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Boaventura de Sousa Santos

Sociólogo português

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Diário de uma difamação

Um abraço solidário a todos e a todas, um abraço indignado, mas um abraço, um abraço longo, de crença na luta pela verdade e pela justiça

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Santiago do Chile, 12 de Abril de 2023

Caros e caras colegas e estudantes (antigos e actuais),

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Escrevo-vos de Santiago do Chile onde estou para participar na feira do livro. O Centro de Estudos Sociais, eu próprio e alguns dos nossos investigadores acabam de ser vítimas de uma difamação anónima, vergonhosa e vil por parte de três autoras. Uma delas foi bolseira Marie Curie no CES (Lieselotte Viaene), as outras duas, estudantes de doutoramento (Miye Tom e Catarina Laranjeiro).  À partida quero afirmar que todos os casos de conduta incorrecta referidos no texto por parte de quem seja, se confirmados, devem ser prontamente julgados tanto no CES como nas instancias judiciais e como ao tempo era director do CES assumo institucionalmente responsabilidades por eventual negligência que possa ter havido. Apesar de o artigo estar centrado na minha pessoa, nunca tive reuniões com duas das autoras (Miye Tom e Catarina Laranjeiro) e com a terceira, a principal autora (Lieselotte Viaene), tive duas reuniões, uma como seu supervisor do estágio Marie Curie quando chegou ao CES e outra como director estratégico do CES, a pedido do director executivo, para tentar resolver os problemas do comportamento incorrecto e indisciplinado do ponto de vista institucional desta investigadora. O seu comportamento foi de tal ordem insolente e incorrecto que o CES acabou por lhe abrir um processo disciplinar e não aceitou que ela indicasse o CES como instituição de acolhimento num projecto de candidatura ao European Research Council. Esta recusa teve como fundamento o comportamento anterior dela no CES. Em suma, esta investigadora foi expulsa do do CES. Eis o texto de nota de culpa datado de 6 de junho de 2018 “Assunto: Processo disciplinar – Despedimento. À Sra. Doutora Lieselotte Viaene: Tendo sido objecto de um processo disciplinar pelo Centro de Estudos Sociais (CES), é notificada do processo de despedimento que lhe foi levantado (anexo). Comprovados os factos indicados na nota de acusação, entende o CES despedi-la com justa causa. Nos termos do artigo 335 do Código de Trabalho, pode refutar o registo de acusação por escrito, indicando os elementos que julgue relevantes para a clarificação dos factos e da sua conduta. Poderá anexar documentos provatórios considerados pertinentes para o esclarecimento da verdade. Os documentos que dizem respeito a este caso encontram-se na Secretaria do CES com Célia Viseu”

Na minha opinião, que obviamente não compromete a Direcção do CES, de que sou agora apenas Director Emérito, este artigo, no que respeita à sua principal autora, Lieselotte Viaene, é um acto miserável de vingança institucional e pessoal. Como podereis ler no texto publicado, toda a informação caluniosa que me diz respeito é anónima e assente em boatos, ou seja, em “factos” para os quais não é oferecida nenhuma prova ou modo de chegar a ela.

