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      Lelê Teles

      Jornalista, publicitário e roteirista

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      Dois presos, duas medidas

      Nunca vamos assistir ao linchamento de um bandido branco e rico, porque para esse sempre haverá um psicólogo a justificar suas diabruras, uma mídia amiga e uma sociedade pronta a passar a mão na sua cabeça

      Nunca vamos assistir ao linchamento de um bandido branco e rico, porque para esse sempre haverá um psicólogo a justificar suas diabruras, uma mídia amiga e uma sociedade pronta a passar a mão na sua cabeça (Foto: Lelê Teles)

      Uma imagem, mil palavras.

      Rio de Janeiro.

      Dois crimes cometidos com arma branca. Duas detenções e dois brasis.

      O garoto da esquerda tem 16 anos, é morador de Manguinhos, uma favela. Foi acusado de ter matado, a facadas, um médico na Lagoa Rodrigo de Freitas.

      Como se tratava de pobre matando rico, houve comoção nacional.

      O garoto negou o crime. Mesmo assim, teve as mãos algemadas, para trás, e foi escoltado por três marmanjos, dois deles o erguiam pelo colarinho, aplicando uma força desnecessária e cruel.

      O espetáculo visava, apenas, humilhar o detido.

      Inocente, diga-se.

      O da direita é bandido, confesso, tem 28 anos, é branco e rico. E isso muda tudo.

      Veja como ele é conduzido pelo policial. O agente toca no braço do bandido com suave delicadeza.

      Parece constrangido por ter que fazer o seu trabalho.

      O garotão, um homem de bens, tem oito passagens pela polícia por lesão corporal, invasão de domicílio e constrangimento ilegal.

      Tem fama de ser violento.

      No sábado, o garotão, de nome José Philipe Ribeiro de Castro, foi preso por atingir uma jovem, de 21 anos, com três golpes de saca-rolha na altura do peito.

      A moça está na UTI.

      O noivo tentou defendê-la e teve a orelha decepada por José Phillipe, o garotão.

      O crime aconteceu neste sábado, na Gávea.

      O jornal O Globo informa que a família do garotão é "dona de uma usina de açúcar e faz negócios no ramo da pecuária e no mercado financeiro."

      Ele está sendo atendido por um famoso escritório de advocacia.

      Ninguém até agora o chamou de monstro insensível, ninguém pediu a sua morte, como pediram a do garoto pobre.

      Nada de Sheherazades.

      A criminalização da pobreza, o ódio e o desprezo pelos pobres é uma estratégia dos homens de bens. É uma forma de manterem os seus privilégios e continuarem sendo violentos, arrogantes e hipócritas, sem serem incomodados.

      A estratégia é mostrar que violento é sempre o outro. Tanto é que "homens de bens" virou sinônimo de "homens de bem".

      Nunca vamos assistir ao linchamento de um bandido branco e rico, porque para esse sempre haverá um psicólogo a justificar suas diabruras, uma mídia amiga e uma sociedade pronta a passar a mão na sua cabeça.

      Quando o poderoso Thor atropelou um homem pobre com a sua máquina fetiche, havia muita gente disposta a acreditar que o ciclista é que tinha atropelado a Mercedez.

      Mesmo os pobres fizeram graça com o crime de Thor, nada de ódio.

      Assim como as crianças ricas são educadas para dar ordens e desprezar os pobres; os pobres foram ensinados a ser condescendentes com os ricos.

      A morte do médico, na Lagoa, mobilizou jornais e revistas, e mobilizou a burguesia que pedia punição exemplar e cana dura para todo adolescente pobre que cometer um crime.

      Mas até agora, nem um julgamento moral sobre Phillipe.

      Os advogados disseram que já estão trabalhando para libertá-lo.

      No episódio da Lagoa, Big Foot, o governador midiático, resolveu proibir que até vendedor de laranja ande com uma faca.

      Resta saber se agora vão proibir, também, o uso de saca-rolhas em casa de vinhos.

      Palavra da salvação.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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