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Carlos Reis R. Sousa

Professor de Filosofia do Instituto Federal do Maranhão, mestre em Filosofia Contemporânea e autor do livro Diálogo e Direito

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Do manifesto ao protesto

Ainda há tempo para, humildemente, refazer esse manifesto, passando dessa tentativa caótica de união de pessoas para uma ação organizada de consciências que sabem que o presente e o futuro político do Brasil dependem de uma reconstrução do passado, marcado por injustiças, não apenas para Lula e Dilma, mas para a maioria do povo brasileiro

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Mesmo sem buscar revitalizar a polêmica em torno do Manifesto Estamos Juntos, nem alimentar fraturas entre membros de um mesmo corpo político, convém resgatar algumas células desse debate que considero essenciais. A primeira diz respeito à falsa ideia de humildade que foi utilizada nessa discussão. Digo falsa porque, de modo geral, os defensores do documento, criaram um jogo falacioso do apelo à maioria, isto é, procurando vender a ideia de que ninguém poderia ser contra uma iniciativa aparentemente de todos. E assim busca-se nas massas o entendimento de que aquele que não assinou o texto é arrogante. Ora, ao invés de acusar Lula, Requião e outras lideranças políticas de personalistas não seria mais democrático e digno de humildade refazer o manifesto para incluí-los? Essa não seria uma atitude que, de fato, faria jus ao título do documento? 

O segundo aspecto que precisa ser analisado é se esse movimento não seria um braço amigo a  estratégia em curso que chamo de AAQ: Apaga a esquerda, Acende a direita neoliberal e Queima a extrema direita. Não colocar nesse documento os termos fundamentais da luta da esquerda, como a crítica aos ataques aos direitos dos pobres em reformas brutais, é uma real contribuição a invisibilização da esquerda. A ausência do Fora Bolsonaro não seria uma contribuição com o desgaste programado do presidente sem desgastar a pautas das atrozes reformas?

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Contudo, o manifesto traz, no entremeio, resíduos de pautas populistas, xodó da direita matreira, como combate a corrupção, lei e ordem, responsabilidade econômica e união da pátria. Não estamos negando a importância dessas temáticas, porém se trata de termos utilizados na campanha de 2018, no alvorecer da Lava Jato, para capturar votos da massa despolitizada, em que a narrativa de combate à corrupção era preferida mais pelo valor estético que pelo sentido ético-político, configurando assim uma propaganda lavajatista-neoliberal. 

O terceiro elemento digno de debate é a fraqueza política do Manifesto, uma vez que está ancorado no generalismo de termos iluministas a exemplo de verdade, ciência e liberdade. A fortaleza do documento estaria na ousadia de transcender as intencionalidades e os desejos de cidadãos virtuosos, que subscrevem o documento, para alcançar um protesto contra as atitudes do governo Bolsonaro. Ao invés da defesa abstrata da ciência, deveria apontar a saga do presidente contra o isolamento social; ao invés de falar genericamente da verdade, deveria apontar o uso de Fake News por parte do governo Bolsonaro; da liberdade em conceito puro, deveria apontar concretamente a participação do presidente em manifestações que clamavam por ditadura, sem ignorar a violência da Operação lava jato que atentou contra a liberdade de Lula e outras lideranças políticas.  

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Portanto, salvaguardando as boas intenções dos idealizadores do Estamos Juntos, ainda há tempo para, humildemente, refazer esse manifesto, passando dessa tentativa caótica de união de pessoas para uma ação organizada de consciências que sabem que o presente e o futuro político do Brasil dependem de uma reconstrução do passado, marcado por injustiças, não apenas para Lula e Dilma, mas para a maioria do povo brasileiro, que foi saqueado por reformas violentas contra direitos historicamente conquistados. Portanto, que passemos do manifesto ao protesto para responsabilizar Bolsonaro pelos estragos às vidas humanas nessa pandemia. 

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