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Em face disto, a primeira questão que se me põe é a perplexidade sobre como é que uma editora respeitável (que tem publicado alguns dos meus livros) deu a lume um texto tão ardiloso, tão mentiroso no que me diz directamente respeito, tão mistificador como este de que vos falo. É um texto que tem uma mistura entre um quadro teórico sólido, retirado da literatura que foi produzida no seguimento do Movimento Me Too, à qual se sobrepõe uma informação empírica assente em referências anónimas, boatos e incidentes não identificados e não provados de maneira a poderem ser contestados. Pergunto-me quem foram os peer reviewers que analisaram este texto? Que tipo de ciência é esta que permite enxovalhar e lançar lama uma instituição de prestígio e especificamente o investigador que foi durante tantos anos seu director?  Sou designado no texto como “Star professor”, uma designação que foi cunhada nos EUA para caracterizar os professores que pelo seu trabalho ou a sua fama auferiam salários imensamente superiores aos seus colegas. Nunca foi esse o meu caso. O que eu fui e com muito gosto o afirmo um caput scholae, um cabeça de escola que fundou há quarenta e quatro anos uma instituição com a colaboração de um dedicado e entusiasta pequeno grupo de jovens investigadores orientada para produzir conhecimento crítico, livre, plural e independente sobre a sociedade portuguesa e sobre a Europa e a suas relações com o mundo, sobretudo o que esteve sujeito ao colonialismo português. Foi essa instituição que cresceu efloresceu ao longo de décadas e que motivou as autores para a escolherem como instituição para prosseguir os seus estudos. Alias, as duas autoras na altura doutorandas, concluíram os seus doutoramentos com a nota máxima. O mesmo sucedeu com a principal autora. Reconheço que devido ao facto de partilhar o meu tempo entre Portugal e os EUA terei desiludido a autora principal quanto à orientação do seu estágio. Mas também é verdade que os bolseiros Marie Curie são em geral muito autónomos e não exigem apertada supervisão. Como quer que seja, nada dito justifica esta diatribe contra uma instituição e ainda por cima tão personalizada contra alguém que no máximo foi absentista na sua orientação. Como se justifica que se arraste para a lama toda uma instituição que na altura em que as autoras a frequentaram já tinha mais de cem investigadores e investigadoras, com perspectivas e centros de interesse que nada tinham a ver com o “star-professor”?

Verifiquei depois estarmos perante um padrão de comportamento.  Entre setembro do ano passado e o corrente mês de abril recebi pedidos de ajuda de estudantes de doutoramento indígenas da Universidade espanhola onde está agora sediado o projecto que o CES decidiu não patrocinar. Sabendo dos problemas que a autora principal tinha causado no CES, pediam-me que as aconselhasse como proceder. Eis o teor dos emails que recebi de uma das estudantes indígenas expulsas do projecto coordenado pela autora principal, eliminando os detalhes que poderiam violar o anonimato: “Estimado profesor, es un gusto saludarle Hemos conversado con los compañeros de otros países y la mayoría de nosotros hemos sido víctimas de la misma persona. Es una larga y triste historia este Proyecto en mi vida y la de los compañeros, por eso nos gustaría conversar con usted. Le escribo hoy, justo porque mi indignación a su histeria envidiosa me conmueve…. Es por demás mi indignación. Hemos vivido muchas situaciones de violencia. Nadie de los compañeros llevó a cabo ninguna situación judicial porque no tenían los recursos económicos y los costes emocionales que requería un proceso judicial. Principalmente porque todos los afectados somos de otros países… Estamos viendo acciones para denunciar el extractivismo epistémico que Lieselotte a través del proyecto RIVERS comete contra los pueblos indigenas. Pero parece que ella es solo impune, esto es frustrante, al mismo tiempo que buscamos caminitos de esperanza para lograr justicia.” (mantenho o anonimato da autora do email mas o seu nome está depositado na direcçao de CES e pode ser revelada se a minha correspondente autorizar).

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É para mim  evidente que o texto difamatório de que sou vítima e a instituição que dirigi durante mais de quarenta anos configura uma intenção de assassinato de carácter que corresponde a um padrão de comportamento bem documentado na literatura e que neste caso se centrou minha pessoa para proceder à vingança institucional.

No que respeita às insinuações que me são feitas quero afirmar que confrontarei qualquer suposta vítima com serenidade e sentido de responsabilidade. Tenho a consciência bem tranquila. Revoltam-me particularmente dois aspectos deste texto  indigno. 

