Do autoritarismo de Temer para o totalitarismo de Bolsonaro
No passado investigavam um cão para atingir Dilma. No presente deixam de investigar uma matilha inteira com medo de se atingir Bolsonaro e demais envolvidos no Golpe de 2016
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No final de 2017, Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da República, determinava a abertura de inquérito policial para apurar as circunstâncias da morte de um cachorro da ex-presidenta Dilma Rousseff, sacrificado aos 13 anos de idade, em 2016, vítima de doença degenerativa.
A abertura deste inquérito rendeu horas e mais horas nos noticiários. A indústria do chamado “fakenews” se deleitava ao caricaturar uma Dilma insensível, autêntica monstra que foi capaz de matar seu animal de estimação.
Isto exigiu de Dilma enorme quantidade de tempo para desmentir seus detratores, tempo valioso que poderia ter sido usado para, por exemplo, debater saídas para a crise (caso fosse interesse de nossas elites). Era mais uma, entra tantas outras jogadas do “lawfare” já institucionalizado contra a esquerda no Brasil.
Este foi apenas um caso, entre tantos outros factoides criados pelo consórcio golpista, que ajuda a entender o que se passa no Brasil. Uma guerra travada no ciberespaço que precisa ser alimentada cotidianamente.
Por outro lado, uma série de denúncias extremamente sérias são simplesmente relevadas pela grande mídia e secundarizadas pelo judiciário.
Gabinetes de deputados federais da oposição ao governo Bolsonaro são invadidos durante sua cerimônia de posse e tudo é tratado com a maior naturalidade. Invade-se, segundo a explicação oficial, para garantir a segurança do presidente e dos próprios parlamentares que tiveram seus gabinetes arrombados. Provavelmente estão todos grampeados, tal como grampearam Dilma durante todo seu governo.
Ontem (03/01), em entrevista ao SBT (uma das emissoras escolhidas por Bolsonaro para levar adiante seu culto à personalidade), o presidente eleito disse que não responde pelos atos do seu “amigo do peito”, seu ex-assessor Fabrício Queiroz, aquele mesmo que fazia depósitos sistemáticos nas contas de seu filho e de sua esposa.
Queiroz faltou duas vezes ao depoimento marcado no Ministério Público Federal para esclarecer as movimentações financeiras, justificando problema de saúde (apesar de ter concedido entrevista ao mesmo SBT) e tudo ficou por isso mesmo. Alguém duvida que se fosse um ex-assessor de Lula ou de Dilma já teria sido buscado coercitivamente num camburão da PF, tal como fizeram com Guido Mantega em um hospital?
A resposta de Bolsonaro a este escândalo, em comum acordo com seu ministro Sérgio Moro, foi simplesmente garantir o decreto que muda o estatuto do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) impondo a censura ao presidente, conselheiros e servidores em exercício do órgão.
A partir de agora eles estão impedidos de manifestarem “em qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento no Plenário”. A previsão da censura era inexistente até hoje. O decreto é o mesmo que transfere o Coaf do Ministério da Fazenda para o da Justiça, onde ficará sob controle e vigilância do Moro.
Roberto Amaral, ex-presidente do PSB e ex-ministro de Ciência e Tecnologia do governo Lula, tem inteira razão quando afirma que "esse governo representa a transição do autoritarismo para o totalitarismo”.
De acordo com Amaral, “isso pode ser feito, como já foi inúmeras vezes, e inclusive com cobertura legal. O que ele precisar modificar, modifica no Congresso – que está aí para isso – e o que precisar legitimar, o Judiciário legitimará, porque também está aí para isso."
É justamente isto que assistimos nos últimos dois anos. Uma avalanche de atos (e omissões) de todos os poderes da República que fingem poder reunificar o país alijando a esquerda do processo eleitoral, mantendo preso o maior líder político vivo da América Latina.
No passado investigavam um cão para atingir Dilma. No presente deixam de investigar uma matilha inteira com medo de se atingir Bolsonaro e demais envolvidos no Golpe de 2016. Trata-se de um retrocesso histórico o que vivemos, sob o mais escancarado totalitarismo de extrema-direita.
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