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Carlos Castelo

Jornalista, sócio-fundador do grupo Língua de Trapo, um estilo sem escritor

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Diminutos

Os concretistas prefeririam o Instagram; Gullar, por oposição, estaria no Linkedin. Mas a recordista de seguidores nas redes sociais seria, sem dúvida, Clarice

FACEBOOK E LITERATURA

Se estivesse no Facebook, Guimarães Rosa seria do tipo que postaria frases enigmáticas. Oswald viveria em meio a bate-bocas intermináveis com os internautas do Twitter. Os concretistas prefeririam o Instagram; Gullar, por oposição, estaria no Linkedin. 

Mas a recordista de seguidores nas redes sociais seria, sem dúvida, Clarice.

LUZINHA

- Três e quinze da manhã! Desliga essa luz, homem.

- Tô procurando o celular.

- Pirou.

- O quê?

- Tá procurando o celular com a lanterna do celular.

- É mesmo!

- Deita.

CONTEMPORÂNEOS

Levou o livro para casa. Antes de iniciar a leitura, o prefácio alertou que era preciso antes conhecer ao menos três peças de Shakespeare. Tinha muita dramaturgia em casa e seguiu a recomendação. Semanas depois voltou ao livro. Um asterisco levava a uma nota em que recomendava-se ler a Divina Comédia, de Dante, para seguir a partir daquele ponto. Ficou meses passeando pelos círculos infernais dantescos até poder retornar à obra. Ao adentrar pelo quarto capítulo, uma anotação: daqui para a frente, para uma completa apreensão da narrativa, estude o Velho Testamento. Fechou o livro, ligou a TV e começou a assistir uma série

IDEIA

Reunir os roteiristas da pior série de TV do mundo e fazê-los assistir, em looping, todos os episódios criados por eles durante uma semana.

QUO VADIS

- Aonde você vai hoje?

- Vou à falência e você?

- À bancarrota.

CARRO DE APLICATIVO

- Então ela abandonou o senhor?

- Sim. É daquelas que bota preço alto na beleza, sabe?

- Sei, parece que mijam pétalas de rosa.

CONTO REALISTA

Já era uma vez um brasileiro.

SINFONIA

- É coda – disse o maestro.

DESLEMBRANÇAS

Saiu de casa e se lembrou que poderia ter deixado a porta destrancada. Já estava a duas estações de metrô de distância, quando resolveu retornar. Chegando, conferiu a porta. Estava fechada. Girou a chave, abrindo-a. Voltou a trancá-la. Saiu. Um quarteirão depois veio a lembrança sobre a janela lateral da sala. Poderia ter ficado aberta. E se chove? Deu meia volta. Examinou não só a janela da sala, que estava fechada, como todas as outras da casa. Agora podia ir a seu compromisso. Pegou o metrô, fez o que tinha de ser feito, e só tornou ao domicílio à noitinha. Na porta havia um caminhão de bombeiros lançando água na parte de trás da sua residência. Perguntou a um dos homens do fogo o que ocorrera. “O descuidado do proprietário saiu e deixou o forno da cozinha ligado”. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.