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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Deu ruim

"Que ninguém ouse chamar de 'tragédia' o desmoronamento de dois prédios na comunidade de Muzema, no bairro do Itanhangá, Zona Oeste do Rio de Janeiro", adverte a jornalista Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia; "Não que o episódio não seja trágico para as famílias das duas vítimas e dos dois feridos na queda dos edifícios, contabilizados até agora. Sim. É tristíssimo. Mas o que houve ali, tal como no rompimento da barragem de Brumadinho (MG), foi crime"

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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia - Que ninguém ouse chamar de "tragédia" o desmoronamento de dois prédios na comunidade de Muzema, no bairro do Itanhangá, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Não que o episódio não seja trágico para as famílias das duas vítimas e dos dois feridos na queda dos edifícios, contabilizados até agora. Sim. É tristíssimo. Mas o que houve ali, tal como no rompimento da barragem de Brumadinho (MG), foi crime.

Tragédia, quer dizer "fatalidade", "adversidade". Aquilo que não podemos controlar. É fruto do inesperado, do infortúnio. É o revés. Tragédia foi o que aconteceu em Fukushima, cidade do Japão, atingida pelo tsunami em 11 de março. Ali, sim. A fúria da natureza incontrolável levou o que encontrou pela frente, provocando uma catástrofe nuclear na central de Fukushima, e deixando quase 20.000 mortos ou desaparecidos.

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Não havia o que fazer diante de tal fenômeno. No Rio o tsunami tem nomes, CPFs e endereços.

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Funciona assim: o governador se propõe a se apropriar de uma montanha de dinheiro que o poder lhe propiciou. Para não delinquir sozinho, e para assegurar que o seu "esquema" funcione, compra meia dúzia de deputados de peso. Esses deputados colocam em seus gabinetes "lideranças" ou pessoas "influentes" em suas comunidades – traduzindo, milicianos – e esses milicianos passam a conhecer todo o funcionamento burocrático, legal e de licenciamento do estado. E, mais que conhecer, passam a manejar a máquina conforme os interesses de seus "negócios" e os de suas famílias e comparsas.

Sim. Todos eles têm "negócios" paralelos para gerir nas suas comunidades e poder. Muito poder. Principalmente o de persuasão. Pelas armas e pelo terror. Não esqueçamos que os milicianos, ou são policiais que fazem "bicos" nas horas vagas, ou são policiais e ex-oficiais expulsos das corporações. Sabem manejar muito bem armas e pessoas influentes.

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Qualquer trabalhador, seja faxineira, porteiro, eletricista, chega para os seus contratantes e recitam a sociologia do crime, dando nomes, localidades onde esse poder atua e o "modus operandi". É de conhecimento geral. Só não sabe quem não quer. E aprende-se rápido a silenciar, como "não entrar" e como "deixar rolar".

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Houve época em que escrevíamos que o Rio estava sob o comando de um poder paralelo. Hoje, o correto seria dizer que o crime é o estado e o estado é o crime. Apodreceu. Deu ruim. Supurou. Um dia ia acontecer. Iria emperrar.

As raposas pularam para dentro do galinheiro e estão no comando. Cada "chefe de gabinete" é uma "liderança" e tem atrás de si um loteamento de votos. Em época de eleição ele passa pelo boteco, ergue o polegar e avisa: "Aí, mermão, estamos com o fulano, é ou, não é?" E quem vai dizer que não?

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Assim, ele garante que o cervejeiro chegue em casa, mande um "papo reto" para a família e os votos estão garantidos. Garantido também está que a área de preservação ambiental seja invadida por construções irregulares, que essas construções sejam vendidas para os amigos, parentes, vizinhos, a preços ao alcance de todos. Assim os que moram "na parte baixa" sobem um degrau na escala da comunidade. Assim eles passam a ter varandas com vidros esverdeados que nem os dos prédios que eles frequentam pela área de serviço, na Vieira Souto.

Só que na Vieira Souto as varandas dão para o mar. Na Muzema as varandas dão para a enxurrada, que com a força que desce, sai levando a nova condição social da família, suas vidas, seus sonhos, e a miserável da tralha adquirida para a nova moradia. Entram para lá quando a construção está no tijolo. Os milicianos, "por dentro da máquina", sabem que é mais fácil demolir a construção do que desalojar famílias. Por isto se apressam em torná-las logo "habitáveis". Sabem tudo da burocracia. Eles são o estado. Só não o são, na hora de enterrar os mortos. Esta conta vai para as famílias.

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