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O primeiro, é o indigno envolvimento dos meus assistentes de investigação que, segundo a autora principal, eu teria explorado ou aproveitado indevidamente. Obviamente que me apoiaram na investigação porque foi para isso que foram contratados. Mas os meus livros fui quem os escreveu. Faculto ao CES o nome de todos os menus assistentes, portugueses, norteamericanos, brasileiros, moçambicanos, angolanos, colombianos que ao longo de cinquenta anos trabalharam comigo, se alguém entender interpela-los. Tenho um grande orgulho em ter trabalhado com todos eles e todas elas. Escrevi muitos livros porque trabalho incessantemente e nunca tive férias, porque amo o meu trabalho e porque tenho uma secretária e uma assistente de revisão de texto, duas pessoas maravilhosas e excelentes profissionais que há varias décadas me acompanham. 

O segundo aspecto que particularmente me ofende e repugna diz respeito aos convívios que durante muitos anos ocorreram depois das minhas aulas no restaurante Casarão. Cito: “Nesta instituição, este tipo de desequilibradas relações de poder ocorria frequentemente sob a forma de eventos sociais como fazendo parte da cultura institucional, tais como jantares em restaurantes e casas particulares, onde se encorajavam relações pessoais mais íntimas entre investigadores de diferentes posições hierárquicas. A regra não escrita é que a seguir às aulas magistrais do Professor-Estrela todos os investigadores se reúnem num determinado restaurante. De facto, numa reunião com a Antiga Pós-doutoranda, o Professor-Estrela a aconselhou-a a ir a estes jantares para melhor se integrar na instituição. À Antiga Doutoranda Nacional o mesmo foi aconselhado por ambos os coordenadores do programa doutoral”. Como nunca promovi festas em minha casa só me posso referir aos convívios no restaurante Casarão. Só mentes perversas podem transformar o mais são convívio entre estudantes e professores e maquiavélicas maquinações de pastores de pobres rebanhos de estudantes. Convido todos e todas a irem ao restaurante ver os quadros de azulejos com os nomes dos estudantes de doutoramento que ao longo dos anos partilharam bons momentos de conversa, leitura de poesia e música. Diz-me o dono do restaurante que ainda hoje vêm estudantes do Brasil mostrar aos seus filhos os quadros onde estão os seus nomes quando eram aqui estudantes. Que perversidade pode transformar uma convivência no mais puro espírito académico em manipulações de consciência e em rituais de fidelidade.!

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São referidos outros casos de conduta incorrecta que dizem respeito a outros investigadores. Em relação a eles estou certo que os investigadores e as investigadoras envolvidas e as vítimas/sobreviventes se as houver encontrarão no CES e nas instituições judiciais vários fóruns para discutir julgar e tirar consequências. A todas e a todos tem de ser dado espeço se explicarem. O CES tem uma estrutura governativa muito descentralizada distribuída por vários dos órgãos. Se houve omissões dos titulares desses órgãos elas devem ser analisadas, avaliadas e corrigidas. 

Independentemente dos procedimentos internos e judiciais  que o CES vier a adoptar, quero informar-vos de que vou apresentar uma queixa crime por difamação contra as autoras. Declaro-me disponível para dar todas as informações e prestar todos os esclarecimentos que me sejam pedidos, quer no âmbito do processo judicial, quer no âmbito dos processos internos, que o CES certamente vai pôr em movimento. 

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Um abraço solidário a todos e a todas, um abraço indignado, mas um abraço, um abraço longo, de crença na luta pela verdade e pela justiça. O CES é uma grande instituição, grangeou merecidamente prestigio tanto nacional como internacionalmente. Os seus investigadores e as suas investigadoras continuarão a lutar por merecer esse prestígio, corrigindo erros, sendo rigorosos e transparentes para com todos os actos de violação de ética profissional e denunciando aqueles e aquelas que, ao ultrapassarem os limites da verdade e da reclamação justa, nos pretendem distrair da nossa missão maior, a de contribuir para a ciência cidadã que é marca da nossa presença no meio académico nacional e internacional.

É esta a minha primeira informação respeitante a este processo de difamação e certamente darei outras informações à medida que se justificar. Deste texto vão ser elaboradas versões em espanhol e inglês.

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