Diplomacia miserável
É muito simbólico que quando brasileiros voltam a sentir fome, o autor de "Morte e Vida Severina" seja ao mesmo tempo patrono daqueles que vão representar o Brasil e acusado de comunista por quem diz defender uma tal pátria (certamente, os famintos não cabem na "pátria" dos neoliberais e dos neofascistas)
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A turma que se formou essa semana no Instituto Rio Branco escolheu como homenageado ninguém menos que o poeta e diplomata João Cabral de Melo Neto.
Tapa na cara.
Araújo acusou o golpe.
Na formatura dos novos diplomatas, soltou: Cabral de Melo "foi para o lado da esquerda e era a favor de um Brasil sem patriotismo".
É muito simbólico que quando brasileiros voltam a sentir fome, o autor de "Morte e Vida Severina" seja ao mesmo tempo patrono daqueles que vão representar o Brasil e acusado de comunista por quem diz defender uma tal pátria (certamente, os famintos não cabem na "pátria" dos neoliberais e dos neofascistas).
No índex desse desgoverno entrarão tantos...
Serão tantos porque, em um país grassado e desgraçado pela fome e pela miséria, entre escolher fazer uma arte "heróica" e "nacional" ou "não ser nada" (como apostou certo aspirante a Goebbels tropical), artistas que se destacam e se imortalizam são aqueles e aquelas que não se calam.
Enquanto houver fome e desigualdade, "Os retirantes", de Portinari, e "Quarto de despejo", de Carolina de Jesus, serão mais do que obras de arte (o que não é pouca coisa!), continuarão sendo etnografias.
E os temas se misturam porque são capítulos do mesmo realismo fantástico que é a aquarela do Brasil distópico.
Como não relacionar o insulto a Cabral de Melo ao sequestro e assassinato de Ênio Pasqualin, militante do MST-PR?
"É de bom tamanho /nem largo nem fundo /é a parte que te cabe / neste latifúndio / Não é cova grande / é cova medida / é a terra que querias / ver dividida".
Deve ser difícil defender nos espaços internacionais que essa realidade genocida que impera no campo brasileiro incomoda menos do que a arte que a retrata.
É compreensível o incômodo dos neofascistas e dos neoliberais com a arte.
Sua conduta não encontra amparo em "Os estatutos do homem".
Com a palavra, Thiago de Mello:
"Fica decretado que agora vale a verdade (...) Nunca mais será preciso usar / a couraça do silêncio (...) Fica decretado que a maior dor / sempre foi e será sempre / não poder dar-se amor a quem se ama".
Gostar disso é incompatível com ter a mentira como método.
Gostar disso é incompatível com a defesa da tortura.
O pânico que isso causa nos cristãos fundamentalistas é palpável
Isso ofende demais a agenda medieval que Araújo manda nossos diplomatas defenderem
Realmente, para eles, a arte é algo arriscado.
Daqui a pouco, seremos cobrados internacionalmente pelo retorno da fome em nosso país.
Diante da crítica, certamente os neoliberais e os neofascistas gritarão "comunista!"
Daí algum diplomata de outro país, que seja melhor conhecedor da cultura nacional do que esses fascistas vendilhões da pátria, saca Manoel de Barros: "A fome não é invenção de comunistas, titio".
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