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Pepe Escobar

Pepe Escobar é jornalista e correspondente de várias publicações internacionais

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Donetsk, Avdeyevka, Mariupol – na estrada nas eleições do Donbass

'Eles esperaram dez longos e sofridos anos para votar nestas eleições. E votaram no líder político que os levou de volta à Mãe Rússia', diz Pepe Escobar

Putin na Semana Energética Russa, Moscou, Rússia 11/10/23 (Foto: Reuters)
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Acompanhar o processo eleitoral russo em operação no Donbass foi, ao mesmo tempo, uma lição de humildade e uma experiência reveladora. De forma explícita, à nossa frente, todo o peso da implacável campanha de difamação movida pelo Ocidente Coletivo foi instantaneamente engolida pelo rico solo negro da Novorossiya. A organização impecável, a total transparência da votação, o entusiasmo dos que trabalhavam nas sessões eleitorais e dos eleitores pontuaram a gravidade histórica desse momento político, envolvido por uma atmosfera impalpável de júbilo silencioso.

Essa eleição, obviamente, foi um referendo. O Donbass representa um microcosmo da sólida coesão interna dos cidadãos russos em torno das políticas da Equipe Putin – que compartilha o mesmo sentimento da maioria esmagadora do Sul Global. A vitória de Vladimir Vladimirovich Putin foi uma vitória da Maioria Global.

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E é isso que vem provocando ataques apopléticos na ínfima Minoria Global. Com o maior comparecimento desde 1991, os eleitores russos infligiram uma maciça derrota estratégica aos pigmeus intelectuais que passam por "lideranças" ocidentais – talvez a classe política mais medíocre dos últimos cem anos. Os russos votaram por um sistema mais justo e mais estável de resistência internacional, pela multipolaridade e pela verdadeira liderança de estados-civilização como a Rússia.

A votação de 87% de VVP foi seguida, muito atrás, pelos comunistas, com 3,9%. Isso é bastante significativo, porque esses 91% representam a total rejeição do "futuro" plutocrático globalista proposto no "Grande Reset" de Davos antevisto pelo 0,001%.

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Avdeyevka: votação em meio à devastação total - No segundo dia da eleição, na seção 198, no centro da cidade de Donetsk, não muito longe do Palácio do Governo, era possível ter uma visão geral da fluidez e da transparência do sistema – mesmo Donetsk não tendo sido poupada dos bombardeios, em fins da tarde e começo da noite do último dia da votação.

Em seguida, uma estratégica parada para reabastecer em um minimercado do bairro. Yuri, um militante, comprava uma carga de ovos frescos a serem transportados para os civis famintos que ainda permanecem em Avdeyevka. Dez ovos custam o equivalente a um dólar e quarenta centavos.

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Em Yasinovata, bem próximo a Avdeyevka, visitamos a MBOU, ou escola nº 7, impecavelmente reconstruída após bombardeios incessantes. A diretora, Ludmilla Leonova, uma mulher extraordinariamente forte, me conduz em um tour da escola e de suas salas de aula de química e biologia, novas em folha. Um primoroso alfabeto soviético decora a sala de língua russa. As aulas, espera-se, recomeçarão no outono.

Próximo à escola foi construído um centro de refugiados para os que foram trazidos de Avdeyevka. Tudo brilha de tão limpo. As pessoas são registradas, incluídas no sistema e então esperam por documentos oficiais. Todos querem conseguir um passaporte russo o quanto antes.

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No momento, elas estão alojadas em dormitórios para 10 pessoas cada. Alguns, milagrosamente, chegaram de Avdeyevka em seus próprios carros: há algumas placas ucranianas nas redondezas. Invariavelmente, a expectativa geral é a de voltar a Avdeyevka assim que começar a reconstrução, para refazer suas vidas em sua cidade natal.

Então, pegamos a estrada para Avdeyevka. Nada, absolutamente nada, nos prepara para nos confrontarmos com a total devastação. Em meus quase quarenta anos de correspondente estrangeiro, jamais vi algo parecido – nem mesmo no Iraque. Na entrada oficial de Avdeyevka, ao lado do esqueleto de um prédio bombardeado e dos restos de uma torre de tanque, bandeiras de todos os batalhões militares que tomaram parte na liberação tremulam ao vento.

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Todos os prédios de todas as ruas estão pelo menos parcialmente destruídos. Uns poucos moradores que permaneceram na cidade se reúnem em um apartamento para organizar a distribuição de gêneros de primeira necessidade. Encontro um ícone milagrosamente preservado atrás da janela de um apartamento térreo destruído pelas bombas.

Drones FPVs circulam por cima de nossas cabeças – detectados por um aparelho manual, e nosso acompanhante militar está em estado de alerta total. Descobrimos, ao entrar em um apartamento térreo que vem sendo mantido como um mini-depósito de alimentos – doações vindas de Yasinovata e dos militares – que aquele mesmo apartamento, pela manhã, foi convertido em uma seção eleitoral. Foi lá que votaram os poucos moradores que permanecem em Avdeyevka.

