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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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Do antineoliberalismo ao pós-neoliberalismo

'O pós-neoliberalismo terá que retomar o papel ativo do Estado, o caráter produtivo dos investimentos, e os processos de integração regional e internacional'

Ato do campo pregressista brasileiro, Bolsa de Valores e notas de dinheiro (Foto: CUT | Reuters | Fotos Públicas)

Desde que o capitalismo aderiu ao modelo neoliberal, o objetivo das forças democráticas e populares é a resistência ao neoliberalismo. Priorizar políticas sociais, fortalecer o papel regulador do Estado, como centro dessas políticas.

A América Latina tornou-se a única região do mundo a ter governos antineoliberais e, por isso mesmo, projetou os principais líderes políticos no mundo neste século, entre eles Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa, Lula, Pepe Mujica, Lopes Obrador, Claudia Sheinbaum, Nestor e Cristina Kirchner, entre outros.

Abriu-se um período de luta de resistência contra o neoliberalismo, como modelo predominante no capitalismo, no período histórico atual. Aqueles governos conseguiram, relativamente, diminuir os efeitos do neoliberalismo e do capital financeiro sobre as economias dos seus países. Desenvolvendo políticas de prioridade das políticas sociais, de luta contra as desigualdades, de fortalecimento da capacidade reguladora do Estado.

Mas o capital financeiro, em sua modalidade especulativa, segue sendo o eixo da economia de países como o nosso. Um capital financeiro que vive das taxas de juros, um capital que não gera crescimento econômico, nem empregos, menos ainda bem-estar social.

Trata-se agora de quebrar o predomínio desse capital, fazendo com que a economia volte a um ciclo longo de caráter expansivo, o que significa deslocar o capital financeiro, em favor de alguma outra forma de capital produtivo. De passar do anti-neoliberalismo ao pós-neoliberalismo, a um outro modelo econômico e a um outro período histórico.

Para tanto, é necessário não apenas quebrar esse papel central do capital especulativo, mas também elaborar o que pode vir a ser um período histórico pós-neoliberal.

O neoliberalismo chegou de forma fulminante, rápida e extensa, chegando a quase todos os países e regiões do mundo. Decretava o fim do papel do Estado como instância central do desenvolvimento econômico. Segundo George Bush, o Estado deixava de ser solução para ser problema.

Que tipo de problema? Bloqueava a livre circulação do capital, promovia a inflação pelos seus gastos excessivos, entre outros efeitos que passaram a ser considerados negativos para a economia, com a hegemonia do neoliberalismo.

A atitude de cada perspectiva em relação ao Estado passou a ser central para definir a natureza dessa concepção. A luta pelo Estado mínimo, a redução do Estado às suas mínimas proporções, passou a ser o embate central para o neoliberalismo.

Javier Milei, o presidente argentino, um dos expoentes do neoliberalismo, chegou a dizer que “Entre a máfia e o Estado, prefere a máfia.”

A resistência ao neoliberalismo não conseguiu, até agora, passar para o pós- neoliberalismo. Este deverá ser um novo período histórico, com características distintas e contrapostas ao anti-neoliberalismo.

Suas características ainda não estão claras. Mas certamente terá que retomar o papel ativo do Estado, o caráter produtivo dos investimentos, a geração de empregos, a prioridade dos processos de integração regional e internacional. Somente os desdobramentos da própria luta contra o neoliberalismo irá definir essa nova etapa histórica.

Seus governos conseguiram diminuir as desigualdades

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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