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Nanete Neves

Jornalista e escritora. Depois de uma longa carreira no jornalismo, hoje vive de escrever, editar e ministrar oficinas, além de atuar como editora, leitora crítica e preparadora de originais. É autora do ebook paradidádico Transforme sua vida em livro (2020, Amazon Kindle) e de vários outros livros

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Dilma, o peso de ser mulher

Se fosse um homem em seu lugar, ele seria observado assim tão milimétrica e detalhadamente? Sofreria ele os mesmas agressões torpes e pessoais? Seria alvo de piadas e musiquinhas de mau gosto? É claro que não

Franco da Rocha - SP, 12/03/2016. Presidenta Dilma Rousseff durante sobrevoo as áreas atingidas pela chuva no Estado de São Paulo. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR (Foto: Nanete Neves)
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Semana passada, após a minha primeira colaboração para o 247, recebi alguns cumprimentos, mas também, pela primeira vez na vida, fui agredida na rede. Fui chamada de "míope cerebral", "mortadela" e "desprovida de raciocínio". Isso me fez prestar atenção sobre como o espaço para o debate está desaparecendo, entrando tristemente em seu lugar retaliações desprovidas de raciocínio ou de um mínimo de vocabulário aceitável.

Passei a semana de olhos e ouvidos atentos. Uma amiga foi ao salão e a conversa geral era sobre as manifestações. A filhinha da manicure de uns 5 anos estava por ali e, a certa altura, lhe perguntou: "Você vai pedir o 'impíxi'"? Minha amiga explicou: "Não, vou defender a Dilma". E a menina, incrédula: "Vai defender aquela vaca?".

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Um amigo me contou que, na escola (cara e particular) de seu neto, instruídas pelas professoras, as crianças cantam paródias de rap ou sertanejo universitário com letras ofendendo a moral da presidente, que seu neto fica repetindo ao chegar em casa.

Depoimentos como esses tenho ouvido aos montes, e é de estarrecer o nível de ódio e misoginia destes tempos de agora. Não são críticas pontuais e bem-elaboradas às ações do governo, tratam-se de agressões à figura da mulher que venceu uma eleição para comandar este país. São críticas à sua aparência física, ao seu modo de vestir, caminhar ou se expressar. Chegaram mesmo a usar o seu rosto em imagens obscenas incentivando o estupro. E isso vem de longe. Quem não se lembra do "vai tomar no cu" gritado pela elite econômica brasileira para a presidente na abertura da Copa? E, sim, só quem tinha bolso grande conseguiu pagar os preços estratosféricos dos ingressos.

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Uma mulher de 68 anos que foi torturada, sobreviveu a um câncer, recentemente perdeu bastante peso e, com isso ganhou rugas, que vem tendo de lidar com pressão de todos os lados, puxadas de tapete e traições, mostra na face o resultado do maldito jogo de uma política cada vez mais ignóbil. Não há maquiagem nem modelão que esconda a sua tristeza, a sua força no limite. Mas ela é uma guerreira e segue na fé da verdade triunfar.

E então aqui do meu canto eu me pergunto: se fosse um homem em seu lugar, ele seria observado assim tão milimétrica e detalhadamente? Sofreria ele os mesmas agressões torpes e pessoais? Seria alvo de piadas e musiquinhas de mau gosto? É claro que não.

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Como mulher, sinto cada uma dessas agressões como se fossem pra mim. E encerro com as palavras que o ator Matheus Nachtergaele, semana passada, postou em seu perfil no FaceBook: "A ignorância fere, dói. Em muitos níveis atravessa a justiça das coisas bonitas, dos direitos. Ver nossa presidente eleita nessa situação me deprime demais. O Brasil é um país grosseiro".

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