirão, requisitara o padre no evento cívico-militar, mas o sacerdote não aceitou participar com os sacramentos no cerimonial. O antigo coronel político daquelas bandas, Severino Cavalcanti, denunciou o pároco para que lhe cancelassem o visto no país.

Padre Vito não era capelão militar e conhecia de perto a história do Brasil. Via diariamente o descaso pelos mais pobres de sua paróquia. Era sacerdote de um povo ligado à diocese de Palmares, de lutas diárias para sobrevivência no espírito de Zumbi. A CNBB, com seus 204 bispos, foi unânime em apoiar o pároco e os cardeais da cúria romana, em comunhão com a Igreja no Brasil, recusaram-se a sentar com os embaixadores brasileiros na Itália. Padre Vito foi expulso, mas seus paroquianos não o esqueceram. A lista de padres perseguidos pela ditadura é extensa, alguns mortos nos porões de tortura.

A ditadura enfraquecia, não governava nem a caserna mais. O presidente militar Figueiredo quis encetar a abertura política como “concessão”, que soou bem falso. Enfim, o povo venceu e o esqueceu. Após trinta anos, Pe. Vito volta à antiga paróquia, é recebido com entusiasmo pelas pessoas do lugar de onde partira impedido de levar até as chinelas.

No sete de setembro deste ano de 2023 o desfile foi impecável. Exibições próprias e respeitosas à população. O Zé Gotinha, as crianças, animais, flores, esquadrilhas aéreas, tanques novos, limpos, e sem fumacê. Um desfile ordeiro, sem grosserias golpistas contra pessoas ou poderes da república.

As forças armadas são de estado e devem ser providas em formação, inclusive crítica e humana. Aquele mote de “marcha soldado, cabeça de papel” não serve mais, nem para o exército nem para a polícia. Na guerra contra o Paraguai, o marechal Caxias, para atuar exitosamente até conquistar Assunção unificou soldos, critérios de promoção, proveu uniformes próprios, cavalos e selas aos batalhões e exigiu exercícios e treinamentos regulares. Por meses preparou estrategicamente o cerco e tomada de Assunção. As cartas entre Caxias e D. Pedro dão conta de que, no final, no front paraguaio só havia crianças, mulheres, e algumas destas grávidas e todas de maridos mortos. Caxias diz que “nossos aliados não querem acabar com a guerra, porque com ela estão lucrando e empobrecendo o Brasil”. Sugere ao Imperador a negociar em condições de vencedor, preservar o exército brasileiro e a não destruir o Paraguai, mas Pedro II decidiu pelo extermínio.

A boa política traz questões reais à pauta e insiste. Avança em boas soluções, mesmo que no caminho de paliativos e do mais demorado. É “a arte de tornar possível o necessário”, entretanto, o que realmente consubstancia e apressa a boa política é a participação consciente do cidadão. Vê lá, hein!

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