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Um homem quase cego andando com seu cachorro explica por que não pode ir embora: ele mora nessa mesma rua, e seu apartamento ainda está habitável, apesar de não ter água nem eletricidade. Ele explica que os ucranianos estavam ocupando todos os apartamentos da rua – convertendo os moradores em refugiados ou reféns alojados em porões, e em seguida, por insistência dos russos, realocados para escolas e hospitais das redondezas até finalmente conseguirem fugir.

Os porões são um pesadelo. Não há praticamente luz nenhuma. A temperatura é pelo menos 10 graus celsius inferior à do nível da rua. É impossível imaginar como eles sobreviveram. Um outro morador passeia despreocupadamente em sua bicicleta, cercado de esqueletos arruinados de concreto. Os grandes estrondos – a maioria deles de dentro para fora – são incessantes.

Então, em meio à total devastação, uma visão: a elegante silhueta da Igreja de Maria Madalena, imaculadamente preservada. Dmitry, o zelador, me mostra o lugar: uma bela igreja, as pinturas do teto ainda brilhando à pálida luz do sol, um esplêndido candelabro e a nave ainda virtualmente intactos.

A renascença de Mariupol - Passamos o último dia da eleição em Mariupol – que está sendo reconstruída a uma velocidade alucinante: a nova estação ferroviária acabou de ser concluída. A votação corre tranquilamente na escola nº 53, no distrito residencial 711. Um belo mural por trás da urna retrata as cidades irmãs de São Petersburgo e Mariupol, com as lendárias Velas Escarlate da história de Alexander Green bem ao meio.

Revisito o porto: cargas internacionais ainda não chegam, apenas navios vindos da Rússia continental. Mas o primeiro acordo foi assinado com Camarões – frutas em troca de metais e produtos manufaturados. Diversos outros acordos com países africanos estão no horizonte.

A igreja Pakrovska, um marco de Mariupol, está sendo cuidadosamente restaurada. Fomos muito bem recebidos pelo Padre Viktor, que está oferecendo um almoço para um grupo de pessoas da paróquia, e uma boa conversa se segue, indo do Cristianismo Ortodoxo até o Declínio do Ocidente e a agenda LGBT.

Subimos no telhado e caminhamos em torno de uma passagem balaustrada que oferece uma vista espetacular de 360 graus de Mariupol, seu porto, a usina siderúrgica destruída e o Mar de Azov russo ao fundo. Os maciços sinos da igreja tocam – como em uma metáfora para a ressureição de uma bela cidade que tem o potencial de vir a se tornar uma espécie de Nice do mar de Azov.

De volta a Donetsk, a ida a uma escola/museu "secreta" a apenas dois quilômetros da linha de fogo – que visitei pela primeira vez no mês passado – teve que ser cancelada: Donetsk continua sob bombardeio.

Pensado em Avdeyevka, bem como nos bombardeios que se recusam a cessar, vêm à mente algumas poucas perguntas sobre números durante a longa viagem de carro de 20 horas de volta a Moscou.

Na Chechênia, liderada pelo hiperpatriota Kadyrov, o comparecimento foi de 97%. E nada menos que 99% votaram em VVP. Portanto, diferentemente de como foi no passado, esqueçam qualquer tentativa de revolução colorida na Chechênia.

O mesmo padrão se verificou no Cáucaso, na região de Kabardino: o comparecimento foi de 96%. E nada menos que 94% votaram em VVP.

Entre o Kazaquistão e a Mongólia, em Tuva, o comparecimento foi de 96%. E 95% votaram em VVP. Na Yamal-Nenets autônoma, o comparecimento foi de 94%. Mas VVP teve "apenas" 79% dos votos. No Lago Baikal, Buryatia, registrou um comparecimento de 74% e 88% dos votos para VVP.

O ponto-chave continua sendo Moscou. O comparecimento, comparado a outras regiões, foi relativamente baixo: 67%. Bem, Moscou ainda é em grande parte ocidentalizada, e em diversos aspectos ideologicamente globalista – e portanto mais crítica que outras partes da Rússia quando se trata de ênfase patriótico.

O que nos leva à questão central. Mesmo com a retumbante vitória do Sr. 87%, eles jamais desistirão. Se houver uma mínima chance de uma estratégia de Guerra Híbrida vir a alcançar sucesso, provocando uma revolução colorida, o palco será Moscou. Bem patético, na verdade, se comparado às imagens do último domingo, do Sr. 87% saudado por uma Praça Vermelha superlotada como se fosse o maior de todos os astros do rock.

O Kremlin não vai correr riscos. Putin se dirigiu ao Serviço Federal de Segurança (FSB) e foi direto ao ponto: tentativas de semear discórdia interétnica – como prelúdio de revoluções coloridas – têm que ser rigorosamente suprimidos. O FSB subirá o tom: os traidores serão identificados pelo nome e serão processados por crime imprescritível.

Após a euforia eleitoral, ninguém realmente sabe o que acontecerá em seguida. Tem que ser algo imensamente significativo, honrando a histórica e acachapante vitória de VVP nas urnas. Ele agora tem carta branca para fazer seja o que for. Prioridade número um: acabar de uma vez por todas com o vira-latas terrorista criado pelo Hegêmona que há dez longos anos vem atacando a Novorossiya.

Tradução de Patricia Zimbres

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